V

2.6K 331 72
                                    

  O dia passou mais rápido do que uma manteiga deslizando numa panela quente(às vezes me pergunto o porquê da minha existência, porque tipo, eu falo nada com coisa nenhuma na maioria das vezes). Voltei para casa e já cheguei recebendo uma notícia maravilhosa, pra não dizer o contrário.

  Eu mal tinha me sentado na mesa para jantar, e meu pai já foi logo falando:

  — Filha, eu e sua mãe vamos à Brasília para trabalhar e ficaremos por lá por uns 5 dias. A gente vai amanhã mesmo. Quem vai ficar com você é sua avó, pra você não morrer de fome, então se comporte.

  — Como assim a vó vai vir pra cá? – Perguntei desesperada — Eu simplesmente não posso ficar sozinha em casa? Eu sei cozinhar o almoço!

  — Do jeito que tu é minha filha – Minha mãe falou — É mais fácil você explodir a cozinha do que cozinhar um arroz.

  — Mãe, eu sei fazer um arroz! – Insisti.

  — E aquela vez que eu pedi pra você colocar a comida no microondas por 30 segundos e você entendeu 30 minutos, aí a comida queimou junto com o microondas? – Perguntou meu pai estressado.

  — A-aquilo foi só um acidente... – Gaguejei.

  — Minha filha, o que tem de demais em ficar com sua avó? – Indagou minha mãe.

  Expliquei para ela os motivos. Eu poderia fazer uma lista imensa, mas decidi dizer os principais. Primeiro, ela já me fez engordar 8 quilos. Segundo, ela acha que minha vida é como o livro 50 Tons de Cinza e fica dando palpite sobre tudo. E, por último, mas não menos importante, ela só toma banho uma vez por semana com o argumento de que precisa economizar a água do planeta.

  — Ninguém se importa. Vai ficar com sua avó e ponto final. E, por ter falado mal da minha mãe, vá já pro seu quarto! – Meu pai falou com a cabeça prestes a explodir.

   Levantei da mesa e fui para o quarto, bufando. Não tinha como aquilo ficar pior. Sério mesmo.

  Me joguei na minha cama com o maior desgosto do mundo. Aquele dia realmente foi péssimo. Eu só queria deitar, dormir e passar o tempo rápido. Sem ninguém me pertubando.

  Mas, quando eu menos quero que alguém me pertube, sempre aparece alguém. E esse alguém quem era? Exatamente, Ângelo.

  — Amanhã você vai pra aquela festa e tu vai ter que ficar mais bonita que a Rihanna. Porque se tem alguém que vai pegar alguém lá, esse alguém é você.

  — Meu Deus, cala a boca – Pedi bufando — Eu não vou pegar ninguém. Será possível que eu tenha que virar freira pra tu entender isso?

  — Já fui cupido de uma freira em 1898... – Comentou Ângelo — E é bem chatinho até. É bom não ter nada pra fazer, mas você tem que literalmente fazer nada até a pessoa bater as botas. E mesmo se fazer uma freira se apaixonar, não adiantou de nada no meu caso... Ela amava demais o trabalho.

  — Você muda de assunto tão rápido né? – Perguntei olhando para os olhos azuis dele.

  — Ah, você comentou sobre ser freira, eu tinha que falar dá experiência que eu tive...

  — Por que você quer tanto que eu pegue alguém hein? – Questionei frustrada.

  — Esse é o meu trabalho. E eu acho que eu já te expliquei isso né?

  — Mas isso não faz sentido, se eu não quero você não pode negar minha vontade, pronto, acabou!

  — Dani, Dani – Ele se sentou na minha cama e pegou na minha mão, com um olhar triste – Você não escolhe por quem você se apaixona, você apenas... Sente. Você pode até sentir coisas pelas pessoas erradas, mas...

  — Você já disse isso antes querido... – Suspirei.

  — Dá pra você ficar ao menos 5 minutos sem me dar cortada? – Ele perguntou com raiva.

  — É só tu não me irritar.

  Ângelo me encarou.

  — Se você for mais gentil comigo, eu te ajudo com sua avó.

  — Como? – Dei um salto da cama interessada.

  — Eu vou fazer ela te deixar em paz enquanto ela estiver por aqui. Ainda não sei como vou fazer isso, mas farei. E, em troca, eu quero que você seja um pouco mais compreensiva comigo.

  Pensei um pouco em sua proposta. Se eu fosse compreensiva com ele, ele me convenceria a usar meus sentimentos, fazendo com que eu me apaixonasse, o que eu não queria. Mas, em contrapartida, eu ficaria livre da minha avó, o que seria, tipo, um alívio para mim. E tipo, eu poderia provar para Ângelo que nada faria me apaixonar por alguém novamente.  Então, eu decidi o que eu queria:

  — Aceito sua proposta.

  O cupido se espantou.

  — Sério? Nem esperava isso.

  — Eu sou a pessoa mais imprevisível do mundo meu anjo. – Mandei um beijo irônico. Ele deu umas risadas, mas nem tantas.

  Ficamos então calados. O silêncio chegou a ser constrangedor. Então Ângelo puxou assunto.

  — Você vai pra festa amanhã, não vai?

  Suspirei. Eu não queria ir, mas eu concordei com ele né, então eu tive que ser compreensiva.

  — Eu vou, mas não prometo que vou ficar com alguém ou sei lá.

  — Isso já é um grande começo! – Ele sorriu para mim – Eu prometo que vou fazer você mudar de ideia. Porque esse é meu trabalho.

  — Só pra avisar que eu não mudo de ideia tão fácil tá?

  — Você que pensa. – Ele deu umas risadas e logo depois sumiu.

  Eu estava começando a gostar daquele cupido. Ele aparentava ser bem legal. Talvez eu já o considere um amigo, apesar dele saber tudo de mim e eu quase nada dele.
 

Meu cupido é um desastreOnde as histórias ganham vida. Descobre agora