Capítulo XII

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CAPÍTULO XII

Marta Fin

Pela manhã, após me espreguiçar, acomodei-me na beira da cama e pude ouvir quando Ricardo desligou o chuveiro e segundos depois, cruzou o banheiro até o closet com uma toalha felpuda enrolada na cintura.

— E o colégio, Marta? Você não me deu nenhum respaldo sobre as dívidas a semana inteira — Ricardo ralhou enquanto escolhia cuidadosamente as roupas a serem colocadas em sua bagagem. Seu humor matinal causava-me arrepios.

— Bom dia, Ricardo! — ironizei enquanto passava os dedos cuidadosamente por entre os fios desgrenhados. — Me admira seu interesse...

A mala que estava aberta sobre a cama, foi recheada com meia dúzia de roupas. Ele me encarou por uma fração de segundos. Seu semblante estava carregado de seriedade.

— O colégio também é meu. — resmungou adentrando o closet novamente. — Ou você esqueceu-se disso?

Revirei os olhos e coloquei-me de pé, adentrando o closet para separar os pertences naquele feriado.

— Estamos em dívidas — falei encarando-o por alguns segundos, porém ele desviou o olhar, fechando a bagagem e colocando-a no chão. — Torça para que os pais dos novos alunos façam a matrícula após o carnaval, ou definharemos até a completa falência, meu querido.

O silêncio colossal teria nos envolvido naquele momento sob o seu olhar tempestuoso, se não fosse pelo barulho estridente da porta do quarto de Lavínia batendo com força.

— Isso não aconteceria se a administração do colégio estivesse sob o meu controle — retrucou enquanto ajeitava a gravata em frente ao espelho. — Você fica com pena de todo mundo e dá nisso!

O silêncio pairou mais uma vez sobre nós, deixando que a tensão percorresse cada centímetro de nossos corpos.

Recolhi as roupas usaria naquele feriado e coloquei dentro da bagagem aberta no meio do closet e em seguida, fui até o espelho, posicionando-me ao lado de meu marido. Ele olhou-me de soslaio enquanto tentava traçar o nó de maneira desengonçada, bufando diversas vezes.

— Não estamos em dívidas por eu ter empatia com os problemas das pessoas, Ricardo. Após o suicídio daquela menina, o número de matrícula reduziu muito. Não tem como manter um colégio daquele porte assim. E você sabe disso. E, por fim, acha mesmo que eu correria o risco do internato ter o mesmo fim que o seu dinheiro? — fiz uma pausa e pude ouvi-lo libertar um suspiro carregado de frustração. — Afinal, como seria doloroso não ter mais o meu dinheiro para ostentar com os seus amigos, não é mesmo?!

Pude ouvir seus passos pesados provirem do closet. Ele parou atrás de mim, que estava sentada em frente ao espelho, pousando as mãos ao redor da cintura.

— Não admito que você fale isso, Marta!

— E eu disse alguma mentira, Ricardo? — questionei enquanto deslizava suavemente a escova por entre meus cabelos. Seus olhos pareciam me fuzilar através do reflexo.

Ele estreitou os olhos e bateu com os punhos cerrados sobre o móvel, provocando um barulho estridente. Estremeci-me assustada com a atitude inesperada do homem.

— A empresa é minha! O colégio é meu! Você é minha esposa, portanto o seu dinheiro me pertence também! — sussurrou extasiado.

— E isso será por pouco tempo, Ricardo... — ele ainda manteve-se inclinado em minha direção por mais alguns segundos e afastou-se, recolhendo a bagagem.

— Será um imenso prazer não ter que ver a sua cara nos próximos dias, Marta!

Meus lábios tremularam enquanto observava-o de soslaio, abrindo a porta do quarto. Em seguida, pude ouvi-lo murmurar algo com Lavínia e novamente o silêncio se fez.

Rejeitada -  Volume I (COMPLETO)Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora