Princesa de Gelo: O Legado da Aurora [Vol 1]

Capítulo XXVI - Luvas

— Expliquem-me a razão de visitarem a colega de vocês ao invés de estarem na aula...

Dalienne iria responder quando o cavaleiro ergueu a mão fazendo um gesto para esperar.

— Até porque, caros yarns, a Srta. Daenholt tem uma enfermeira a seu dispor. Então não existe razão plausível para terem faltado a aula.

Sir Rhonos havia aguardado à porta toda a aula de etiqueta para dar o sermão, do qual, de antemão, os havia avisado que daria assim que todos saíssem da sala. A Lady Pomelle paginava um livro qualquer na carteira ao lado da saída, havia cedido ao sir sua mesa para que pudesse usá-la naquele instante. O trio permanecia em pé, cabisbaixo, enquanto era silenciado toda vez que tentava se explicar contra alguma acusação dele.

— Vocês ouviram a Sra. Menrich?! Nenhum de vocês tocou na garota Daenholt não, né?

Opa! Não evitou o franzir das sobrancelhas quando Hendrik e Dalienne recuaram um passo ao seu lado. Não podiam nem disfarçar! E não demorou para o cavaleiro notar.

— Carter? Não esperava isso de você! Sempre sendo uma aluna que apresenta aptidão para ser uma excelente cavaleira com sua obediência e esforço... — Inclinou-se para a amiga a direita com um olhar repreensível, meio cético — E você, milady, o que espera ouvir do Lorde Alliand se souber disso? — Balançando a cabeça, ergueu novamente a mão pedindo para que permanecesse calada em meio a sua vã tentativa de se justificar. — Não vou delata-la, Lady Dalienne, mas esta é a primeira e última vez, ouviu, yarn?

Assentiu, aliviada.

— E você, Hendrik? Seu pai detestaria saber que o filho do Lorde Seagurd está desobedecendo as regras...

— Meu pai é lorde? Ele ganhou aquele terreno dalém da montanha? — Seu entusiasmo foi sobremaneira tão grande que quase correu para a saída a fim de contar para a mãe e irmãos, afinal, todas as notícias de cavaleiros do ducado eram primeiro informadas aos parentes que residiam no castelo. 

— Positivo, Sr. Seagurd. Dê orgulho a ele! — Estendeu a mão a fim de cumprimentá-lo, parabenizando-o. — Foi esta semana. Mas voltando ao assunto... Carter, quero que procure até o fim do dia o Mágister Zharos e evite tocar em mais alguém. Não divida nenhum material seu com mais ninguém. Por precaução, use essas luvas — entregou-as após tê-las retirado da bolsa ao qual trazia consigo —, é bem possível que o que... o que estava na Srta. Daenholt tenha passado para você.

Não era uma simples impressão sua que após saírem da sala de aula que Hendrik e Dalienne estavam um passo a mais distantes, embora o menino tentasse diminuir a tensão com uma conversa sobre como Griffith parecia perfeitamente saudável afirmando que estava bem para a Sra. Menrich, que não aceitava o fato de que os três estavam ali.

A paciência chegou ao limite quando ia abrir a porta que dava ao campo de treinamento ao mesmo tempo que a amiga, a qual imediatamente recuou a mão.

— Dalienne! Eu não estou contaminada — reclamou, franzindo as sobrancelhas.

— Desculpa, Lena, mas...

— Eu já fui atacada por um tenebrae, se esqueceu? — Não conseguia evitar que a raiva fluísse por suas palavras; tanto ela quando Hendrik agiam como se ela tivesse uma doença mortal a ponto de se contaminar só pelo olhar. — Se eu fosse realmente intolerante ao que sei lá os tenebraes fazem, não estaria aqui há tempos...

Hendrik foi o primeiro que entendeu a lógica, porém, temeroso, aproximou o dedo no ombro dela. Não creio! Se ele estava debochando, então devolveria na mesma medida. 

Mal esperou se posicionar na fila onde aguardavam pelo professor, ergueu os olhos como se estivesse enlouquecendo e começou a sacudir os braços e ombros, soltando um ruído vindo da garganta, como quem estivesse imitando muito mal um lobo engasgado. Não querendo mostrar que lutava para não rir àquela altura, quando os dois olhavam-na aterrorizados, jogou o cabelo para a frente com um movimento de cabeça e ergueu as mãos aos amigos. Não sobrou tempo nem de recuarem, pois já gritavam feito duas gazelas.