Escolhas

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~~~\ Vitória

Escolher.

Optar, decidir, adotar, eleger.

Todos os dias, em todos os minutos, a cada respiração temos uma escolha para fazer, mesmo inconsciente de nossos atos, escolhemos. Mesmo quando estamos na dúvida, mesmo pensando que o outro escolheu por nós. As escolhas movem a nossa vida, nos fazem viver o que vivemos para ser quem somos. Se nossas escolhas forem ruins, seremos escravos delas (pelo menos por um tempo, até podermos escolher novamente).
Se as escolhas forem boas ganhamos a alforria para aproveitar o doce deleite da vida.

Partir ou ficar

Pegar ou Largar

Sorrir ou lamentar

Verdade ou mentira

Direita ou esquerda

Medo ou destemor

Pensar sobre as escolhas da vida me fez viajar anos atrás, no fatídico dia em que minha Jasmim foi sequestrada e Sophi morreu. Por meses tentei voltar naquele dia buscando memórias, não para saber o que aconteceu, para mim as duas mulheres da minha vida estavam mortas, mas para tentar lembrar os pequenos detalhes de como elas
estavam, o vestido rendado de Jasmim, suas mãozinhas agarradas ao fio do balão que a pequena tanto insistiu para que eu comprasse, sua pequena e delicada boca me pedindo
para ir no pula-pula juntamente com os olhos suplicantes, eu não queria deixá-la longe de mim, algo me dizia que eu não deveria, mas Sophi a mandou para longe, disse que eu
podia deixar a menina se divertir, a felicidade que ela ficou de ouvir aquele sim me deixou dividida, me entregou seu gigante balão para que eu o segurasse até a sua volta, isso
nunca aconteceu. Essa foi a segunda pior escolha daquele dia, a primeira foi se render a insistência de Sophi para ir até aquela apresentação, dizia que precisávamos sair e Jasmim amaria ver os fogos de artifício, a criança precisava ver as mães felizes e nisso eu tive que concordar com Sophi, que tomou minha atenção o tempo inteiro, como se realmente quisesse me conquistar de volta.

O mundo parou de girar quando ouvi seus gritos, soltei o balão que rapidamente se perdeu no céu, Jasmim chamava por suas mães enquanto um homem a arrastava para longe de nós, em uma tentativa desesperada de pegar nossa criança de volta nos pusemos a correr e gritar, mas fomos impedidas por mais homens, embora o grupo fosse grande, eu não me importava, cada passo que eu dava em direção a Jasmim era uma ameaça que faziam a mim, Sophi gritava para que levassem ela no lugar da nossa pequena, olhei ao redor e notei que as pessoas estavam fugindo, mães e pais correndo com suas crianças para longe, algumas pessoas se jogando no chão, tentava entender onde tudo tinha começado e o que estava acontecendo, Alguém precisava nos ajudar.

Talvez aquela tenha sido última escolha errada daquela noite, continuei correndo e quando
dei por mim Sophi estava em minha frente, levando um tiro por mim, caindo por cima do meu corpo, perdendo sangue e morrendo. Eu pensava que não conseguiria sem ela, a abracei forte pedindo para que ela aguentasse firme, mas ela já estava morta. A pancada na minha cabeça não me matou, mas quando acordei várias horas depois e me informaram que Sophi estava morta e estavam procurando o corpo de Jasmim no mar, eu quis desesperadamente estar morta.

Partir ou ficar

Morrer ou viver

Ana, pensar naquele maldito dia fazia a minha garganta se fechar, a culpa tomava conta de mim de todas as formas, buscar prazer em outros corpos era só uma das válvulas de escape para que eu sobrevivesse, mas depois de Ana, pensar naquele dia me faz acreditar que resignação existe, que eu estou aqui por um motivo e que não foi atoa que Ana entrou em minha vida. Eu precisava dela.

O vento gelado fazia as folhas das árvores balançarem rapidamente e eu batucava o volante do carro ainda indecisa, minha dúvida não era com quem eu queria estar e sim se
eu deveria. Peguei o celular para conferir mais uma vez se eu estava no endereço correto, aproveitei e li a mensagem que Ana me mandou no dia anterior.

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