Capítulo Quatorze

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Sete dias tinham se passado desde que criamos a nova rota, e dessa vez não tínhamos tido problema algum com relevos, nem com qualquer outra coisa. E embora eu tivesse checado o mapa todos os dias pelo menos duas vezes, o botão vermelho não tinha voltado a piscar. Ainda me prendia a ideia de que o meu pai poderia estar vivo, mas duvidava cada vez mais e agora já começava a pensar que poderia ter sido um problema na parte elétrica do mapa. Todos os outros já haviam se convencido de que foram problemas técnicos, não teria como meu pai ter sobrevivido. Eu ainda tentava me convencer disso.

Estávamos no deserto há três dias. Nossa comida tinha acabado há pelo menos dois. A situação ficava cada vez mais complicada e o calor agora era mais um problema. Estávamos ficando sem água e não estávamos acostumados com temperaturas tão quentes. Como não tínhamos muita água, estávamos utilizando o mínimo possível enquanto esperávamos a próxima chuva.

Depois dos desastres naturais, que mataram mais da metade das pessoas na terra, o clima ficou cada vez mais severo. Nos lugares frios, como as montanhas, poderia nevar até no verão. Enquanto nos lugares quentes, mal chovia durante o ano.

Alex nos dizia que ainda estávamos na parte mais fria do deserto e ainda sentiríamos frio durante a noite, o que realmente aconteceu nas últimas noites. Mas só estávamos sentindo calor porque viemos de um dos lugares mais frios do Novo Mundo e nossos corpos ainda não haviam se acostumado àquelas temperaturas. Ele nos disse também que uma pessoa do Deserto acharia que o lugar que estávamos muito provavelmente ainda era considerado um lugar um pouco frio.

Não conseguíamos andar tanto no deserto quanto andávamos nas montanhas ou na floresta, por causa das condições ruins e da falta de recursos. Por isso, parávamos pelo menos quatro vezes ao dia para descansar. Muitas vezes não tínhamos energia para muita coisa na última parada, então simplesmente caíamos no sono.

Ao contrário da floresta, no deserto não tinha muito para ver. Era areia para todos os lados. Poderíamos passar um dia inteiro sem ver uma simples árvore, e mesmo quando avistávamos alguma, não era tão bonita quanto as árvores da floresta.

Também havia as tempestades de areia. Era a pior parte. Nós tínhamos pegado duas no caminho: uma no primeiro dia e outra pela manhã. Normalmente tínhamos tempo de nos cobrir inteiros com casacos ou cobertores, mas depois da tempestade todos os nossos pertences ficavam imundos e carregados de areia.

Meus lábios estavam começando a se rachar e eu não vestia mais nenhum casaco. Tudo que vestia era uma calça, agora suja de areia, e uma blusa branca de alça que mostrava a mordida no meu braço esquerdo, já quase que totalmente cicatrizada, e o pequeno corte no meu ombro direito, do tiro de raspão que tinha levado, mas este já tinha cicatrizado há alguns dias. Mantinha meu casaco de neve amarrado na cintura, pois não sabia quando a próxima tempestade de areia viria, e queria estar preparada para ela.

— Minha água acabou. — Mitt virava as últimas gotas de água em sua boca.

— A minha acabou ontem. — Liz respondeu.

— A gente ainda tem muito tempo pela frente. Acho que não vai... — Vanessa começava a falar.

— Vai dar tudo certo. — James cortou. Provavelmente não queria ouvir nenhum tipo de pessimismo.

Talvez eu fosse concordar com o que Vanessa tinha a dizer. Mas dessa vez, era difícil negar que estávamos com problemas. Mais do que o normal. Todos sabíamos, lá no fundo, que talvez aquela jornada não tivesse o final que queríamos. Mas precisávamos ter esperança. Não poderíamos nos considerar derrotados e desistir. Não ainda.

— A gente precisa pensar. — Alex parou de andar. — Vamos ser realistas.

— Certo, precisamos fazer alguma coisa para mudar essa situação. — Falei, parando de caminhar e me juntando ao Alex. — Precisamos achar comida em algum lugar.

Depois do Fim do MundoWhere stories live. Discover now