Capítulo 12

479 45 5
                                    

< POV Vitória >

Quarta feira. Tudo tão rápido. Já era dia de ir para Londres. Eduardo havia acabado de chegar, e estávamos a caminho do aeroporto do Galeão. Dentro do carro, a mesma música de Ana tocava na rádio: "Roda Gigante". Um hino que estava fazendo um bom sucesso no Brasil.

No meio da estrada, Edu me cutucou. Perguntou se iríamos ao show de Ana em Londres. Bati a mão na testa. Eu tinha esquecido. Avisei que quando chegasse no aeroporto iria comprar o ingresso. Ele iria com Luísa, sua amiga.

Assim que chegamos, descarregamos o carro e fomos realizar o check-in e logo em seguida o embarque. Quando sentamos na sala de espera da companhia aérea, comprei o ingresso de Eduardo e logo em seguida, quando ergui a cabeça, pude ver a morena Caetano perambulando pela sala, com o celular ao ouvido. De verdade, o nome disso é perseguição, não é? Se ela pegasse o mesmo voo que eu, juro que... nada. Puxei Eduardo e disse que já estava no momento de ir embarcar. Se ele visse Ana, com certeza iria surtar e querer ir tirar uma foto com ela, falar com ela e blá blá blá. Não. Eu não queria mais esse problema pro dia de hoje.

Saímos de lá às pressas, e enquanto esperava o elevador, virei para trás para ver se ela havia percebido minha presença. Ela estava sentada, concentrada no celular e batendo o pé na capa do seu violão, que estava entre suas pernas. Era a coisa mais adorável do mundo, admito.

Dentro de mim, eu queria voltar para Ana. Eu queria falar pra ela que sentia sua falta. Mas um outro lado meu dizia que não era a melhor coisa a se fazer. Aparentemente eu havia estragado sua vida, e se eu voltasse teria a mesma provável oportunidade. Não. Melhor não.

O elevador chegou, entramos, descemos e fomos até o portão de embarque. Ficamos por lá. Meu coração estava um tanto quanto acelerado só de pensar que ela poderia estar no mesmo voo que o nosso. Ana Caetano, por que você ferra tanto minha vida e o meu coração? Depois de alguns minutos esperando na fila, ela apareceu. E apareceu na fila ao lado, da prioridade. Respirei fundo, apontei para algo do lado de fora para que Eduardo se distraísse – Edu, desculpa por isso.

[...]

< POV Ana >

Já acomodada dentro do avião e esperando para decolar, virei para Felipe, que estava ao meu lado, e cochichei algo sobre o show em Londres. Eu estava realmente muito empolgada só de pensar que seria numa casa de shows tão bonita como Royal Albert Hall. Algumas horas antes de embarcar recebemos uma mensagem da produção que haviam somente alguns poucos ingressos, ou seja, estava prestes a esgotar. ESGOTAR. UM. SHOW. EM. LONDRES. Cara, a que ponto minha carreira havia chegado, não?

Passei a observar o trabalho dos funcionários no exterior da aeronave, quando percebi a presença de cabelos cacheados um tanto quanto loiros. Ao seu lado, uma criança com a mesma aparência, porém mais jogado pro ruivo. Tirei os óculos, limpei as lentes e me certifiquei que era Vitória e seu filho, cujo nome eu não lembrava. Respirei fundo e olhei para fora novamente.

Vitória Falcão, como explicar essa mulher? Literalmente a mulher mais bonita e mais incrível – por dentro e por fora – que eu já tinha visto. Ela tinha os olhos cor de marte, a pele macia e a alma leve. Era a mulher dos meus sonhos. Professora de teatro e amante de música assim como eu. Ela havia ganho um prêmio no exterior e estava indo buscar. O meu prêmio podia ser ela. Queria muito que resolvêssemos toda essa questão. Londres, por favor abençoa esse relacionamento.

O voo inteiro fiquei observando seus movimentos. Ouvir sua respiração por 11h20min foi a maior benção do meu dia. O jeito que ela cuidava de Eduardo, ainda que fosse grande o suficiente para se cuidar, era adorável. Ele só sabia ficar no celular e às vezes parava para ler algum livro também relacionado a teatro, mas volta e meia cutucava a mãe para comentar sobre a peça de teatro que, pelo que eu entendi, ele estava estrelando em São Paulo. A conexão era linda e intensa. Eu queria fazer parte disso também.

Luísa e Helena. Eduardo me lembrava as duas. Me lembrava que elas estavam em algum lugar do mundo vivendo as próprias vidas, sem mim. Eu queria ser uma mãe presente, mas por causa de Mike eu perdi essa chance. É, pelo que eu pouco sabia, ele também não era um pai presente. Eu não coloquei filhas no mundo para viverem a adolescência com outros pais. Podia ser eu e Vitória. Eu realmente não sentia falta de Mike, não sentia falta nem da sua presença no mundo. Ele não fazia diferença. Depois do que fez com as minhas filhas, eu não conseguia mais nem suportar a sua existência.

Chegamos por volta de 13h30 em Londres. Fiz questão de ser a última a sair. Vitória também. Que coincidência, não? Quando 95% do avião estava vazio, e os outros 5% eram eu, Felipe, Vitória e Eduardo, levantei. "Bora, Fe. Agora" fiz sinal e levantamos. A melhor reação foi de Edu, que aparentemente era fã do meu trabalho.

"Meu. Deus. Do. Céu. ANA CAETANO É VOCÊ?" ele disse, me observando com uma cara de assustado enquanto eu pegava meu violão. Assenti com a cabeça e pude ver ele cutucando Vitória sem parar e dizendo "mãe, véi, é a Ana!". Ela literalmente só sorriu e deixou ele a vontade. Veio me pedir uma foto, tiramos uma selfie e fui embora com Felipe.

< POV Eduardo >

Cara. Ana Caetano tava atrás de mim o voo inteiro e eu só percebi quando ela levantou. Como assim? Sem condições, de verdade. Quando eu contar para Luísa ela vai ficar doida. Minha mãe nem pareceu surpresa, ainda sabendo que eu gostava muito dela. Admito que senti um clima um tanto quanto estranho entre os olhares das duas. Ana a observava com um olhar tipo, "é, me descobriram" e ela respondia com "desculpa por isso". Minha cabeça estava confusa. Bem, pelo menos eu havia conhecido ANA FUCKING CAETANO!

Desembarcamos por último, logo depois que Ana e seu empresário saíram. Fomos pegar nossas malas e por todo esse tempo ela estava perto da gente. Ela era tão pequena, tão adorável... aquelas madeixas castanhas, os óculos redondos e dourados, o cachecol enrolado em volta do pescoço, a jaqueta jeans e a carinha de cansada.

Ana Caetano era literalmente um anjo, ninguém poderia ir contra esse fato.

Ana Caetano era literalmente um anjo, ninguém poderia ir contra esse fato

¡Ay! Esta imagen no sigue nuestras pautas de contenido. Para continuar la publicación, intente quitarla o subir otra.
a arte entre nósDonde viven las historias. Descúbrelo ahora