Capítulo Dois

936 96 45
                                    

Ao entrar na tenda dos meninos, deparei-me com James e Mitt conversando. Os dois pareciam tensos e se viraram para mim assim que apareci. Acredito que Mitt também já sabia sobre a visita inesperada do meu pai, e assim como o James, esperava uma resposta sobre o que havíamos conversado.

Pelo visto, os dois passaram um bom tempo especulando sobre o que estávamos falando. E pela minha cara, iriam descobrir que não era coisa boa.

A tenda que James dividia com o Mitt era mais ou menos do mesmo tamanho da nossa, mas conseguia ser muito mais bagunçada. Eles tinham uma mesa no canto, que quase não tinha espaço para nada, pois eles colocavam praticamente todos os seus pertences em cima. E a pequena estante no fundo, que servia para as roupas, ficava vazia na maioria das vezes. No máximo, podiam-se ver algumas meias. Normalmente, as roupas ficavam jogadas perto dos respectivos colchões, ou na própria mesa.

Mitt Clearwater era o terceiro mais velho, com dezessete anos, mas às vezes parecia ser bem mais novo. Talvez por ser brincalhão demais e por não conseguir levar nada a sério. Apesar disso, hoje parecia diferente, tinha um semblante mais sério. Ele tinha noção de que algo estava para acontecer.

— Eu preciso que você fale com todo mundo. Teremos uma reunião. — Falei para o Mitt, respirando fundo enquanto sentia meu pulso cada vez mais rápido.

— Nossa situação é muito ruim? — Ele perguntou, levantando-se do colchão onde estava sentado e caminhando na direção da saída da tenda. Os cabelos loiros e a franja na altura das sobrancelhas estavam mais bagunçados que o normal.

— Vai dar tudo certo. — Foram as únicas palavras que consegui dizer antes que ele saísse. As mesmas que o meu pai havia usado para tentar me acalmar, mas já sabia que não funcionava. Eu estava apenas tentando convencer a mim mesma de que aquela era a verdade. Sem muito sucesso, é claro.

James me observava, sabia que tínhamos um problema grande pela frente e que seríamos os responsáveis por ele. Por termos sido os primeiros a chegar, automaticamente recebemos esses títulos de liderança, simplesmente pelo fato de que, como mais velhos, sempre cuidamos de todos. Desde crianças, nos sentíamos responsáveis e assumíamos nossa responsabilidade quando havia algum problema, quase sempre com sucesso para resolver tudo, formávamos um bom time.

Na verdade, Vanessa quase sempre nos ajudava. Apesar de ser dois anos mais nova, com dezesseis, era muito responsável. Mas dessa vez era diferente. Eu não tinha mais certeza de nada. Não queria estar nessa posição. Eu não sabia a solução para o que estava por vir.

— Temos um problema. — Não falei nada mais do que o óbvio. Acreditava que seria mais fácil começar assim, para ter mais tempo e conseguir falar a coisa certa. Apesar de achar que não tinha jeito fácil de falar isso.

Com o mapa em minhas mãos, caminhei até onde ele estava para que ficássemos mais próximos. De frente para ele, eu falei em um tom que sabia que os outros não escutariam, por mais que tivessem que ouvir a notícia mais cedo ou mais tarde.

— Na verdade... — Respirei fundo, tentando manter a calma, mas podia sentir meu coração batendo cada vez mais rápido. Precisava passar a notícia da melhor forma possível, mas não sabia se realmente existia uma forma melhor do que a verdade. — É um problema muito maior do que qualquer outro que tivemos que enfrentar. Mas podemos dar um jeito. Sempre conseguimos... — Minha voz ficava mais fraca à medida que terminava a frase. Não conseguiria mentir pra ele.

— Pode falar. — Ouvia as palavras de James, que de certa forma me tranquilizavam, pois significava que podia contar com ele. James era o único que conseguia realmente me passar confiança e eu precisava disso antes de dar a notícia para os outros.

Depois do Fim do MundoWhere stories live. Discover now