Capítulo 12

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Meu irmão nasceu na segunda ninhada da minha mãe. No início da estação. Aprimavera começou tarde no ano passado. A neve caiu e não derreteu; a terraficou congelada por baixo. Minha toca ficava por perto e eu ajudava a caçar. Odia todo, meus pais e eu procurávamos comida, porque os filhotes estavam semprecom fome. Mas nunca havia comida suficiente para a ninhada.Dois irmãos dele morreram no mesmo dia. A fazenda, insistiu nossa mãe. Nafazenda dos humanos sempre havia ratos gordos no celeiro quente. Na fazenda doshumanos havia ovos no galinheiro.Nosso pai não queria arriscar.Quando o terceiro filhote ficou tão fraco que não conseguia permanecer de pé,nossa mãe o desafiou.Miúdo levantou a cabeça e lançou um olhar de súplica para Arrepiada. Ela oignorou.Nossa mãe me levou para a fazenda dos humanos. Levou também o filhote maisforte, minha irmã.Miúdo chegou mais perto e cutucou Pax com o focinho. Na mesma hora,Arrepiada arranhou o rosto do irmão, mas Pax reparou que ela não usou asgarras. Miúdo se deitou.O chão ao redor do celeiro já não tinha neve, de tantos animais e humanos quehaviam passado por ali. O cheiro de roedores inundava o ar. Nossa mãe foi emdireção a uma fenda nas tábuas de madeira, e a seguimos, um pouco atrás. Logoantes de ela chegar lá, garras de aço pularam da terra com tanta velocidade que oar estalou. Nossa mãe gritou. Uma garra estava presa na pata da frente dela.Quanto mais ela se debatia, mais fundo o metal cortava. Ela começou a morder apata para soltá-la. Cada vez que tentávamos chegar perto, ela nos mandava ficarlonge.Nosso pai apareceu. Tinha seguido nosso rastro. Ele nos fez voltar para o meioda vegetação e esperar lá. Depois, foi ajudar nossa mãe.A cena que Arrepiada transmitia era de duas raposas unidas por um amorantigo e um medo novo, um medo tão terrível que Pax o via nos olhos dela e tãovívido que ele sentia o forte odor do sentimento.Miúdo começou a choramingar, um som tão carregado de dor que Pax quisconsolar o amigo, mas Arrepiada ordenou que ele ficasse em seu lugar.Foi quando um humano apareceu com uma vara. Nossos pais gritaram paraque voltássemos correndo para casa. Masficamos. E vimos. O humano atacou osdois com a vara.Diante dos nossos olhos, nossa mãe e nosso pai foramdestroçados em uma confusão de sangue, pelo e ossos quebrados espalhados naneve.Ainda choramingando e se encolhendo, Miúdo tentou recuar em direção àtoca deles outra vez, mas Arrepiada o impediu de novo.Minha irmã e eu não conseguimos abandonar os corpos. A escuridão caiu e odia seguinte chegou, e continuamos escondidas em uma pilha de madeira ao ladodo celeiro. Depois de um tempo, finalmente fomos embora, mas anoiteceu ecomeçou a nevar. A neve bloqueou todos os sons e cheiros. Perdidas, rastejamospara debaixo de alguns troncos de pinheiro e me encolhi ao redor da minha irmã,que era muito menor que eu. De manhã, ela morreu. Quando a neve parou, vi quetínhamos nos abrigado embaixo do grande pinheiro no alto da colina. Estávamosmuito perto de casa.A imagem que Arrepiada evocou em seguida, do cadáver congelado da irmãna base do enorme pinheiro, pareceu exauri-la.Por que não temos família, irmão?Miúdo se virou para Pax.Não temos família por causa dos humanos.Arrepiada dirigiu os olhos dourados a Pax, em desafio.Se ele pudesse, teria contado a ela todas as gentilezas que seu menino faziatodos os dias, mas o ódio profundo de Arrepiada pelos humanos era justificado. Oque ele fez foi se mostrar solidário.A raposa fêmea se virou e mandou o irmão entrar na toca.


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