Capítulo VII

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CAPÍTULO VII

Marta Fin

Pela manhã, havia despertado com os resmungos de Ricardo que tentava ajeitar a gravata em frente ao espelho. Afundei o rosto contra o travesseiro e estiquei uma das mãos até o criado-mudo, puxando meu telefone. Eram seis da manhã em ponto. Praguejei contra o meu marido.

Espreguicei-me, passando as mãos pelos cabelos desgrenhados e fui tomar banho, tendo em vista que dali algumas horas teria que estar no internato administrando mais um dia.

— Marta, será que você pode ajeitar essa merda?! — Ricardo indagou de modo ranzinza, com a gravata azul pendurada em uma das mãos.

O encarei pelo vidro do boxe, abrindo o chuveiro e deixando que a água morna percorresse meu corpo, deixando que a sonolência se esvaísse.

— Quando acabar arrumo pra você.

Ele bufou, parecendo contrariado. Eu dei de ombros e me virei, ensaboando-me.

— Tenho que estar na faculdade de Lavínia em uma hora — ele falou encarando-se no pequeno espelho que havia próximo ao lavabo. — Se você demorar muito, ela vai ir sem comer.

Eu revirei os olhos. A cada dia que se passava, minha paciência parecia se esgotar com aquele homem.

— Por falar nisso, você já sabe em qual autoescola irá matriculá-la? Ela já escolheu se vai querer moto ou carro? — questionei ignorando seus dizeres.

Ricardo suspirou e passou as mãos pelos cabelos. A aparência elegante e impecável que aquele homem exibia, escondia o caráter prepotente e avarento.

— Ainda não sei — ele respondeu referente à pergunta que eu havia lhe feito, seguindo-me até o quarto. — Talvez aqui em Casa Branca ou em Belo Horizonte... — ele coçou a cabeça, parecendo estar indeciso.

Caminhei até o closet, retirando uma saia lápis risca giz e uma camisa preta de tecido social, pousando as roupas com cuidado sobre a cama, para não amarrotar.

— Você precisa dizer onde será e qual o horário, afinal, ela chegará atrasada e preciso comunicar a Antônia — falei deixando que a toalha deslizasse por meu corpo e comecei a me vestir.

Ricardo analisou-me com cuidado por alguns segundos, como se estivesse absorto em algum pensamento profundo.

Em seguida, após abotoar a camisa, caminhei até Ricardo, encaixando-me por entre suas pernas. Suas mãos pousaram suavemente ao redor de meu quadril enquanto eu ajeitava sua gravata.

— Lavínia andou me pedindo dinheiro para dar aquela tia vagabunda dela!

— Ela te pediu dinheiro?

— Na verdade, ela pediu um adiantamento do salário dela — ele respondeu pegando o paletó que estava estendido do outro lado da cama, próximo a sua maleta. — Mas eu não dei! Não acho justo!

Eu o encarei, estreitando os olhos. Ricardo sustentou meu olhar.

— Você não deu o adiantamento por achar injusto com os funcionários ou por que você não quis que ela ajudasse aquela mulher?

Ele resmungou algo e virou-se de costas, recolhendo sua maleta.

— Isso é injusto, Marta! Não tem porque discutir! — ele falou desconcertado.

— Apenas gostaria de saber quando foi que você passou a se importar com os funcionários do colégio...

Ele deu de ombros e me fitou por alguns segundos. Seus olhos denunciaram o quanto ele estava irritado. Em seguida, em silêncio, ele abriu a porta e pude ouvir seus passos se distanciando no corredor.

Rejeitada -  Volume I (COMPLETO)Where stories live. Discover now