[ONESHOT] FIM DE ANO - FALANDO DA DISTROFIA MUSCULAR

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Adriel

Fim de ano, festa, comida, bebida, diversão, fogos, jogos, copos e mais copos... Família, amigos, colegas, parentes, irmãos, conhecidos, companheiros, fofoqueiros...

Mais uma vez aqui estou. Observando a tudo, sendo cercado por vários, tendo muita atenção, é verdade, chegando a beirar o desnecessário.

Sabem – eu ainda posso respirar sozinho! Posso pensar por conta própria. Posso falar quando eu quiser, ouvir o que eu quiser, tatear, cheirar; eu estou vivo!

"E como você está?" "Como está o comportamento de seus pais para com você?" "Está precisando de alguma coisa?" "Quer se levantar?" "Quer se sentar?" "Quer andar por aí?" "Quer conversar sobre os seus sentimentos?" "Quer comer alguma coisa?" "Quer beber algo?" "Se precisar, eu posso te ajudar"... – Todas estas são frases que ouço sempre que estou em um evento como este.

A maioria pensa que eu passo por problemas depressivos severos, reflexo talvez de meu mau humor quase que constante.

Parece que ficam surpresos quando me vêm, afinal, boa parte deve esperar que eu já não estarei vivo para participar da próxima festa. Eu sei que cada vez que alguém mais próximo liga para outro, eles imaginam que seja para relatar de minha ida... Então eu penso: como eu não poderia ficar de mau humor com toda essa situação?

Mas, eu não sei... Os olhares parecem mais perturbadores, principalmente após me verem negar beber qualquer dos líquidos com álcool. Há muito tempo que sou muito calado, talvez eu esteja mais. Também não quero ficar nesta festa escrevendo... Isso realmente é estranho. Soa mais estranho do que qualquer estranheza que os demais estranhem. Também não estou de tão mau humor como outrora.

Ainda assim me sinto ofegar com mais frequência. Sei que meus batimentos cardíacos estão mais acelerados do que antes. Tem sido quase que normal eu passar por sintomas de febre, à noite, quase toda a semana também.

Levantar-me não tem sido fácil... Claro que, quando menciono "levantar" quero dizer "abrir os olhos" e me impulsionar para frente e para cima, a fim de tentar me sentar. Eu costumava conseguir fazê-lo facilmente, mas meu corpo me parece cada vez mais pesado para as minhas débeis forças, embora a balança revele que eu nem tenha tanto peso quanto meu cérebro diz.

Ah, meu cérebro... Ele parece estar em perfeito estado, mas deve estar um pouco irritado, afinal, não deve estar recebendo muito boas respostas vindas dos meus órgãos. As informações ele emite normalmente, mas nem sempre o que ele pede é possível de se cumprir.

Eu nunca havia me interessado por dançar. Na verdade, só ao pensar nisso eu já me sinto fatigado. E mesmo que minha condição cardiovascular estivesse 100%, minha coordenação nunca me permitiu tal feito... Ah não! Eu não vou rir agora... Só ao pensar no ato da dança quase que esbocei um sorriso, logo o suprimi é claro. Não é bom atrair mais atenção, até porque, se assim a atraísse seria um ponto negativo para mim.

Reclamar mais eu poderia, mas pelo menos eu ainda consigo andar sozinho. Meus tornozelos não estão contraturados ainda. Porém, me preocupa o fato d'eu não conseguir esticar os joelhos totalmente sem a ajuda da gravidade – sendo assim, não parece que meus joelhos estão se deformando quando estou em pé ou andando, mas eles estão.

Todos costumam demonstrar preocupação por mim, enquanto demonstro o oposto; mas, na verdade, há mais questões que têm me incomodado ultimamente.

As vezes desperto a noite com falta de ar. É como se eu sentisse que tapassem minhas narinas e boca, ou ainda pior, que me esganassem.

Estou ficando preocupado. Minha urina tem saído mais escura do que o normal. Também tenho sentido algumas dores no estômago, alguma queimação... Tenho sentido meu espírito um pouco mais inquieto, inconstante, não tão calmo e alheio quanto antes. Começo a achar que meu estado está afetando significativamente meu emocional.

