Capítulo XL - A Gruta

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— O QUE DISSE?!

A voz do lorde retumbou como um violento trovão no acampamento. Sua respiração estava pesada com a descrença acerca da notícia sobre a filha, os ombros subiam e desciam rápidos enquanto mantinha um olhar ameaçador que somente Rhaysen conseguia encarar face a face.

— Dalienne foi levada pelos tenebraes — murmurou ele sem esconder a angústia na voz, mantendo o olhar no pai embora estivesse de cabeça baixa.

— Por culpa sua! — bradou.

Selena se tremia por inteiro. A culpa era na verdade sua por não feito nada para impedir.

— Senhor — interviu Christopher —, se me permite a palavra, a culpa foi minha. Foi eu quem tive a ideia de caçar. — A firmeza na voz era tanta que o Lorde Alliand quase acreditou em sua mentira. Quase.

— Conheço você, Christopher Dheon Corwenn, desde que veio a cá aos sete anos. Conheço melhor ainda o filho que tenho. Admiro seu gesto nobre, porém não está no seu poder decidir o que um pai deve fazer com seu filho. - Virou-se para Rhay; todos no acampamento fitavam-no. — Para que aprenda, rezará por três horas ajoelhado sobre grãos de milho quando voltarmos para Polus. Não dormirá até que a encontre. Fará as patrulhas mais que qualquer cavaleiro. E nem que eu fizesse você cumprir mil castigos, recompensará a vida da sua irmã. Reze para que ela volte viva, caso contrário não torne sua face a mim outra vez. — Suas palavras eram mais afiadas que o gume afiado de uma espada, cuja lâmina aquecida ao fogo da ira dilacerava cada órgão interno de Rhaysen, destruindo-o completamente por dentro. Pôde ver pelo seu semblante soturno sua alma ser consumida pela aura cinzenta da aflição.

Deu as costas ao filho e dirigiu-se a Sir Doherty, que tinha Dalienne como escudeira até então.

— Reúna o Conselho. Mande cartas aos membros. Agora — disse entre os dentes. O dedo indicador fechou em um punho cerrado, contendo a explosão do furor que insistia em romper. — Peça a Mágister Zharos que envie uma carta ao rei. Aceitarei que soldados da sua tropa real se junte aos nossos neste exato momento. Quero patrulhas redobradas por todo o ducado de Polus.

Lorde Elford esporou a montaria de seu cavalo, sendo seguido por Sir Doherty e deixando apenas o mais absoluto silêncio. Ninguém moveu nenhum músculo, observavam qual seria a reação de Rhaysen ante ao que o pai havia dito.

E esperaram.

E pela primeira vez, desde que chegou àquele mundo, deu por si de que tudo era real. Mesmo com a morte de Griffith, foi necessário sua melhor amiga ser sequestrada para ter aquele choque de realidade doloroso. As pessoas que ali viviam eram tão iguais quanto às que conhecia no seu mundo. A ficha enfim caiu. Toda ação gerada, toda decisão tomada trazia consequências. E a consequência os alcançou. Os tenebraes haviam levado não apenas Dalienne, mas junto com ela se foi a fé de que conseguiria dar um fim à toda a maldição que o colar trazia consigo.

— Rhay... — chamou Sothie, bem baixinho.

Ele não respondeu.

Os demais cavaleiros e escudeiros se voltaram para seus cantos. Selena viu Sir Auryn pedir para que se aproximasse.

— Busque os galhos para a fogueira. Você e Sothie — mandou ela. — Ficaremos por aqui um bom tempo...

Aquele "por aqui" significava sem sombras de dúvida a permanência indeterminada da ronda na floresta.

A terceira filha do lorde nem lançou o olhar a ela quando Sir Norrand lhe ordenou o mesmo. Rumou floresta adentro como se já soubesse aonde se localizava a madeira adequada para a fogueira.

Princesa de Gelo: O Legado da Aurora [Vol 1]जहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें