Capítulo Seis

57 9 1
                                    

"A borboleta me mostrava o caminho e eu atravessava as árvores o mais rápido que podia, desviando de galhos que passavam na altura da minha cabeça, pulando outros. Eu tinha a estranha sensação de que podia sentir as batidas do meu coração, pulsando por todo o meu corpo. Eu corria cada vez mais rápido. Eu não podia deixar a borboleta ir embora, não podia perdê-la de vista. Alguma coisa dentro de mim me dizia para segui-la. As árvores começavam a ficar menores e davam lugar a pequenas plantas. Eu observava tudo ao meu redor, até o mais simples movimento. O verde das folhas, as plantas que tinham cores diferentes, e as flores que se fechavam com um mínimo contato. E foi quando ela parou como se tivesse chegado ao seu destino final. Olhei para os lados e tudo que eu via era verde. Mas de repente, as árvores começaram a perder a cor e o tempo ficou mais frio. Procurei a borboleta novamente. Congelei. Meu pai estava de pé ao meu lado e ele tinha uma expressão que eu nunca tinha visto antes. Não nele. Ele nunca sentia medo. E agora, estava aterrorizado. Tinha uma faca em suas mãos e ele me olhava nos olhos. Minhas mãos tremiam e eu caminhei em sua direção. Eu tinha que tirar aquela faca da mão dele, antes que o pior acontecesse. Mas quando dei o primeiro passo, ele levantou as mãos. Gritei para que ele parasse, dando mais alguns passos. O sangue começou a descer pela sua camisa. Sua garganta estava cortada e eu sentia que tinha provocado aquilo."

Acordei com a respiração agitada, ofegante. Apesar do frio, eu estava suando. Já era dia, bem no começo da manhã. O sol ainda estava fraco, como se tivesse acabado de aparecer. Sentei-me, com cuidado para não acordar ninguém, tentando não fazer barulho.

— Você chorou dormindo. — Liz, que havia dormido ao meu lado, estava sentada com os olhos arregalados, olhando para mim.

— Eu te acordei? — Perguntei, tentando mudar o foco da conversa. Não queria ter que falar sobre o meu sonho, ou pesadelo, melhor dizendo.

— Não, eu não consegui dormir direito, estava acordada há um tempo. — Ela parecia preocupada.

— Ficou fazendo o que? — Perguntei.

Então ela me entregou seu caderninho, mostrando o lindo desenho que havia feito. Tinha um pequeno lápis em suas mãos, que já estava muito usado, mas ainda resistia. Eu mal conseguia acreditar que ela tinha feito àquilo sozinha. Era um desenho perfeito das montanhas de gelo, com sete pássaros grandes, voando por cima delas.

— Somos nós? — Apontei para os pássaros.

— Representa nossa liberdade. — Ela falou, fazendo que sim com a cabeça. Então ela voltou a olhar para mim com preocupação. — Você sabe que pode conversar comigo, não é?

— Eu tive um sonho ruim, só isso. — Respondi, respirando fundo e devolvendo o caderno dela. Tentava não pensar no sonho. Meu coração ainda estava acelerado.

— Você sonhou com o Peter? — Ela insistiu.

— Você acha que foi nossa culpa? — Minha garganta parecia tentar segurar as palavras para que não saíssem. Parecia mais apertada do que o normal. — Quer dizer... A gente demorou demais para sair de lá. Poderíamos ter sido mais rápidos.

— Lexi, não tinha como saber que nada daquilo ia acontecer. Você não pode se culpar por coisas que fogem do seu controle. — Ela falava baixo para não acordar os outros. — Nós não pedimos para nada disso acontecer.

— Mas no sonho... — Minha voz falhou, assim que pensei no sonho terrível que tinha me acordado. Não sabia se deveria falar para ela ou não.

— Foi só um sonho. — Ela olhou nos meus olhos, mas virei o rosto rapidamente.

— Não foi só um sonho. — Aconteceu mesmo. Ele realmente tinha morrido. Mas não parecia real. Ainda havia algo dentro de mim que me dizia que se voltássemos à montanha, meu pai estaria esperando por nós.

Depois do Fim do MundoWhere stories live. Discover now