É estranho... Eu? Preocupado?

Alivio-me ao ver que Natiel está muito bem. Aparentemente sua condição de debilidade muscular não tenha afetado seu coração e pulmões. Posso perceber isso agora, neste momento festivo, afinal ele está rindo e pulando ao mesmo tempo.

Quando eu tinha a idade de "Tôca" eu já não conseguia executar duas tarefas tão exaustivas ao mesmo tempo. Na verdade, eu não me lembro de conseguir pular sem me desequilibrar, de andar de bicicleta pedalando em pé nela, de rir a ponto de gargalhar... Embora acredito que, ainda que eu esteja sentado, com as costas encostadas no encosto da cadeira, pés apoiados no chão e braços apoiados na mesa, eu não conseguiria rir tanto sem que não tivesse um descompasso cardíaco.

Pois é...Minha crosta foi criada para me proteger e aos demais. Meu mau humor não tem a ver diretamente com a doença que há tanto tempo tenho e tem evoluído. É uma reação humana minha. Apesar das preocupações, é bom perceber que ainda sou humano.

No entanto eu estou preocupado... Minha maior preocupação agora é exatamente em assim estar. Não que eu quisesse morrer antes, mas agora tudo parece diferente. Sinto mais medo da morte... mais a cada dia. Será que é um anúncio de que ela já está chegando?

– Sem escrever... Sem beber... Sem reclamar... Atendendo a todos bem... O que há com você "Gado"?

Daniel estava lá, é claro. Ele tinha que aparecer! Ele tinha que me interrogar! Enfim, era melhor ele do que qualquer outro enxerido ou pior ainda, melhor ele do que Natiel. "Bruaco" era inteligente, mas "Tóca" era bem mais reparador. Por sorte, ele estava e estaria ocupado pelo resto da noite para se atentar a mim.

– Não há nada – respondi sem fita-lo.

– Sei não... – Insistiu Daniel. – Você está diferente. O que está havendo?

Eu suspirei. Ele sabia que eu não era de conversar muito e nem o faria naquela noite... Ele logo desistiria.

– De qualquer maneira – continuou ignorando a própria pergunta – o ano não foi tão ruim para nós, certo?

Franzi o cenho agora olhando para ele. O que estava querendo dizer com aquilo. Daniel foi em busca de algo em um dos bolsos da calça. O celular! Pegou o celular e me entregou, dizendo:

– Tem uma mensagem de felicitações aí para você. Talvez te anime um pouco...

"Bruaco" entregou o aparelho para mim e se retirou sem dizer mais nada, expressar ou fazer qualquer outro gesto. Ainda o acompanhei com o olhar, mas ele logo se enturmou e saiu de minha visão. Foi então que eu deixei o celular escorregar por três vezes de tão eufórico que estava para ver a dita mensagem. Eu estou preocupado comigo...

Tentei controlar as emoções e tentar não tremular tanto. Estava difícil... Enfim, controlando a euforia, ou tentando, consegui visualizar a mensagem. A li uma, duas, três vezes e só percebi que estava sorrindo porque fogos de artifícios me despertaram. É... já era! As pessoas a minha volta poderiam até pensar que eu estava ficando louco e pretender me internar novamente (1) *... Talvez não estivessem de todo erradas. Eu acho que estou mesmo ficando louco!

Estou preocupado comigo...

"Nos pensamentos de Adriel veio a imagem de Estela."

FELIZ ANO NOVO

(1) Adriel já esteve internado em uma clínica psiquiátrica. Mais a respeito poderá aparecer em breve.

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Love is in the air... 

Eu falei que viria e me esforcei para vir. Infelizmente, não consegui continuar a história nesses dias, mas apareci com um conto especial. Sei que vocês amam Adriel e espero que tenham gostado deste. Semana que vem - novo ano - voltaremos com "Debilitado" e mais sobre essa "preocupação" de Adriel e confusão de Estela e suas turmas. Espero por vocês!!!

EXCELENTE PASSAGEM DE ANO A TODOS!!!

DEBILITADO - Livro 1 [COMPLETO] - Trilogia dos irmãos AmâncioWhere stories live. Discover now