Capítulo 9

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Sem correção...


Cairon

- Está louco de me chamar para correr à uma hora desta? O que houve? A Liara está te deixando de quarentena?

- Sua afilhada voltou.

- Então devia estar feliz.

- Estou. Mas tive que ser duro com ela e agora meu coração está em pedaços. Tive que sair de casa para que não me visse chorando.

- Te entendo. Lá em casa quando preciso chamar a atenção também fico mal.

- Mas o caso da minha filha é pior. Terei que me manter firme e se eu olhar para ela acabou. Mas ela tem que crescer Murilo. Carreguei a Valentina mais que o tempo que o permitido pelos psicólogos.

- Eu não sabia que este tempo existia. - Sentamos no caminho.

- Existe, você pode carregar o bebê para ajudá-lo até certo ponto. Depois ele tem que aprender a caminhar e a levantar de seus tombos. Caso contrário se tornará um adulto que não sabe resolver seus próprios problemas.

- Nossa... Não sabia disso. Não seja muito duro consigo mesmo Cairon. Isso é coisa de adolescente mesmo.

- Não posso deixar as coisas simplesmente acontecerem por serem adolescentes Murilo. Depois da adolescência tem a juventude e a fase adulta. Se não souberem se comportar agora, como se comportaram quando estiverem nas fases seguintes?

- Isso, mas...

- Quando levam algum jovem de dezoito anos e tenho que julgar e condenar fico imaginando, quem falhou? Os Pais, a sociedade ou o caráter? E hoje é minha própria filha. Não quero estar com ela em um tribunal e vê-la sendo julgada por crimes. - Respirei fundo.

- Então vamos correr mais um pouco. Precisa descarregar as energias.

Voltamos a correr... Quando vi que estava mais tranquilo voltei para casa. Assim que entrei e me dirigia ao quarto ela me chamou.

- Pai. - Virei-me sem responder como sempre fazia "oi meu amor ou oi minha filha". - Tentei entrar no portal da escola porque eu... Eu faltei alguns dias, - Sua fala era incerta. - E está dizendo que não estou matriculada. Será que não se esqueceu de pagar a mensalidade?

- Não.

- Então terei que pedir minha mãe para ir lá ver o que aconteceu antes de voltar segunda não é? - Estava mansinha como um cordeiro. - A Liara veio da sala e ouvindo interviu.

- É que nós encerramos sua matricula naquela escola filha. Terá que encontrar alguma outra que tenha vaga, no meio do ano.

- Me tiraram da minha escola? – Quase gritou. Conhecendo bem a Valentina, estava surtando nesse momento. - Eu estudo lá desde bebê.

- E de repente faltou quase duas semanas. – Foi meu complemento. – A escola tem regras. Não tinha atestado a oferecer.

- O que mais me tiraram? Estão me colocando de castigo?

- Não. Fizemos tudo pensando no melhor para você. No que você pediu. Queria liberdade, foi embora e não fomos te buscar. Quis faltar às aulas e agora não tem obrigação de estudar. Todas as aulas complementares, eu cancelei. Não vejo porque continuar fazendo coisas que não te agradam. É jogar dinheiro fora e eu não tenho o porquê fazer isso, porque meu pai me ensinou o valor de cada centavo.

- Tiraram minha vida de mim. Também são assassinos. – Começou a chorar alto.

- Não filha. Era uma vida que você não queria. É diferente. - A Li tem um dom de amenizar as coisas. Ela levou a mão no bolso e retirou um celular mais simples e entregou a Valentina. - Aqui está o celular. É um pouco diferente, mas o número é o mesmo. Seu quarto está a sua disposição e como eu havia te dito terá uma mesada por mês.

- E onde irei estudar?

- Dá uma olhada na internet, com certeza irá encontrar algum lugar que tenha vaga e que seja gratuito. Porque senão vai acabar com sua mesada pagando escola.

- Pai... Por favor! Nem mesmo as aulas de idiomas? - Não respondi. Porque estava a um passo de ceder. Estava a um ponto de devolver tudo o que ela tinha. Fui para o quarto e entrei no banho. Ali eu podia chorar a água levaria cada lágrima. Quando sai do banho a Li estava me olhando, parada de frente a porta do banheiro.

- Acha que fui muito duro com ela não é?

- Duro? Não... Acho que duro você foi comigo ontem na cama. - Sorri para ela. - Com ela está sendo somente o pai que ela está pedindo e não é de agora, faz algum tempo que a Valentina está praticamente gritando por limites. Só você não ouvia. E eu bem que tentei avisar. Você que não deixava, por isso tenho deixado tanto em suas mãos. Se fosse comigo o assunto teria sido totalmente diferente. Mas ela tem que aprender a ser filha e você... Está começando a aprender a ser pai.

- E você vai ter que aprender a não me desafiar, não ser tão boca dura. Só não começarei agora com as lições, porque o Murilo e a família está chegando aí. Eles virão visitar a afilhada e assim ficam para almoçar. E o Benjamim... Deu notícias do acampamento?

- Ligou dizendo que está tudo bem. Mandou algumas fotos e sabe que estou preocupada com ele.

- A não... Está querendo namorar?

- Acho que sim.

- A culpada de tudo foi você meu amor. Não podia ter tido um filho de cada vez? Assim as preocupações não seriam as mesmas ao mesmo tempo.

- O culpado foi você que queria tanto ter filhos que deu no que deu. - Ela sorriu.

- E o Pietro?

- Está com a Giovanna.

- Então a noite se arruma que vamos sair. Vou te levar para jantar.

- Acha que devemos? A Valentina...

- Somos um casal Liara, e não podemos mais viver a vida dos nossos filhos. Estamos aqui para educa-los, amar e ensinar, mas não podemos nos anular por eles.

Ela sorriu e foi para o closet dizendo que iria escolher o vestido enquanto eu falava com a cozinheira sobre o almoço.

- A final foi você quem inventou.

- Mulher, mulher não brinca comigo.

- Adoro receber os castigos.

Fechou a porta do quarto me empurrando para fora. Esta era minha esposa, para todos os momentos. Única. Quando passei pela porta do quarto da Valentina, ela estava na internet e na tela havia uma descrição... Escola Pública Joaquim Nelasco. Era uma escola do bairro. Foi como se eu ouvisse meu pai dizer.

"Só se dá valor ao que se tem, quando se perde ou quando se adquiriu por conta própria."

º

A Esposa do Juiz - RepostagemOnde histórias criam vida. Descubra agora