Precisamos conversar

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Ana esperava pacientemente que o choro de Vitória  cessasse, torcia para a outra adormecer logo, talvez assim pudesse sentir algum alívio no meio de tanta dor.

Queria entender porque Vitória  não conversava, o silêncio talvez fosse a prova que ela ainda não confiava plenamente na outra, ou talvez fosse simplesmente a maneira que a mais velha encontrou de lidar com a dor, certamente não era a melhor
maneira.

Desgrudei a cabeça do peito dela e olhei mais uma vez para a minha namorada, como podia ser tão linda... tão forte e tão frágil ao mesmo tempo?

Eu tentava controlar a respiração para também controlar o choro, sabia que Ana estava preocupada e que não tinha culpa de nada, mas com ela por perto eu me sentia vulnerável, Ana com uma marreta invisível quebrou cada pedaço do muro que eu ergui esses anos todos com a desculpa de que estava me protegendo, toda a dor e medo engolidos desde que Jasmim foi tirada de meu convívio estava emergindo sem controle algum. Talvez porque agora eu estava amando novamente, talvez porque agora tenha recebido provas concretas de que minha filha estava viva ou talvez porque simplesmente eu estava seguindo em frente, mesmo sem a Jasmim.

- Quando você estiver preparada, estarei aqui para ouvi-la, para saber o que está sentindo....

Vitória  olhou para Ana e reparou que ela também tinha lágrimas nos olhos,
seus olhos marejados expressavam compaixão, ternura e preocupação. Não era justo deixar Ana sofrer, não era justo chorar depois ter feito amor com aquela mulher sabendo que ela também a amava.

- Obrigada Ana - agradeceu abraçando a namorada - eu te amo tanto - sorriu
secando as últimas lágrimas e decidindo que não deixaria que elas voltassem a cair.

- Me desculpe se eu fui insensível - Ana mordeu os lábios e Vitória  franziu as sobrancelhas.

- Insensível?

- Sim… você teve a casa roubada… eu nem mesmo perguntei…

- Tudo bem, estar com você foi a melhor coisa que aconteceu essa noite - sorriu - posso dormir aqui hoje?

- Mas é claro que pode!

- Vou procurar outro lugar para morar, algo mais simples e mais seguro - falou olhando para o teto - acho também que teremos que adiar a nossa viagem, já que sua irmã está aqui.

- E para onde a senhorita pensava em me levar?

Bom -  olhei para Ana - hoje você me “apresentou” sua pessoa favorita no mundo, eu quero te mostrar o meu lugar favorito - sorriu.

- Estou ansiosa.

- Aliás, é o meu segundo lugar favorito - beijou a testa da namorada.

- Ah, é? E qual é o primeiro?

Me aconcheguei enroscando os braços em Ana.

- Bem aqui, nos seus braços, definitivamente este é o meu lugar favorito no mundo.

- Ana sorriu orgulhosa pela fala da outra - toma um banho comigo?

O mundo lá fora não existia mais, aquele cômodo era o suficiente para nos duas, nos  esqueceram completamente de Felipe e dos outros, como se somente nos duas bastassemos e bastava, Ana sequer fez menção de saírem daquele quarto, eu também  não falaria nada, Ana não sabia como realmente estava o meu  estado emocional sempre tentava dar espaço ao mesmo tempo em que queria saber mais, era realmente difícil não ultrapassar aquela linha invisível entre a compreensão e a invasão do espaço da outra.

 Decidi que não sairiamos, dormiria algumas horas, acordaria cedo e levaria café da manhã na cama para Vitória , a acordaria com beijos, a faria se sentir bem vinda, honraria aquele lugar definido como o seu favorito.

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