Capítulo XVI - Fogo e gelo

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Naquela manhã, Sir Beorren estava livre para treinar. Levantaram-se cedo da cama, como no último treino. Uma certeza que carregaria pelo resto de sua vida era a de que odiava acordar antes do sol raiar, não importava quantas horas de sono tivessem passado. A julgar pela energia do cavaleiro, aquele treino seria um tanto quanto agitado.

Quando chegaram na clareira, não havia tenda alguma. Tampouco os filhos do lorde estavam ali. Sir Beorren havia explicado que era devido ao Juramento de Aço e Sangue e que eles deveriam se preparar para a cerimônia.

- Os primeiros treinos foram apenas uma avaliação. E devo admitir, é tão horrível quanto seu pai com espadas na sua idade - disse Sir Beorren, arrancando risadas dos meninos.

Em contraponto, Selena lançou o pior dos olhares a eles, o que não funcionou muito, provocando mais escárnios.

- Saiba, porém, que André teve uma facilidade surpreendente para domar o aço.

Ele jogou a espada de madeira repentinamente, contudo, Selena foi mais rápida e a pegou ainda no ar. Sir Beorren ergueu as sobrancelhas surpreso. Todavia, nem por isso pegou leve com ela, pois em um piscar de olhos ele já estava derrubando a espada de Selena, que, por sua vez, iria se abaixar para pega-la, porém, quando deu por si já estava caída sobre a neve.

- Nunca tire os olhos do seu adversário - disse com o gume da espada de madeira bem em seu pescoço. - Use o poder que possui a seu favor. Você tem uma vantagem a mais contra mim. Seria mais rápida do que eu, cujo poder são minhas próprias habilidades. - Com a fivela da bota conseguiu fazer a espada voar até o alcance de sua mão. - Agora, levante-se.

Já no outro lado da clareira, Christopher engasgava-se de rir com a cena. Selena estava começando a odia-lo. Sob a pele do rosto, sentiu seu sangue ferver. Os punhos fecharam-se e pelo reflexo pôde ver uma bola de neve erguer-se do chão, tal ato arrancou palmas de Sir Beorren, contudo, a reação que mais lhe agradou foi ver o sorriso desaparecer do semblante de Christopher. Agradou-lhe ainda mais vê-lo coberto de neve.

Foi a vez de Alec rir-se do amigo. A risada, porém, passou para Selena quando a mesma também o acertou com uma bola de neve.

O sol irrompeu do céu com tamanho esplendor que Selena teve que cobrir os olhos com as mãos. Por um breve segundo, viu brotar das mãos de Kit duas bolas do tamanho de uma de futebol, porém brilhantes e extremamente quentes como o sol. Iriam diretamente de encontro com Selena caso ela não tivesse criado uma espessa doma de gelo a seu redor. Ao toque das bolas de luz, as mesmas se dissiparam em fumaça junto com o gelo que se transformou em água.

- Droga - resmungou ao sentir todo seu corpo molhar.

Contudo, não houve tempo para pensar. Selena era alvo de um garoto em chamas azuis correndo em sua direção. Seu coração quase parou ao escutar o estampido de uma bomba retumbar pela clareira, seu olhar era ameaçador. Selena recuou assustada, tropeçando nos próprios pés e procurando algo para se defender. Precisava de ajuda e gritaria por ela caso houvesse dentro de si coragem. Porém parecia que havia sido abandonada ali à mercê da morte, jurava que até sua alma estava ausente naquele instante. Arrastava-se em desespero na neve ao passo que o garoto-estrela avançava sem indício algum de que iria parar. Isso até Sir Beorren entrar em seu caminho sem demonstrar temor algum.

O garoto parou a centímetros da face do cavaleiro, que permaneceu impassível.

- Alecsander, boa estratégia. Deve fazer isso contra seu inimigo quando ele estiver desprevenido. Exceto quando é uma pessoa que não faz nem uma semana nesse mundo.

Princesa de Gelo: O Legado da Aurora [Vol 1]Kde žijí příběhy. Začni objevovat