Capítulo 5

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Parei em frente ao espelho do meu quarto e fiquei me analisando, observei cada pedacinho de mim, aparentemente eu estava parecendo uma garota normal prestes a ir para o seu primeiro dia na faculdade e isso era bom.

Por sorte o dia estava frio e eu pude usar um cachecol pra esconder as marcas no meu pescoço, as cicatrizes nos meus pulsos já eram cobertas pelas mangas longas do meu casaco mas ainda sim coloquei algumas pulseiras pra disfarçar o máximo possível, afinal, eu tinha curativo no meu corte mais recente.

— Você vai se sair bem, fighting! – disse pra mim mesma enquanto me dava um sorriso cheio de falsas esperanças.

Peguei a minha bolsa em cima da cama, saí do meu quarto e logo em seguida do meu apartamento. O elevador estava quase fechando então tive que me apressar pra entrar mas antes que eu pudesse entrar um braço passou por mim e o segurou, olhei pra trás e vi Jeongguk.

— Obrigada. – disse e logo entrei no elevador.

Ele deu mais um do que parece ser seus costumeiros meio sorriso e entrou em seguida. Não havia apenas nós dois ali e isso foi um alívio. Eu percebi que ele olhava disfarçadamente – ou nem tanto assim – para o meu braço e talvez deixasse a timidez de lado pra me perguntar novamente o que tinha acontecido se não tivesse uma senhora conosco no elevador.

Quando as portas abriram, saímos do elevador e eu pensei que como nas outras vezes ele seguiria para o lado oposto mas não, Jeongguk pegou o mesmo caminho que eu.

Eu estava andando um pouco mais a frente e pela primeira vez sentia que eu não era mais uma pessoa meio de tantas outras andando pelas ruas, eu sentia que havia alguém me notando e sabia que era Jeongguk mas ainda sim não diminuí os passos pra ele me alcançar, o que foi em vão pois quando o sinal da rua abriu para os carros tive que esperar na faixa de pedestres, junto com ele.

Me arrisquei a olhá-lo e vi que ele mordia o lábio inferior como se estivesse nervoso.

— Você está bem?– perguntei ignorando os meus pensamentos sobre ele.

Jeongguk olhou pra mim e assentiu.

— Sim. Como está o seu braço?

— Bem.– respondi atravessando a rua ao seu lado.

Não falamos mais nada. Eu já podia ver a Seoul International University e Jeongguk continuava andando ao meu lado, ele estava indo pra lá também. Qual será o curso dele? Será que é pelo menos no mesmo bloco que o meu? Bem, de qualquer modo eu posso procurá-lo na hora do almoço, certo?

Eu estava tão distraída com os meus pensamentos que nem notei que ele havia se misturado no meio dos universitários ali, então acabei suspirando e procurei o meu bloco.
Quando achei o de artes respirei fundo e entrei, espero me sair bem.

[...]

A primeira disciplina não era muito interessante mas o professor era muito bonito, acho que passei mais tempo observando cada movimento dele do que no conteúdo que o mesmo dizia.

Quando a aula acabou todos os alunos foram saindo e eu respirei fundo, precisava tentar me enturmar mas não sabia como fazer isso.

Eu deveria esperar alguém falar comigo ou eu quem deveria falar com alguém?

A sala estava ficando vazia então resolvi sair e procurar o refeitório. Enquanto andava pelos corredores fiquei a procura de Jeongguk pois era com ele quem eu realmente queria me sentar mas não o vi.

Assim que achei o refeitório fui pegar o meu almoço e depois percorri o olhar pelo lugar. Assim como eu via nos filmes, na faculdade as pessoas se sentam em seus respectivos "grupinhos".

No lado direito do refeitório estava aparentemente os alunos de humanas, do direito os de exatas e no fundo parecia que eram os de artes.

Acabei indo até eles no fundo e meu olhar pousou em uma mesa onde havia apenas uma garota e um garoto, era mais fácil tentar me socializar com poucas pessoas.

— Annyeonghaseyo, posso me sentar aqui? – perguntei torcendo pra minha voz ter saído alta e clara.

A garota olhou pra mim e logo em seguida assentiu.

— Claro, senta aí.

Me sentei ao seu lado e ficando de frente para o garoto que mexia em seu celular e não deveria nem ter percebido a minha presença ainda.

Eu deveria puxar assunto? Sobre o que eu perguntaria? E se eu me atrapalhar e assustá-los de alguma maneira?

— Eu sou Park JiYeon e esse é Min Yoongi.– ela apresentou com um sorriso simpático.

— Sou Park Gabrielle mas pode me chamar de Gaby, eu sei que é difícil pronunciar o meu nome. – tentei retribuir seu sorriso simpático.

— Seu nome não é muito comum. – o garoto, Yoongi, disse levantando o olhar.

— Minha mãe era estrangeira.

Um silêncio se instalou entre nós, imaginei que eles fossem me fazer perguntas por eu ser mestiça mas parecia que o clima ficou meio tenso.

— Sinto muito.– ela disse depois de um minuto.

Apenas dei um pequeno sorriso meio confusa, não havia por que ela dizer que sente muito.

Não dissemos mais nada e fiquei preocupada, todos nas mesas ao nosso redor conversavam e gargalhavam alto mas nós estávamos em silêncio.

Eu teria dito ou feito algo de errado? Eles não vão querer ser meus amigos?

Meus olhos marejaram enquanto eu repetia mentalmente que havia falhado, que eu nunca conseguiria amigos, que eu seria apenas uma vadia que só se relaciona com as pessoas através do sexo.

Me levantei de uma vez da mesa.

— Me desculpem. – me curvei e logo saí de perto deles.

Eu andava pelo refeitório de cabeça baixa pra que ninguém me visse chorar, mas acabei esbarrando no peitoral de alguém.

Levantei o olhar e vi o cara de sorriso retangular que havia pego o elevador junto com Jeongguk na semana passada.

Borderline - UnlimitedWhere stories live. Discover now