Capítulo IX

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CAPÍTULO IX

Marta Fin

Imersas em um silêncio profundo, Lavínia ficou me encarando com seus olhos enigmáticos por longos segundos. O sorriso gracioso que estampava o rosto da jovem tornava-a ainda mais afável.

Havia algo único em Lavínia, uma essência capaz de despertar pequenos sentimentos ocultos em mim. Era como se fosse um misto de euforia e curiosidade que me rondava o tempo inteiro, fazendo-me desejar, de alguma forma, mesmo que inconsciente, que nos aproximássemos. Entregar-lhe aquele dinheiro foi uma maneira que encontrei de suprir um pouco daquela necessidade.

Como se estivesse despertado de um transe, retirei-me silenciosamente.

Ao adentrar meu quarto, deparei-me com Ricardo sentado a cama, com os olhos atentos a tela do notebook.

— Você demorou hoje. O que houve? — ele indagou enquanto eu retirava os sapatos e guardava a bolsa no closet.

— Não foi nada de mais — respondi tentando soar naturalmente. — Lavínia teve um pequeno atraso nas checagens. É comum acontecer.

Caminhei de volta ao quarto e sentei-me ao seu lado, na beira da cama. Ele ficou me observando, parecia querer questionar sobre algo. Era como se ele fosse capaz de vislumbrar meus demônios e medos. Seu olhar era tão profundo que não tive a capacidade de sustentá-lo por muito tempo.

— Quando ela conseguir tirar a carteira de habilitação, você não precisará esperar. Poderá vir embora mais cedo — meu marido falou inclinando-se em minha direção e beijando meus lábios rapidamente.

Forcei um sorriso e concordei com um aceno, colocando-me de pé outra vez e após pegar minha toalha, caminhei até o banheiro.

— Ah... Ricardo... — balbuciei hesitante escorando os ombros no batente que havia entre o quarto e o banheiro enquanto ele voltava a atenção para a tela do computador. — Precisarei ir até Belo Horizonte amanhã de manhã... Se quiser, posso levar Lavínia até a faculdade.

Um pequeno silêncio pairou sobre o quarto, provocando-me uma pequena apreensão. O homem apenas fez um aceno positivo com a cabeça e finalmente adentrei o banheiro, libertando um suspiro aliviado.

Queria ajudar Lavínia, queria me aproximar e tentar aliviar um pouco da dor causada por aquela rejeição de Ricardo. Mas havia algo em mim, em meu interior, algo extremamente profundo que almejava muito mais que uma simples aproximação entre nós. Algo que me assustava.

*.*.*

Na manhã seguinte, após me arrumar para enfrentar mais um dia de trabalho, caminhei devagar pelo corredor que ligava os quartos até a escada, deparando-me com Lavínia sentada em um dos sofás. Ela aparentava um misto de tédio e sonolência, deslizando o dedo na tela do celular, como se procurasse algo que pudesse entretê-la.

Ao descer as escadas, percebi que a jovem me observava de soslaio, fazendo com que eu pressionasse os lábios e permanecesse cabisbaixa, na tentativa frustrada de conter um sorriso espontâneo que sempre vinha acompanhado de um calafrio.

— Podemos ir, Lavínia? — questionei-a ao me aproximar. A garota franziu as sobrancelhas denunciando a sua admiração e em seguida, seus olhos castanhos analisaram-me cuidadosamente dos pés a cabeça.

Ela mordiscou o lábio inferior como se quisesse conter um sorriso e desviou o olhar por alguns segundos.

— Cadê o Ricardo? — Lavínia indagou enquanto segurava a mochila por uma das alças, me observando com seriedade.

Rejeitada -  Volume I (COMPLETO)Where stories live. Discover now