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Fernanda.

A mãe de Christopher não trouxe só uma ou duas peças de roupas, ela trouxe dez, isso mesmo, dez. Sem falar que trouxe uma chupeta azul, fraldas de pano e um brinquedo. Meu filho nem tinha nascido e já estava sendo mimado. Todas as roupas eram fofas, tão pequenas e delicadas, logo um bebê estaria dentro delas, e minha nossa, ele seria tão pequenino. Acho incrível que quando somos criança queremos crescer e quando crescemos queremos voltar a ser crianças.

─ Vou comprar mais, foi de última hora ─ ela diz dobrando tudo com delicadeza.

─ Nós ainda não compramos nada e eu nem pesquisei saída de maternidade ou algo do tipo ─ digo, eu só estava com cinco meses, faltava quatro meses, era tempo demais.

─ Bobinha, deixa isso comigo, pelo menos vou ocupar meu tempo, já tenho em mente o berço que vou comprar... mas claro, quero sua participação, você é mãe e deve opinar.

─ Vamos marcar o dia ─ minha vontade era zero de sair às compras.

─ Deixa eu ver esse bebê? ─ pede com os olhos brilhantes, eu ergo minha camisa dando visão da minha barriga, logo ela beija e passa a mão com um sorriso enorme. ─ Oh, Deus... está mexendo.

─ Ele é muito quieto, quase não mexe.

─ Quando começar os chutes... argh, Christopher era terrível. Christopher era muito agitado, não parava quieto segundo algum, vivia pulando dentro da minha barriga.

─ Como você domava a fera? 

─ Chocolate e chá de camomila... era tiro e queda. Sabe o que Christopher amava tomar quando tinha três anos de idade?

─ Não posso imaginar... ─ Christopher era imprevisível. 

─ Chá de canela gelado.

─ Está explicado sua tara por chiclete de canela.

─ Ele sempre gostou, não tomava durante a gravidez porque não é recomendado, mas acho que se tomasse ele também iria se aquietar.

─ Nem me fale de chá, dona Grazi. Christopher, Rosa e dona Maria, nossa vizinha, me forçam a tomar chá diversos todos os dias, eu não aguento mais.

Ela ri, beija minha barriga e fica fazendo carinho.

─ Chris é muito carinhoso com você, ele também se preocupa muito... se parece muito com o pai dele. Depois que o pai dele morreu minha relação com ele ficou meio difícil, ele era muito apegado ao pai, nós voltamos para Alemanha mas Christopher quis voltar pra cá e estudar.

─ Vocês são da Alemanha?

─ Eu sou de Minas Gerais, o pai de Christopher era natural da Alemanha, o conheci na faculdade, era intercambista e falava português perfeitamente bem. Nós acabamos ficando durante seis meses, nas férias ele voltou pra Alemanha e nas férias eu descobri que esperava um filho dele. O pai de Christopher já era formado em direito, estava fazendo o doutorado. 

─ Deve ter sido difícil o criar sozinha...

─ Tive muita ajuda dos meus familiares e dos familiares do pai dele, mas ele amava o pai, não teve ninguém que o substituísse. Com dezessete ele entrou na faculdade de direito, ele sempre esteve destinado a fazer isso. Queria ser delegado como o pai. Christopher nunca me deu trabalho, e também nunca foi de levar mulheres lá pra casa, ele levava amigas e assim estudavam juntos... você foi a primeira que eu vi ele olhar com diferença. Ele gosta de você.

Eu fico totalmente sem jeito, acabo rindo timidamente.

─ Fernanda? ─ ouço baterem na porta e uma voz doce me chamar. Dona Maria... logo vou abrir a porta morta de saudades.

Um plano da vida #1Where stories live. Discover now