Capítulo VI

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CAPÍTULO VI

Lavínia Sampaio

Ainda com o rosto banhado em lágrimas, adentrei o banheiro e desejei que água morna levasse embora todas as dores, receios e principalmente, o episódio fatídico daquela noite, porém não aconteceu.

Encarei-me no espelho por alguns segundos, antes de me trocar. Se eu tivesse tido um pouco de assistência do meu pai ao longo de minha infância e adolescência, talvez possuísse uma aparência mais apresentável.

Na verdade, gostaria de ter sido como Elizabeth e ter herdado os traços mais bonitos dos meus pais, mas herdei as sardas que salpicavam todo o meu rosto e o cabelo exibindo duas tinturas distintas, usadas para ocultar os fios ruivos que eu tanto detestava, já que havia me rendido apelidos maldosos na escola, pertenciam a minha mãe.

*.*.*

— Quando você sair da faculdade, me espere no mesmo local, por favor. — meu pai disse no dia seguinte, quando nos aproximávamos da universidade. — E, aliás, providencie hoje cópias de suas documentações para providenciarmos sua carteira de habilitação, ok?!

Concordei com um aceno, questionando-me até quando suportaria tudo aquilo.

Antes que eu saísse do carro, papai despediu-se com um aceno, porém seu rosto exibia um semblante apático, como se estivesse realizando tudo aquilo em modo automático. Começava a me questionar se existia algum sentimento bom nele.

*.*.*

Na hora do almoço, quando Ricardo parou o carro no estacionamento do colégio, pude perceber o quanto o local havia se tornado amplo novamente. Dessa vez, estava vazio, salvo pelo carro de Marta e de alguns funcionários que ficavam estacionados por ali durante todo o período de expediente.

Novamente, antes que eu pudesse despedir de Ricardo, ele manobrou o carro e dirigiu para fora do internato.

Enquanto caminhava pelo campus, pude ouvir o sinal ecoar por todo o colégio. O relógio do celular beiravam duas da tarde, portanto, constatei que deveria ser o sinal indicado que o segundo turno de atividades havia se iniciado.

Ao longe, era possível ver alguns alunos trajando o uniforme do colégio, caminhando desanimados para o interior do prédio central e torci mentalmente para que Elizabeth e seus amigos estivessem no meio daquelas pessoas. Não queria vê-los. Pelo menos não naquele dia.

Quando adentrei o refeitório e peguei uma das bandejas que ficavam dispostas por ali, deparei-me com a presença indesejada de minha irmã. A garota, que estava sentada em uma das mesas ao fundo, acompanhada do namorado e de duas amigas, lançou-me um olhar fulminante. Pensei em desviar o olhar, servir minha comida e me sentar o mais distante possível dela, porém continuei a encarando, exibindo o mesmo olhar ameaçador.

Ela ficou tremendamente irritada, quando um dos rapazes que era responsável por monitorar o refeitório, aproximou-se do pequeno grupo de adolescentes, mandando-os assistir as aulas do segundo tempo. Ela relutou, deu de ombros e colocou-se de pé, segurando as mãos de Felipe.

Enquanto Elizabeth caminhava na companhia dos amigos por entre as mesas, seu olhar era direcionado a mim a todo instante. Ela tentava soar ameaçadora, porém eu não conseguia sentir absolutamente nada que não fosse pena por aquela garota. Já havia vivenciado situações terríveis em tão pouco tempo de vida, que um olhar impetuoso de uma adolescente mimada, não me causava medo.

Fechei os punhos, irritada quando eles passaram por mim, rindo e cochichando. Sentei-me em uma mesa qualquer, iniciando o meu tão esperado almoço.

Rejeitada -  Volume I (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora