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Fernanda.

Acordei sentido minha cabeça pesada, resultado de chorar a noite toda até dormir. Me sento na cama, esfrego meus olhos e então sinto aquele bolo subir minha garganta. Ah não... corri para o  banheiro e vomitei tudo que estava no meu estômago. Não aguentava mais esse enjoo matinal. Só então me dou conta que havia dormido no sofá e acordado na minha cama. Christopher devia ter me levado. Ah, só de pensar em ontem... já sinto uma raiva imensa. Não só raiva como tristeza.

Depois de lavar minha boca e dá descarga vou em busca de comer algo para tirar aquele azedo da garganta. Pego uma fatia de torta de morango com bastante chantilly. 

Percebi que havia ainda molho de carne moída com milho e salsicha, senti meu apetite abrir de imediato. Peguei três pães e esquentei a mistura, Deus, estava tão gostoso que mal conseguia explicar. Doce e salgado era algo surreal.

─ Fernanda, está tudo bem? ─ ouço a voz de Christopher e me viro de boca cheia, ele está apenas de bermuda jeans rasgada e eu estou toda suja de molho de carne moída com a boca cheia, parecendo uma porca faminta. Limpo minha boca enquanto mastigo e passo minhas mãos no meu vestido que usava.

─ Tudo bem ─ digo de boca cheia.

Ele assente e sai dali sorrindo. Suspiro enquanto olho para a sacola ainda cheia de pães... que se dane!

***

Depois de me empaturrar de pão com carne moída e milho, eu tomo um banho e me jogo no sofá. Assisto qualquer coisa na televisão que chamasse minha atenção.

Não demora muito para Christopher surgir todo arrumado, seu perfume se alastrava por toda a sala me fazendo enjoar. Ele parou no meio da sala colocando seu relógio de ouro, seus cabelos estavam bem penteados e ele se vestia bem. Quando ele me olha eu viro a cabeça fingindo olhar o teto.

─ Estou indo no batalhão, volto para o almoço ─ ele diz sem me olhar.

─ Dia de domingo? ─ arqueio a sobrancelha. Me divirto com sua mentira. ─ Não tem porque mentir.

─ E não tem porque te dizer a verdade, não é da sua conta.

Eu me calo. Aumento o volume da televisão e finjo não me importar com o que ele disse.

Após ele sair sem falar nada eu me encolho no sofá, abraço meus próprios braços e sinto meus olhos marejados. Que culpa eu tinha? O que eu havia feito para ele? Não entendia o motivo do ódio dele. Ele não podia criar uma imagem ruim minha em sua cabeça, ele era um idiota e nem por isso o tratava como um. Queria poder me livrar logo de tudo isso, cursar uma faculdade, ir embora... e deixar esse bebê com o pai.

Me joguei no sofá e encarei o teto, minha cabeça latejava. Eram tantos pensamentos que mal conseguia processar. Não iria aguentar esse tratamento por muito tempo. Se ele não me quer aqui por que me trouxe?

***

Christopher.

Chego rápido na casa da minha mãe, ficava em Ipanema num condomínio. Ela morava sozinha, ela, seus três cachorros e a governanta. Depois da morte de papai ela passou um tempo na Alemanha e depois veio para o Brasil com o intuito de ficar perto de mim, seu único filho. Mas era notável que ela não estava tão bem, a morte dele destabilizou muitas coisas, inclusive a alegria de mamãe. Ela ainda tomava conta da empresa, eu ajudava ela quando preciso, era como ela ocupava seu tempo. Vinha a visitar sempre que tinha tempo, o que era difícil. 

Ela também passava muito tempo com os pais de Wesley, pelo menos não ficava numa total solidão. Naturalmente ela era brasileira, mas havia nascido na Alemanha e meu pai quem era alemão. Eu era muito parecido com ele. Nos mudamos para o Brasil quando papai havia conseguido o cargo de delegado civil aqui, ele amava o Brasil, queria exercer sua profissão aqui.

Um plano da vida #1Where stories live. Discover now