Capítulo Onze

28 7 0
                                    

Assim que ouvi o grito do Mitt, eu me levantei, tentando não usar o braço que tinha sido mordido pelo animal. A mordida estava bem feia, podia ver a marca dos dentes afundados no meu braço e eu sentia muita dor. Por sorte, se é que poderia chamar alguma coisa que tinha acontecido de sorte, não pegou em nenhuma veia e não sangrava tanto assim.

Comecei a escalar as árvores, fazendo o máximo que podia para ir rápido considerando que só podia usar um braço. Apesar da dor, tentava focar no Mitt, tinha que ajudá-lo. Não conseguia parar de pensar no que poderia ter acontecido com ele, ainda mais porque depois do seu último grito, não conseguia ouvir mais barulho algum. Havia um silêncio total no lugar, e meus passos, cada vez mais rápidos e desajeitados eram o único barulho que podia ser ouvido, além da minha respiração ofegante.

Com muita dificuldade, consegui chegar ao último andar. Meu coração disparava e minhas mãos estavam trêmulas, em uma mistura de cansaço, medo e apreensão. Não sabia exatamente o que encontraria ali em cima.

— Mitt? — Falava baixo, ainda com medo de que o animal estivesse por perto.

O último andar estava quase que completamente destruído e acima dele não havia mais teto. Quase todas as suas paredes já estavam pela metade e o chão tomado por entulhos e pedaços de metal, provavelmente vindos do teto caído.

— Mitt? — Perguntei novamente.

Eu pisava nos espaços onde o chão não estava coberto por entulhos e tentava fazer silêncio, por puro medo de que o animal ainda estivesse por ali. Eu caminhava devagar, procurando sinais do Mitt ou do animal por todos os lados, mas não via nada. Nem sinal de sangue de nenhum dos dois.

Entrei em um corredor à esquerda, o único que ainda estava de pé na verdade. Assim que olhei para o final dele, um grito escapou da minha garganta, coloquei a mão na frente da boca para reprimi-lo. Eu olhava para o corpo do Mitt deitado no chão, imóvel. Meus olhos se encheram de lágrimas. Comecei a me aproximar mais rapidamente e tentava não me desesperar. Ainda.

Assim que cheguei mais perto, vi que havia algo atrás do corpo dele, outro corpo que reconheci rapidamente: era o animal. Uma onda de alívio me atingiu e corri na direção do Mitt. Ele estava acordado e suava frio. Tinha um pedaço de metal em sua mão direita, metade do objeto coberto por sangue.

— Você está bem? — O abracei. — Pensei que estivesse...

— Tá tudo bem. — Mitt respondeu com a voz meio fraca. Eu podia ver que ele não falava a verdade.

Ele tentou se levantar e eu vi que sua camisa estava rasgada, também manchada de sangue. Havia três cortes fundos no seu peito, provavelmente causados pelas garras da fera que deitava ao nosso lado, sem vida. Mitt estava pálido e se sentou fazendo algumas caretas, que indicavam que estava com dor.

— Pensei que fôssemos morrer. — Meu tom de voz ainda mostrava o medo que eu sentia.

— Foi por pouco. — Ele falou. — Por muito pouco. Ainda não acredito que consegui matá-lo... Tudo aconteceu muito rápido. Ele veio para cima de mim, peguei a primeira coisa afiada que vi na frente e quando percebi, já estava dentro dele.

— Tivemos muita sorte.

— É verdade, muita sorte. — Ele concordou.

Mitt parecia ainda estar meio atordoado e tinha dificuldades para se levantar por causa dos cortes no seu peito. Pareciam bem profundos, olhando novamente.

— Vamos sair daqui. — Foi tudo que ele conseguiu falar.

Ele começou a se levantar e acabei ajudando-o, vendo que estava com dificuldades. Parecia estar sentindo muita dor, mas assim como o James e eu, não era muito de admitir essas coisas.

Depois do Fim do MundoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora