29 | georgia roe

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        Eu sempre fui muito: Olha só, eu sou a dona da minha vida, e eu posso lidar com tudo isso sozinha...

...Até Hera aparecer.

A garota era ridícula com aquele corpo esguio e imensos olhos azuis, parecia um ET. O primeiro sentimento foi o de ódio. Hoje, depois de anos, me pergunto como uma criança foi capaz de nutrir aquele sentimento tão repentinamente.

Hera havia colado chiclete em meu cabelo.

Sim.

Ela havia colado chiclete em meu cabelo.

E quando me virei para trás, questionando aos gritos o motivo, ela só deu de ombros e falou que havia gostado muito de mim porque eu era bem esquisitona. O segundo sentimento foi o de ofensa.

Primeiro: Ela havia colado chiclete no meu cabelo.

Segundo: Me chamado de esquisitona.

Eu a encarei mortalmente, querendo fazer aquele lápis da cor rosa descer por sua garganta, mas, apenas juntei as sobrancelhas e virei para frente, prestando atenção no meu desenho, que ao meu ver, estava muito lindo. Eu era uma artista, mesmo que ali só tivesse rabiscos e cores fora da linha.

Eu era uma artista...

...Incompreendida e meio confusa, mas ainda era uma artista.

Hera não desistiu.

A figura loira apoiou seu pequeno corpo na minha cadeira, impulsionando seu corpo para frente e me pedindo o lápis de cor dourado.

Eu amava o lápis de cor dourado.

Eu não queria lhe emprestar meu lápis de cor dourado que eu só usava em momentos especiais.

E desenhos especiais.

Hera sabia disso, pela minha expressão, mas decidiu que seria legal começar uma amizade perturbando sua colega.

Eu apenas mirei o lápis em sua direção, quase acertando seu olho e ela começou a rir. Nós duas rimos juntas. Hoje, ao meu ver, aquilo parecia loucura. Mas na época foi o início de dois contrastes descobrindo o que era amizade.

Depois disso nós crescemos juntas.

Fazíamos tudo juntas.

Conversávamos sobre tudo.

Éramos como irmãs, e prometemos que assim seria até o fim.

Até o dia quatro de julho, as dez horas da noite, onde estávamos no parque perto da escola, cavando um local onde pudéssemos colocar nossas promessas para um futuro brilhante que queríamos ter.

Bom, pelo menos naquela época nós pensávamos que a vida seria um pouco generosa conosco.

Em uma caixa de papelão roubada do mercado, colocamos fotos de casas, lugares que queríamos conhecer... É constrangedor, mas eu coloquei a foto do Channing Tatum, também.

E Hera colocou uma foto da Megan Fox.

Enterramos nossa caixa bem fundo, onde ninguém poderia achar, apenas nós duas. Era como se ali, em baixo das estrelas, nossos sonhos ganhassem força para um dia acontecer.

Moraríamos juntas, e seriamos bem felizes.

— Georgia! Você tá viajando? Já é a decima vez que chamo seu nome para me ajudar com essas caixas. — A voz de Rob interrompe minha sessão ao passado.

A figura carrega uma caixa grande em mãos, esperando, com sua melhor expressão indignada que eu diga onde coloca-la.

— Coloca em qualquer lugar. — Arregalei os olhos ao me desequilibrar do parapeito da janela.

THE REFUGE ✔Where stories live. Discover now