Capítulo Três

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Naquela tarde o céu estava nublado e o sol ainda não havia aparecido. Era assim que sabíamos que o inverno estava se aproximando. Nos meses mais frios, tudo que podíamos ver eram as nuvens, que eram acinzentadas na maior parte do tempo. Aquela era a pior época do ano para mim.

Tínhamos mais três dias na montanha, até termos que fugir, em direção às ilhas. Eu parecia ter me acostumado com a ideia, assim como os outros. Apesar de que quando ouvia falar sobre isso, a ansiedade tomava conta de mim. Mas não tinha mais medo. Minhas conversas com Alex e Vanessa, que estavam fazendo planos para que ficássemos a salvo, estavam me deixando mais tranquila.

Era isso que eu pensava enquanto andava em direção aos dois, que conversavam encostados na parede de escalada, com o mapa ao seu lado. Eu podia perceber que o mapa estava ligado, pois conseguia ver os trechos que se sobressaltavam do papel. Os dois discutiam sobre alguma coisa, enquanto moviam as rotas de lugar.

Quando éramos crianças lembro que eles sempre se juntavam para fazer planos e imaginar uma vida fora daqui. Os dois e o Luke. E até onde consigo lembrar, Alex sempre falava que não ia dar certo e que deveriam parar de sonhar. Isso era só porque ele tinha medo de sair. Pelo menos era o que Luke e Vanessa diziam nas discussões entre os três.

Alex parecia entusiasmado, mas não tanto quanto a Vanessa. Seus olhos chegavam a brilhar. Assim que me aproximei dos dois, ela começou a falar.

— Eu sei que já tínhamos preparado uma rota segura, mas nós a mudamos e...

— Estamos livres dos pontos laranja! — Alex a interrompeu antes que ela pudesse terminar.

Ela olhou para ele com as sobrancelhas franzidas, como fazia quando alguém a interrompia. Mas estava com tanto bom humor que apenas sorriu. Eles estavam felizes por terem cumprido a missão que lhes foi dada: estudar o mapa e escolher o melhor trajeto. Eu apenas confirmava com a cabeça enquanto os ouvia.

— Nós descobrimos que poderíamos manipular as rotas pré-determinadas até criar uma rota que antes era inexistente. — Alex parecia empolgado ao falar. — Por onde houver terras, podemos clicar duas vezes aqui... — Ele deu dois toques rápidos no mapa. — E voilá. — Uma rota nova surgiu, saindo do emblema vermelho, que indicava a localização do nosso mapa. E então ele começou a movê-la como queria na direção das ilhas.

— Então estaremos fora de perigo? — Perguntei.

— A probabilidade de acontecer alguma coisa será baixa. — Vanessa respondeu.

— Passaremos pelo caminho mais seguro. Mas não podemos esquecer de que os pontos laranja são acampamentos fixos e que podem ter pessoas fora deles. — Alex nos deu um choque de realidade. — Não teremos como saber a localização exata de cada pessoa.

Eu não sabia se ficava feliz por termos uma rota pronta, livre do povo do Deserto, ou triste, por não saber se essa rota era realmente segura. Restava apenas esperar que não encontraríamos ninguém que quisesse nos matar. Era nosso único desejo: chegar vivos às ilhas.

— Vamos tentar ser otimistas. Não devemos sofrer por antecedência... — Quebrei o silêncio, apesar de não acreditar muito no que tinha falado. Otimismo não era meu forte.

Nós três passamos mais da metade da tarde conversando. Falamos sobre como achávamos que seria o mundo fora do buraco. Sobre como seriam as florestas e os oceanos. Tudo que tínhamos eram ideias, ou coisas que o meu pai dizia. Ele falava muito sobre os animais. Que poucos animais sobreviveram ao apocalipse, apenas os mais aptos. E foram surgindo espécies novas, cada vez mais fortes. Quando ele saía em missões, era isso o que mais gostava de observar. Os animais marinhos eram seus favoritos.

Depois do Fim do MundoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora