Capítulo 3

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Ei! Obrigada catarina13ac pela nova capa linnnnnnda que tu fez! Tu é um ícone <3

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- POV Ana –

Era segunda-feira de novo. As meninas tinham aula de teatro. Dessa vez fui sozinha, já que Mike tinha ficado no estúdio para gravar algumas coisas para o novo projeto que estava trabalhando. Estacionei o carro em frente ao estabelecimento e desci, levando as duas até a porta do auditório, como sempre fiz. No instante em que me despedi, pude ver a mesma mulher dos cabelos cacheados de frente para um quadro de cortiça que havia ao lado do balcão da secretaria. Antes de continuar meu caminho para o carro, parei. A encarei enquanto colocava as tachinhas em cima do papel que estava pregando. Logo que ela terminou e se virou, seus olhos olharam diretamente para os meus. Algo dentro de mim estava pedindo ajuda, algum lugar para correr, com a tamanha vergonha que meu rosto abrigava.

"Você aqui de novo?" ela perguntou, com um sorriso bobo no rosto.

"É... tenho filhas que fazem aula contigo, cê sabia dessa?" respondi, segurando a risada. Levantei meus óculos, que estavam apoiados na ponta do nariz.

"Ah, sei quem são. Adoráveis que nem você" por final, riu, ajeitou seu cabelo e deu uma última olhada no pequeno relógio que estava em seu pulso. "Preciso ir, tenho uma aula para dar. 'Té mais tarde", concluiu, e se foi. Ela se foi em passos curtos o suficiente para mostrar que não queria ir, queria ficar por aqui, botar o papo em dia. Meu rosto havia tomado a coloração mais avermelhada que eu já tinha visto na vida depois do que ela havia dito e logo em seguida ter ido embora.

Me virei para ver o papel que ela havia pregado no quadro. O mesmo dizia, em letras garrafais e outras chiques, "Procuram-se músicos e regente (voluntários) para compor orquestra da peça de outono. Instrumentos: violino, violoncelo, contrabaixo, piano, harpa, flauta, oboé, clarinete, fagote, trompa, trompete, trombone, tuba e percussão. Favor entrar em contato com a secretaria da escola informando nome, telefone para contato e cópia de documento com foto." Meu coração parou no mesmo instante. Li e reli diversas vezes. Não pensei duas vezes até sair do local e procurar uma copiadora para fazer minha inscrição no exato momento que vi.

Saí da escola às pressas e caminhei pela rua à procura de um lugar para fazer a xerox. Por fim, encontrei uma gráfica. Fiz a cópia e voltei, onde fiz minha inscrição para o piano. Gê, a secretária, nunca ficou tão surpresa com a velocidade de alguém para uma peça como a minha. Ela não parava de falar sobre o quão difícil era achar pessoas realmente empolgadas em participar de algo não remunerado.

Me sentei no sofá que havia na recepção e abri o celular. Haviam algumas poucas mensagens de Mike dizendo que estava me esperando no estúdio para que eu pudesse ajudar na parte instrumental das músicas. Respirei fundo, guardei o celular e saí da escola.

- POV Vitória –

"Boa tarde, galerinha da pesada. Vocês tão bem? Tiveram uma boa semana?" cumprimentei os alunos enquanto entregava os papéis com as falas.

"Ei, Du" Luísa chamou Eduardo, que estava distraído olhando cada detalhe que havia nas folhas. "Olha que demais! Eu vou fazer a Wendy" então ele olhou. E ficou pasmo com a notícia, já que em seu papel estava escrito que seria o Peter Pan. Bufou, se levantou e saiu do lugar. Lu deixou bem claro em sua feição que havia ficado chateada. Aquele coração batia pelo meu filho assim como o meu batia por sua mãe.

"Você tá de brincadeira, né?" ele chegou em mim, cutucando meu ombro e me fazendo virar. "Eu não vou fazer com aquela garota".

"Dudu, nem tudo são flores. Você vai ver, vai ser legal. Você vai acabar gostando no final. Depois me diga obrigado", agachei e ajeitei seu cabelo. "Existem marcas no chão com o nome de cada personagem. Procurem o de vocês e vamos começar a ensaiar!" disse, sorridente, indo à frente do palco.

A escola era uma das maiores e mais tradicionais da cidade. Iria ser uma peça e tanto, com alguns finais de semana em cartaz. As crianças que estavam ali estavam preparadíssimas para se tornarem o centro das atenções de diversas pessoas de diferentes idades e também de diretores de peças maiores e até mesmo de novelas, seriados e filmes. E todas elas estavam super animadas com o andamento. Até mesmo aqueles que estavam com papéis de fundo, estavam super felizes. Eram crianças de 8 a 12 anos que nunca tiveram tanto contato com o teatro como estavam tendo naquele momento. Eram crianças sonhadoras, que amavam o que faziam todas as tardes de segunda e terça. Não eram meras crianças matriculadas pelos pais porque teriam que fazer alguma coisa no período da tarde, alguma atividade extracurricular. Eram crianças dedicadas.

[...]

Assim que o ensaio acabou, saí do auditório e fui até a secretaria verificar se alguém havia se inscrito para a orquestra. Geralmente as vagas eram disputadas como os jogos vorazes, e a minha maior alegria era decidir quem iria dar som às peças de teatro. Quando Gê me entregou quatro folhas e vi que uma delas era de uma mulher cujo nome era Ana Caetano, me tornei mais pálida do que já era e comecei a rir de nervoso. Olhei para o horizonte, tapando a boca com a mão e lá estava ela, recebendo suas duas meninas e indo para o carro com o maior sorriso do mundo. E o maior sorriso do mundo também estava nos meus lábios.

a arte entre nósWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu