XV: a princesa perdida
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Vinte anos antes
Ravel acordou com as vozes ao seu redor. Estava fraca, exausta, faminta e sedenta. Abriu lentamente os olhos, a luz que batia em sua face lhe cegava, fazendo-a ver vultos, que a encaravam curiosos.
–– Quem é essa mulher? – O vulto que indagou tinha uma voz feminina.
–– Nós não sabemos, esse barco apareceu ontem, do nada! Foi o velho Remo que o encontrou... Ele disse que estava pescando na baía quando viu um barco em alto mar, vindo na direção dele, soprado pelo vento do oeste... Vocês viram a bandeira que está no mastro? Não pertence a nenhum reino de Saas... Ou, pelo menos, não desta Saas que conhecemos! – A voz masculina contava tudo aquilo como quem conta uma história para crianças – Remo disse que o barco veio do Ocidente!
–– Impossível! – Disseram várias vozes...
–– Alguém tem uma explicação melhor? Nenhum reino tem o emblema de árvore que está na vela desse barco, então de onde ele veio? E repararam nas vestes desta mulher? São belíssimas... – A voz das histórias continuou com o suspense – Provavelmente ela era alguém da realeza!
–– Ou talvez uma sereia que beijou um homem e virou humana! – Outra voz intrrompeu a história, num tom de euforia.
A bagunça começou, cada um contando uma história diferente para a maior fofoca que já tinha aparecido em Pillar!
–– O que está acontecendo aqui?! – O tenente da cidade apareceu na porta do convés e abriu a boca, espantado ao ver Ravel – Quem é essa mulher?
–– Ela veio do Ocidente! – Respondeu rapidamente o homem das histórias.
–– Não, ela é uma ex-sereia!
Novamente a bagunça. O tenente desembainhou a espada e, fincando-a no chão do navio, gritou.
–– Ordem! – Todos calaram-se imediatamente e ele continuou – Muito bem, vamos levá-la para a enfermaria... Quando ela estiver boa, perguntamos o seu nome e de onde veio...
Deitaram Ravel na rede de pesca que havia no barco e dois homens, segurando cada um numa ponta da rede, levaram-na para a enfermaria, acompanhados do tenente e de centenas de curiosos. Parecia que todos os habitantes de Pillar não tinham nada melhor para fazer.
Três dias depois que Ravel estava na enfermaria, tomando soro e recebendo atenções especiais, ela finalmente acordou. E logo a notícia se espalhou, trazendo novamente uma multidão às portas do centro médico. Quando o tenente chegou, trazendo os trinta e cinco soldados de Pillar, deixou-os guardando a porta, enquanto entrava para questionar Ravel. Porém, o homem das histórias deu um jeito de passar pelos guardas, entrando na enfermaria, disfarçado de mensageiro do rei.
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As Lendas de Saas
Science FictionLivro completo. Vencedor do Wattys 2016 na categoria EDIÇÃO DE COLECIONADOR. Em um mundo tão humano quanto o nosso, a ambição de um rei leva à morte todas as outras famílias reais do seu continente. E após uma longa e sangrenta batalha, a História c...