Capítulo 11

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Peter parou junto ao muro, no lugar onde tinha visto os cervos.Já estava sangrando — tinha tropeçado e acabara cortando a pele fina na basedo polegar com uma farpa — e banhado em suor. Os braços já tremiam apóspoucos minutos sustentando o peso do próprio corpo. As palmas das mãosestavam vermelhas, nos apoios de borracha, e o latejar no pé direito era como aameaça de um trovão, mas o pior não era nada disso; nem mesmo a ideia devoltar para a casa sombria do avô.O pior é que estava indo na direção errada.Deu meia-volta. Apoiou a muleta no chão e jogou o corpo para a frente,apoiou e jogou, e assim foi até alcançar outra vez a porta do celeiro de Vola.Empertigou-se para anunciar:— Não.Vola levantou a cabeça na mesma hora. Olhou para ele com uma cara feia,mas Peter viu outra coisa cruzar o rosto dela: medo.— Eu não vou voltar — disse ele, com mais firmeza. — Vou buscar minharaposa, com ou sem a sua ajuda.— Ajuda?Peter foi até a bancada e ergueu o corpo para se sentar ali.— Me ensine. Aquilo que você disse sobre usar os braços para me deslocar,sobre ficar forte. Você aprendeu a se virar com uma perna, então me ensine.Você foi médica. Trate meu pé. Por favor. Vou fazer o que você mandar. — Elepegou a caneca de sidra e bebeu tudo, para provar que confiava nela. — Depois,vou embora. Mas mesmo que você não me ajude, vou buscar minha raposa.Vola pôs as mãos na cintura e o olhou fundo nos olhos.— Uma raposa domesticada solta na natureza? Você sabe que ela pode já termorrido, não sabe?— Sei — respondeu Peter. — E seria culpa minha. Se minha raposa tivermorrido, preciso levá-la para casa e enterrá-la. Tenho que encontrar minharaposa de qualquer jeito e levá-la para casa.Vola o observou como se o estivesse vendo pela primeira vez.— Afinal, você quer voltar para a sua casa ou para o seu bichinho?— Dá no mesmo. — A resposta saiu espontânea e firme, o que o surpreendeu.— E vai fazer isso mesmo que tentem impedi-lo? Porque sabe, no seucoração, que é o certo a fazer? — Vola fechou a mão, deu um soco no peito. —No coração. É isso?Peter esperou para responder, porque aquela mulher, que poderia ser maluca,ou talvez não fosse, perguntara aquilo como se o destino do mundo dependessedaquela questão. No entanto, a resposta era a mesma que ele teria dado se tivessefalado sem pensar. Teria sido a mesma se tivesse esperado uma vida inteira pararesponder. Ele também bateu no peito. Sentiu o músculo do coração pular.— É. Não tem nada que eu sinta com tanta certeza no meu coração.A mulher fez que sim.— Bem, você tem doze anos, idade suficiente para conhecer a si mesmo,imagino. Quem sou eu para interferir nisso? Então, tudo bem.— Você vai me ajudar?— Vou — respondeu Vola, estendendo a mão para um cumprimento. — Comtrês condições...

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