12 | georgia roe

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           Limpei o canto dos olhos onde as lágrimas ainda desciam... Tinha sonhado com a vida que havia levado mais uma vez. Isso acontecia com certa frequência, já que as dro.gas que usara para esquecer eram momentâneas e os pesadelos faziam questão de me contar a realidade. Me lembravam da realidade.

Suspirei fundo e soltei todo o ar enquanto fechava os olhos. Os vislumbres retornavam como um soco em minha cabeça.

A dor emocional e a física estavam disputando qual delas acabariam comigo primeiro.

A droga me deixava em êxtase com tudo que acontecia, principalmente com a dor, mas depois tudo parecia voltar três vezes mais forte e era de modo agressivo. Me sentei na cama encarando o relógio que marcava seis e quarenta e cinco, mais uma hora e teria que ir trabalhar.

Repeti um mantra silencioso pedindo por proteção.

É passado. Isso vai passar, você foi tão forte até agora.

Aquelas palavras pareciam não surtir efeito nenhum sob meu corpo e minha mente.

Acho que sou boa em guardar as coisas, ninguém até então tinha percebido absolutamente nada e o alívio que se instalava em meu peito era imensurável.

Como iria contar para todas aquelas pessoas o que eu era? Eu nem sei se vou contar um dia, provavelmente não.

Quero apenas esquecer.

Sou uma nova pessoa, tenho uma nova vida e nada do que vivi tem que ser trago à tona de novo.

Suspirei fundo mais uma vez.

Odiava pedir ajuda ou fazer a linha emocional, mas agora estava tão frágil. Nenhum dos muros que construí fora suficiente.

Só havia restado eu e meus pesadelos.

Eu nem sabia o que era ter paz, deitar tranquila sem parecer uma máquina cheia de pensamentos e sentimentos confusos e assustadores.

Eu sou tão forte.

Repetia em minha mente buscando por paz.

Eu me machucava e era tão cruel comigo mesma.

Eu sou tão forte.

Mas o esforço que estava fazendo para esquecer valia a pena. Minha família estava feliz e comigo, isso era tudo que importava agora. Colocar um sorriso no rosto parecia facilitar tudo, e se fosse necessário colocá-lo para ver meu irmão feliz durante todos os segundos da minha vida... Eu faria isso.

— Georg, 'tá na hora de ir pra escola? — Depois de alguns minutos presas em devaneios, ouço Calleb se aproximando e o vejo em minha porta coçando os olhos.

— Sim, senhor. Vamos tomar banho e ir.

— Não precisa me levar.

— O que? — Franzi o cenho confusa.

Calleb sempre me pedia para leva-lo em todos os lugares.

— É — Resmungou — Eu já sou grande e posso ir sozinho.

— Calleb... Grande no que?

— Georgia! Eu já sou quase um adolescente.

— Banho e espere sua irmã para te levar até sua nova escola. — Sorri de boca fechada.

A porta do banheiro fez um estrondo.

Tomamos nosso café da manhã e estávamos preparados para encarar o dia, mas meu irmão ainda resmungava coisas do tipo: Você nunca vai me deixar crescer?

THE REFUGE ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora