XIII

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  Passei o dia tentando descobrir o que aconteceu com Lucas. Por que ele simplesmente estava me ignorando, e ficava conversando com os outros normalmente? Pelo o que eu sei, eu não fiz absolutamente nada.

  Cheguei no Renato e comecei a fazer um monte de perguntas pra ele.

  — Eu sei que você sabe o que aconteceu, por que não me conta?

  — Dani, eu não sei de nada!

  — Você está mentindo. Quando você fica mexendo muito no cabelo é porque está mentindo.

  Renato imediatamente para de mexer no cabelo.

  — Tá, eu vou admitir, eu sei. Mas só depende dele te contar o que aconteceu.

  — Como assim?

  — Pode ser muito difícil pra ele, sabe – Falou olhando para o horizonte — Ele certamente não gostaria que eu fosse quem te contasse isso. Então ou ele te conta, ou você descobre. Mas acho que a segunda opção é a mais fácil.

  Comecei a pensar comigo mesmo. O que eu poderia ter feito? Eu realmente não sabia. Eu precisava descobrir.

  Rapidamente, fui ao banheiro e chamei pelo meu desastre de cupido.

  — Ângelo, preciso da sua ajuda. – Falei.

  — O que é que tu quer? – Ele perguntou bocejando.

  — Eu quero que você espione o Lucas pra eu descobrir o que tá acontecendo. – Ordenei.

  — Ué, não está na cara? – Ângelo deu um sorrisinho.

  — Como assim?

  — Ele tá mal porque você deu um pé na bunda dele. Você deixou ele na friedzone.

  — O que? Mas no dia do shopping ele tava de boas comigo!

  — Você que acha isso – Ângelo coçou a cabeça — Ele tava conversando apenas com Renato. Ele simplesmente te ignorava. Você nem percebeu isso.

  — Mas eu disse um não pra ele, e as pessoas devem aceitar um não! Não é por causa disso que ele tem que ficar estranho comigo!

  — Talvez você tenha que conversar com ele sobre isso, e...

  Quando a porta se abriu. Eu engoli em seco. Ângelo ficou sem reação. Quando percebi, era Valentina.

  — Uou... Eu sei que você é uma piranha corna chifruda vagabunda, mas não sabia que é ao ponto de comer caras no banheiro feminino, e ainda caras gostosos hein – Valentina deu um sorriso maligno, pegou o celular dela e tirou uma foto — Parabéns, você acabou de destruir mais ainda sua reputação. E gatinho, quem sabe um dia Daniela possa levar outro chifre, se é que você me entende.

  Ela fechou a porta do banheiro. Eu não sabia o que falar. Ângelo ficou paralisado.

  — E-eu juro que não previ isso – O cupido finalmente se pronunciou, gaguejando completamente — Foi muito de repente.

  — Você não tem culpa de nada Ângelo – Me virei pra ele e segurei sua mão, enquanto olhava em seus olhos — Nós temos problemas maiores, tipo... Ela tirou foto disso. O que ela pode fazer com isso com certeza pode ser pior.

  — Eu acho melhor eu sumir antes que cause mais problemas a você.

  — Que é isso! Você não me causa problemas nenhum...

  O cupido me lançou um olhar triste.

  — Acontece que você que é o meu problema... – Ele sussurrou tão baixinho que mal dava pra entender. Eu nem sabia se isso era mesmo o que ele falou.

  — Não entendi o que você disse...

  — Deixa pra lá – Ele me deu um abraço por algum motivo que eu não sei. Eu sentia seu coração palpitar, juntamente com o seu corpo esquentando. E eu tive uma sensação estranha, por algum motivo — Te vejo por aí. – Ele me soltou, me olhou outra vez, como se estivesse se despedindo, e desapareceu. Eu realmente não entendi aquela cena toda.

  Quando eu estava prestes a sair do banheiro, ouvi uma conversa. Era Valentina e alguma amiga dela. Acho que era a Bianca.

  — Se ela ainda não saiu do banheiro, ainda deve tá com esse cara – Falou Valentina — Eu fiquei espiando o tempo todo, definitivamente ninguém saiu do banheiro.

  — Só quero que você me prove que essa foto não é montagem, porque eu realmente nunca vi esse cara nessa escola.

  Valentina riu. Eu senti a porta se abrindo.

  — Olha aí... Espera! – Valentina começou a olhar em volta, provavelmente procurando pelo loiro que estava no banheiro comigo.

  — Valentina, acho que você pirou hein. – Bianca falou.

  — Eu tenho certeza que ele não saiu daqui!

  Me aproveitei da situação pra deixar Valentina mais confusa e Bianca pensar que ela era louca.

  — Desculpa, de quem você tá falando? – Perguntei, forçando irritação na voz.

  — Onde está aquele loiro bem branquinho que estava com você não faz nem 2 minutos?

  — Me desculpa, mas eu só tava aqui trocando meu absorvente, e você abriu a porta do nada. – Aparentemente, deixei ela mais confusa ainda, pois ela olhava pra foto e olhava pra mim várias vezes seguidas.

  Bianca, frustrada, foi embora. Por ser um tanto fofoqueira, provavelmente foi espalhar que Valentina é uma louca. E Valentina, sem saber o que fazer, apenas saiu correndo. Sem mais nem menos

  Dei um sorriso. Pela primeira vez na vida, consegui humilhar aquela piranha. E o boato dela ser louca só iria se espalhar mais, fazendo ela ficar mais humilhada.

  É um pouco triste isso ter acontecido, mas depois de tanto menosprezar os outros, acho que ela merece sentir na pele o quão ruim é ser menosprezada.

  Saí do banheiro aliviada, pois um problema tinha sido resolvido. Mas eu ainda tinha um problema pra resolver: eu tinha que falar com Lucas. Por bem ou por mal.

  Depois de procurar pelo garoto, o achei isolado, ao lado da cantina, em um canto escondido, comendo uma banana.

  — Você não pode fazer isso comigo só porque me recusei a beijar você. – Falei me sentando ao lado dele.

  — Tu não faz ideia do quanto que me magoou com aquilo. – Ele finalmente disse algo diferente de "saia daqui" ou "me deixe em paz"

  — Você tem que aprender a aceitar um não! E eu ainda tive cuidado com minhas palavras, pra não te magoar, mas eu sei que te magoei no fim das contas! Mas não é por causa disso que você tem que parar de falar comigo. Você entende meus motivos. Eu mesma expliquei.

  Lucas dá uma mordida desanimada em sua banana.

  — Eu realmente não te entendo – Lucas falou enquanto mastigava a banana — Você é um mistério pra mim. Quando eu acho que tenho uma chance, você aparece dizendo que tá namorando.

  — Lucas...

  — Tudo bem. Os sentimentos não escolhem por quem se apaixonar. Eu entendo isso. Nem sei porque me apaixonei por você. Meu cupido é um idiota.

  Aquilo que ele falou soou muito engraçado pra mim. Será que Ângelo conhece o cupido de Lucas?

  — Eu sou louco por ti, mas você só me vê como um amigo, e eu entendo isso – Ele terminou de comer a banana, finalmente, e passou a olhar em meus olhos — Mas eu queria só um desejo. Só pra matar um pouquinho minha vontade. Só pra eu poder te deixar em paz. Depois disso, você nem precisa olhar mais pra mim, se quiser.

  — Qual é o seu desejo? – Perguntei, inocentemente.

  Lucas respirou fundo.

  — Eu quero te beijar. Só uma vez pelo menos. Só pra matar a vontade. Só pra eu ter pelo menos a sensação de felicidade por ter te beijado.

Meu cupido é um desastreWhere stories live. Discover now