Capítulo XXXVII - As torres

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Após caminharem por horas pelos corredores do alcácer, enfim encontraram a saída que os levou às fossas onde eram jogados os excrementos humanos. O cheiro era exponencialmente forte, provocou náuseas até mesmo nas crianças. Portanto, fugiram o mais rápido dali antes de que o cheiro impregnasse em suas vestes. Graças a Orion, não deram de cara com nenhum tenebrae em meio à escuridão da noite. A cidade, àquela altura, estava silenciosa demais, o que os fez transitar pelas ruas evitando emitir ruído algum, o que não foi fácil, pois, uma vez ou outra, as crianças faziam algum barulho, ora de propósito ora sem querer.

Passaram a madrugada escondidos nos estábulos, entre feno e fedor. Lyra teve uma crise de choro, um misto de desagrado por estar num lugar poeirento e desespero, temerosa de que sua vida não fosse mais a mesma, cismou que os pais haviam morrido e que estavam vivendo um apocalipse.

Ao amanhecer, retornaram ao alcácer pelas portas principais. A senhora de Polus foi quem os atendeu. As enormes olheiras, profundas e roxas, estavam marcadas de lágrimas. O cabelo bagunçado e as vestes abarrotadas mostravam que passara a madrugada em claro, certamente lutando contra os seres. Todavia, a pele feito mármore estava ilesa, nem um corte sequer havia sido traçado no vestido.

Ela os acolheu de imediato e agradeceu Christopher, que recebeu total crédito pelas crianças estarem sãs e salvas. Rhaysen não se incomodou, como se fosse costume ser ignorado pela lady.

Somente seria permitido caminhar pelo alcácer os professores e acompanhados por uma tropa de cavaleiros. Passou pelo Lorde Hillistan e companhia quando seguiam para o dormitório após Dalie ter sido liberada pelo pai para ficar com os amigos. Nunca havia se passado pela sua mente que o Exército Negro era tão grande, chegara a seu conhecimento de que haviam mais de mil cavaleiros dentro do castelo, assim como por todos os cantos de Polus; muros, ruas e vielas eram somente transitadas por eles. Nenhum cidadão estava permitido de vagar pelas ruas, o comércio estava proibido de ser aberto e o portão não abriria nem para um camponês ferido ou doente. As aulas haviam sido suspensas, sendo obrigatório a permanência no dormitório.

Os noviços estavam reunidos no hall, concentrados ao redor da enorme lareira, visto que não saiam de lá desde a noite anterior. Naquele momento, discutiam sobre o ocorrido. Selena preferiu ficar no alto da escada, junto aos amigos.

- Seu pai sabe daquilo? - perguntou Hendrik sem citar o que haviam visto nas masmorras.

- Acredito que sim.

Hendrik passou uns segundos em silêncio relembrando a conversa.

- Ele falou que Malthor está entre nós...

- Mas não se referia a Lynn - disse Selena.

Ela estava apoiada ao ombro do amigo. Embora descansasse os olhos por não ter dormido, ouvia atenta a conversa.

- Ele disse como se sua presença estivesse de fato em Polus - continuou.

- E o que Malthor está esperando? - perguntou Hendrik. - Quero dizer, já sabe qual é o quarto de Selena, pegar o colar não será difícil.

- Obrigada por me chamar de fracote - ironizou ela.

- Mas não é verdade? Ele não é imune fogo, mas o gelo...

- Não há nada que se possa fazer. O colar não quebra - disse Dalie.

Repentinamente, algo na conversa que havia entre os noviços chamou a atenção de Selena.

Princesa de Gelo: O Legado da Aurora [Vol 1]Where stories live. Discover now