Capítulo Quatro

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Em revisão... 


Liara

- Hum... – Foi o som que a Valentina fez quando eu abri as cortinas do quarto dela na manhã de domingo. Manhã não... Era meio dia. Ainda dei um tempo para que ela dormisse.

- Acorda mocinha, temos que ter uma conversa.

- A não mãe, a essa hora não.

- A essa hora Valentina? Há essa hora nós estamos quase no meio do dia. E olha só o que eu vi na rede social de uma amiguinha sua... – Ela abriu os olhos e viu a foto dela beijando do tal do George.

- Mãe isso foi uma brincadeira. Nada de mais.

- No meu tempo isso se chamava beijo.

- No nosso também. Mas não é nada sério.

- Não tem noção do que está dizendo Valentina. O Beijo é muito íntimo. Não é uma coisa que a gente saia por aí fazendo dizendo que é coisa atoa. Você precisa confiar na pessoa a qual se beija, meu amor.

- Eu confio no George.

- Filha presta atenção...

- Mãe... Tudo que eu te disser você não vai ouvir, porque ele já fez sua cabeça.

- Ele quem? De quem você está falando desta forma?

- Meu pai. – Fez ar de impaciente.

- Deixa eu te falar uma coisa minha filha, seu pai não disse uma palavra de como se sente a respeito de tudo isso. Mas eu posso te afirmar que todas as vezes que ele se silencia para mim é como se uma flecha atravessasse meu peito e sabe por quê?

- Tenho certeza que irá me dizer.

- Valentina não brinca comigo. – A menina estava se sentindo no direito de me responder como bem entendesse.

- Está bem.

- Seu pai está decepcionado com você. E para mim é uma das piores dores que se pode causar em alguém é isso, decepção. Saber que a pessoa confiava em você e agora não confia mais.

- E você não pode falar com ele. – O que ela estava querendo agora? Que eu limpasse sua barra?

- Falar com ele? Falar o que com seu pai?

- Sobre o George e eu? Ele sempre te ouve e...

- Você não entendeu o que eu vim te dizer? Ou está se fazendo de boba?

- Mãe.... Você é supermoderna e descolada. Minhas amigas todas dizem o quanto gostariam de ter uma mãe como você. Não acredito que agora estará se opondo em ao meu namoro, porque ainda não tenho quinze anos.

- Não é a idade Valentina. Estou me opondo ao seu namoro por que achamos que você era, mas pelo que fez acabou de confirmar que não tem maturidade.

- Mãe...

- Mãe? Não tem mais mãe. – Fui até a janela e olhei para a vista que dava para a cidade, disfarçando a vontade que eu tinha de chorar, por estar tendo essa conversa com minha filha. Depois me sentei na cadeira da mesinha do computador e me virei para ela.

- Poucos dias atrás Valentina, estávamos no tribunal, acusando um rapaz de violentar, e matar sua namorada de treze anos. O detalhe... Ela estava grávida e ele não queria assumir o namoro e muito menos a criança, porque isso iria manchar o nome dele, e ele perderia as chances de se eleger vereador em nossa cidade. Ele tinha vinte anos. E ela. Ela, era só uma criança. Ele não tinha o direito de fazer o que fez. Mas durante o processo eu percebi que os pais mal sabiam sobre a menina. Disseram que ela não vinha em casa a mais de uma semana. Mesmo assim fiz minha parte. E mesmo assim os pais fizeram sua parte e vibraram com o desfecho do caso.

Ela se mexeu na cama, mas continuou com os olhos fixos sobre a colcha. Como se tivesse analisando sua situação.

- Minha mãe não cuidou de mim conforme eu pude cuidar de vocês. Ela teve que trabalhar duro para mandar dinheiro para ajudar minha tia a cuidar de mim, e quando era meu aniversário, ela aparecia. Trazia uma boneca, mas muitos natais eu passei sem minha mãe, e tudo isso para que eu sobrevivesse. Então eu comemorava, natal e ano novo no dia do meu aniversário. Ela me trazia uma boneca. Sempre... E era a mesma boneca.

- Você devia falar para ela que já tinha trago a boneca.

- Não me importava com a boneca Valentina, me importava com a presença da minha mãe. As bonecas eu guardava, até porque não tinha muito tempo para brincar.

- Não entendo então o que isso tem a ver comigo.

- Não entende? Então deixa eu te explicar melhor. Você teve tudo e foi isso que te fez mal. Não dá valor as coisas ou as pessoas. É egoísta e mimada. Por isso se atreveu até a mentir.

- Eu não menti.

- Claro que mentiu. Festa do pijama não envolvem meninos. E nem é na verdade uma festa. E você pelo jeito estava em uma festa. Eles têm dezesseis e dezessete anos e acaba de completar quatorze.

- Dois anos, não farão diferença.

- Um segundo faz a diferença. Portanto vamos aos nossos combinados.

- Combinados?

- Sim... Não quer ser adolescente, mesmo ainda estando na pré-adolescência?

- E o que seria estes combinados?

- Primeiro... Ficará sem celular.

- O quê? Mãe está louca? Quem vive sem celular hoje em dia?

- Você vai aprender. Fui ter um celular quando conheci seu pai.

- Não é justo.

- Não é justo o que fez com a gente também.

- Continuando...

- Continuando o que?

- Os combinados. – Ela cruzou os braços na frente do peito. - Usará o computador só para trabalhos. Sem internet. Poderá usar a internet uma hora por dia.

- Não acredito. Parece meu pai lendo as sentenças de seus réus.

- Encare como quiser. A partir de hoje arrumará seu quarto. A arrumadeira não virá aqui. E eu exijo o padrão de sempre.

- Nunca fiz isso. Como vou saber o que fazer?

- Use sua hora de internet e descubra. Tem mais. A partir de hoje, seu cartão de crédito está limitado. Se pensa ser responsável o suficiente para sair beijando por aí é responsável por administrar seu próprio dinheiro. Terá uma mesada mínima. E quando eu digo mínima é mínima mesmo. Eu mesma vou estipular depois e te falo quanto tem por mês.

- Meu pai sabe disso? Foi ele?

- Acha que seu pai faria isso? Acha que ele teria a capacidade de ser justo com você?

- Não. E ele não vai deixar você me punir assim. Te odeio.

- Nós te amamos!

Fechei a porta e sai. Se eu ficasse mais um minuto no quarto choraria com ela. E voltaria a deixar que ela fizesse de tudo. Ela veio correndo gritando pelo pai. Foi até o quarto e até o escritório.

- Onde está meu pai, quero falar com ele.

- Seu pai foi correr, espairecer a cabeça e aliviar o coração.

- Eu quero meu pai. – Se abaixou na parede fazendo maior drama. Era sempre assim quando um dizia uma coisa que ela não concordava ela fazia um drama. E a gente acabava cedendo. Mas desta vez seria diferente.

Deixei-a lá chorando até que parei de ouvir o choro. Ela devia ter ido para o quarto. Um pouco disso foi a vontade do Cairon ter um filho. E quando ela nasceu cheia de problemas e muito pequena, nós achamos que precisávamos nos desdobrar para cuidar dela e não deixar que nada faltasse. E hoje é o que colhemos.

A Esposa do Juiz - RepostagemМесто, где живут истории. Откройте их для себя