Capítulo 11

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Christian narrando:

  Ela estava chorando? Eu a fiz chorar?

  De repente um desespero toma conta de mim e antes mesmo que eu perceba, me levanto de meu lugar, dou a volta na mesa, a envolvo em um abraço e sussurro em seu ouvido:

  -Não chore, é passado.

  Em meus braços ela responde entre soluços:

  -Desculpe, mas é difícil para mim pensar em meu passado.

  -Tudo bem, esqueça isso.

  -Eu quero que você saiba, embora não seja uma história nem um pouco agradável.

  -Tudo bem então.

  Nesse momento eu a solto e pego minha cadeira para que eu possa sentar ao lado dela.

  -Não tenho muitas memórias positivas dos meus pais. Desde que eu me lembro, eles eram viciados em drogas. E esse vício, de certa forma, fazia com que eles me deixassem de lado, viviam em função daquilo e me esqueciam, me deixando até sem comida as vezes. - Meu coração se aperta ao ouvir isso - Mas de qualquer forma, eu os amava e queria que eles me amassem também. E nas poucas vezes que eles pareciam dar alguma importância a mim, era por causa dos estudos, eu se quer sei explicar o porquê.

  Eu não sabia o que fazer para confortá-la, passei meus braços ao redor dela novamente e ela seguiu com sua história:

  -O vício deles se tornava cada vez maior. E um dia eu participaria  de uma peça de teatro na escola, minha mãe prometeu ir me assistir, mas não foi. Mesmo triste por não vê-la na platéia, eu me apresentei. Mas quando eu fui pra casa, presenciei a pior cena da minha vida: minha mãe caída no chão da cozinha.

  Nesse momento o choro dela se intensificou e meus olhos se encheram de lágrimas. Eu não sabia o que dizer. Não tinha nada que pudesse ser dito naquele momento. Então ela seguiu:

  -Eu era muito nova, não sabia ao certo o que ela tinha, eu tinha 6 anos, não sabia nem mesmo o que era usar drogas, esse entendimento eu vim a ter anos depois. Então eu tentei acordá-la.

  Ela fez uma pausa, acho que estava juntando forças para prosseguir. Então veio a cena na minha mente, de uma menina de cabelos ruivos e olhos claros, encontrando a mãe morta e tentando acordá-la. Era tão injusto!

  -Então eu fiquei lá com ela, esperando que ela acordasse. A polícia nos encontrou lá no dia seguinte, até hoje não sei dizer como. Quando eles chegaram eu dormia abraçada a ela. Então eles me separaram dela. A única coisa que eu fazia era chorar. Meu pai sumiu, creio que ao encontrá-la morta surtou. Ele foi encontrado morto semanas depois, com marcas de facada, mas nunca descobriram quem o matou.

  Era cruel demais. Eu estava controlando minhas lágrimas, pois tinha que dar forças a ela.

  -Era óbvio que ela tinha morrido de overdose. Minha tia me buscou depois na delegacia. A partir daí eu passei a morar com ela. Minha vida melhorou muito, ela era excelente para mim. Mas eu havia perdido meus pais e por pior que eles fossem, eu os amava.

  -Eu sinto muito. - Foi a única coisa que consegui dizer.

  Era coisa demais para absorver. Ninguém merecia passar por isso. Mas ela era forte, encarou tudo da melhor maneira possível e não desistiu.

  -Me perdoe. - ela disse limpando as lágrimas - Eu estraguei o jantar.

  -Está tudo bem, eu precisava saber disso, te conhecer melhor. E isso me faz te ver como uma pessoa melhor, mais forte, que não desistiu.

  Nesse momento o garçom chegou com nossos pratos, então ela se liberou de meus braços e se ajeitou na cadeira e eu voltei minha cadeira ao lugar de origem.

  Ficamos em silêncio por alguns minutos, apenas comendo. Eu não sabia o que podia ser dito. Eu ainda nem havia processado toda aquela história.

  Mas um sentimento de culpa me invadiu. Eu não podia brincar com ela apenas por uma aposta. Não podia se quer pensar em fazer mal a uma pessoa que já tinha sido tão machucada pela vida, dessa forma.

  -Eu nunca contei essa história nem para Jessica. Mas você me passa confiança, não sei explicar.

  O sentimento de culpa me invade duas vezes mais forte. Ela confiava em mim e eu não merecia essa confiança.

  Em resposta eu apenas seguro sua mão por cima da mesa e acaricio seus dedos com o polegar.

  Eu não podia seguir com esse joguinho ridículo. Eu realmente me sentia atraído por ela, mas não podia seduzi-la apenas para ganhar uma aposta.

  -Então, me conte algo sobre você. - Ela diz para tentar mudar o clima.

  Eu penso em contar minha história de amor frustrada. Mas seria muita história de sofrimento para uma só noite.

  -Me pergunte algo. - Sugiro.

  Ela pensa por alguns segundos.

  -Nescau ou Toddy?

  Eu rio de sua pergunta boba e ela realmente consegue mudar o clima.

   -Agora é sério. -Ela diz rindo, mas seu rosto ainda estava avermelhado pelo choro - Me conte foi seu primeiro dia dando aulas.

  -A primeira vez que eu dei aula, foi para um curso. E foi exatamente tudo ao contrário do que eu esperava. Eu fui cumprimentar a turma e minha voz simplesmente não saía. - Ela ri quando eu conto isso - Não ria do meu fracasso não. -Eu digo rindo também.

  -Me desculpe. -Ela diz tentando controlar o riso.

  -Eu sai correndo da sala, porque eu não conseguia falar. Então um dos funcionários da escola voltou lá comigo e me ajudou . Foi constrangedor.

  -Eu imagino.

  -Mas o primeiro dia dando aula na faculdade foi quase pior. Mesmo já tendo uma experiência o nervosismo foi semelhante no meu primeiro dia na faculdade, além da tremedeira de sempre e de eu ter gaguejado várias vezes, eu acabei tropeçando e tendo que me segurar na mesa de um aluno para não cair, enquanto me apresentava.

  Ela ri novamente. E eu vou contando algumas histórias. Então terminamos nosso jantar, em uma conversa agradável, embora o primeiro assunto não tenha deixado minha mente ainda.

  -Vou pagar a conta. Já volto. - Digo e me levanto.

  Na verdade eu nem precisava me levantar para pagar a conta, mas eu queria andar, tentar pensar naquilo tudo longe dela só por um momento.

  Então eu cheguei a conclusão, eu teria que parar com aquela aposta.

Querido Professor Où les histoires vivent. Découvrez maintenant