Capítulo Dezenove

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Acordei sentindo o sol quente no meu rosto. Assim que abri os olhos, vi que Mitt estava na mesma posição que o tinha visto ontem quando fui dormir. Estava sentado na areia, ao lado da Vanessa. E agora, colocava um pano dobrado em sua testa. Ela ainda usava o casaco dele como cobertor.

Os outros ainda estavam dormindo quando me levantei e andei até os dois. Mitt estava com olheiras por baixo dos olhos, que pareciam pesados depois de uma noite muito mal dormida.

— Ela está com febre? — Eu me ajoelhei ao lado da Vanessa, colocando a mão no seu pescoço para checar sua temperatura.

— Acho que sim. — Mitt respondeu no meio de um bocejo. — Mas já está melhorando.

Vanessa dormia com tanta paz que eu mal podia reconhecê-la. E conhecendo o temperamento dela, eu não sabia se ela seria capaz de nos perdoar pelo que tínhamos feito. Mesmo sabendo que não tivemos escolha. Não aceitaria o que tinha acontecido com ela, já tinha nos mostrado isso.

— Acho melhor você descansar um pouco. — Sugeri ao perceber que o Mitt estava quase dormindo sentado. — Vamos andar o dia todo hoje.

Ele levantou, tirando o excesso de areia da calça. Estava tão cansado que nem sequer se importou em falar mais nada. Apenas caminhou para perto de onde os outros estavam dormindo e se deitou com a cabeça na mochila dele.

Observei Vanessa por alguns minutos, eu me sentia muito mal por ela. Olhei para a sua perna direita, a camisa que eu tinha colocado para ajudar a estancar o sangue já estava vermelha. Peguei outra camisa limpa, uma de mangas longas que eu provavelmente não usaria nas ilhas por causa do calor. Tirei a camisa suja de sangue da perna dela, com cuidado para não acordá-la, e coloquei a camisa mais limpa, usando as mangas da camisa para amarrar em volta do joelho dela.

— Você lembra aquele dia que você saiu do poço de iluminação? — Vanessa me perguntava, a voz dela entregava que ela ainda estava um pouco fraca. Ela já devia ter acordado há alguns minutos e eu não tinha percebido.

Apenas confirmei com a cabeça, sentando-me ao lado dela, após terminar os curativos. Coloquei a camisa suja de sangue na areia, enquanto escutava a Vanessa.

— Então... Todo mundo ficou com raiva de você porque você poderia ter colocado todos em risco. Não foi?

— Eu me arrependo disso até hoje. — Respondi.

— Todos ficaram com raiva de você, porque você não pensou em ninguém na hora de subir até lá.

— É verdade.

— Então... — Ela parou um pouco. — Eu não fiquei com raiva de você por esse motivo. Eu fiquei com raiva de você porque eu queria ter subido até o poço de iluminação e visto o que você viu.

Eu não sabia o que dizer então apenas a escutei com atenção. Não sabia onde ela queria chegar exatamente, mas eu estava muito surpresa com a sinceridade dela.

— Muitas vezes, eu olhava para cima e ficava imaginando a imensidão que eu nunca conheceria. O mundo enorme que tinha lá fora, que eu nunca seria capaz de ver.

— Você está aqui fora agora. Estamos conhecendo tudo.

— Em troca de que? Olha tudo que está acontecendo.

Fiquei calada, não tinha como falar que ela estava errada. Eu concordava com ela. Muita coisa tinha acontecido nos últimos dias. Eu não tinha mais forças para discordar. Estava dando tudo errado.

— Eu costumava pensar. Por que eu tive que viver toda a minha vida escondida? Se nossos pais que erraram, porque eles não se esconderam também? Porque nunca vieram nos visitar? —Vanessa falou.

Depois do Fim do MundoWhere stories live. Discover now