Capítulo 7

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= POV Mike =

Terça feira. Assim que saí de casa, tudo pareceu não fazer sentido. Tudo pareceu estar incrivelmente confuso, louco, maluco, doido, pirado. Era o caos. Era o apocalipse. Mas era verdadeiro. Aquela era a verdade. Assim que saí, fui procurar um lugar para ficar. Liguei para Guto e perguntei se poderia me hospedar em seu apartamento pelo menos essa noite. E foi pra lá que eu fui. Quando cheguei, não havia ninguém em casa. A chave estava debaixo do tapete e foi assim que entrei. Quis explodir. Quis jogar tudo na parede, quebrar, expor minha raiva para o mundo.

= POV Ana =

Eu ainda estava sentada. Sentada olhando pro apartamento vazio, onde só eu o habitava. Dentro de mim, o ódio pela minha pessoa ficava rodando por cada órgão e cada pedacinho do meu corpo. Suspirei, pensei duas vezes antes de pegar o prato e jogar na parede, levantei. Tentei fazer as coisas na calma, na paz. Tentei esquecer a cena, mas martelava na minha cabeça. Terminei de tirar a mesa, de limpar as coisas e então me deitei no sofá. Liguei a TV, me cobri com a coberta que Mike sempre usava pra dormir na sala enquanto assistia filme e apaguei. Dormi que nem uma criança, dormi como nunca havia dormido antes: profundamente. Ainda que a preocupação me consumisse, se ele iria fazer algo ruim por raiva, eu descansei. E queria descansar pra sempre depois daquilo.

= POV Mike =

Quarta feira. Encontrei com Guto e sua esposa, Clara, passei a manhã com os dois. Respirei fundo e fui embora. Passei na casa da amiga de Helena e Luísa, busquei as duas. E sumi. Sumi do mapa sem nem querer voltar. Me hospedei em um hotel nas redondezas da escola de teatro e por ali fiquei. Por ali fiquei por dias e noites, esperando Ana dar falta dos seus bens mais preciosos que dividia comigo. Saía à noite pra comer, sempre em horários que ela não iria nem ter chance de vê-las. Nem ela, nem aquela embustecida da Vitória. Caras de pau.

= POV Ana =

Quando cheguei na casa de Alice, elas não estavam mais lá. Meu coração disparou e eu fui coberta de desespero. Minha primeira reação foi ligar para Maicon. Não atendeu o telefone, e com certeza elas estavam com ela. Em algum lugar bem longe daqui. Raiva. Ódio. Desespero. Angústia. Tudo em um só coração e em uma só alma. Minha segunda reação foi ligar para Vitória. Aquela que não deveria nem mesmo ter minha atenção depois de ter destruído meu relacionamento. Mas que também deveria, porque eu a amava mais que tudo.

"Alô? Quem incomoda?" ela perguntou, usando aquele tom brincalhão que só ela tinha.

"Vi...tória. O Mike. Levou as crianças" respondi, soluçando e provavelmente chorando um tanto demais.

"Como assim? Espera, o que aconteceu? Ana? Explica, pelo amor de Maria Madalena" pude perceber o desespero passar a ser mútuo.

"Eu te encontro... na escola. Me espera lá" desliguei e dei partida no carro.

A cada farol eu parava pra olhar pros lados à procura das duas. Eu procurava em todos os cantos. Até mesmo nos menos prováveis. Nada. Nada. E nada. Idiota. Imbecil. LIXO!

Estacionei o carro. Saí. Me sentei nos degraus. Depois de alguns minutos a cacheada apareceu, um tanto quanto desesperada e em prantos assim como eu. Ela se sentou ao meu lado e me abraçou. Perguntou o que havia acontecido e tudo que ouviu foi meu choro. Eu não sabia o que fazer, nem pra onde ir, nem como continuar a vida.

"Aninha, vai dar tudo certo. A gente vai achar elas. Nada vai ficar assim. Eu sei que eu... passei dos limites. Desculpa estragar tudo. Mas você vai ter elas de volta. Elas são fruto seu, e não merecem ficar longe de você. Eu quem mereço. E talvez seja melhor assim. Foi tudo muito rápido, eu nem raciocinei direito, foi tudo por impulso. Desculpa de novo. Eu tô aqui por enquanto, mas já já eu vou embora. Eu sumo da sua vida, não apareço mais e você pode ficar com seu marido de novo. Eu não queria que fosse assim" ela disse, enquanto tentava me acalmar e segurava minhas mãos. Pude perceber algumas lágrimas escorrerem em seu rosto, que mostrava que ela não queria ir embora, mas se fosse pelo meu bem, ela iria. Ela me amava. E eu também a amava. Eu queria minhas filhas de volta, queria ficar com elas e ficar com Vitória. Um pé ali, outro pé aqui.

A vida é feita de decisões. E são decisões como ficar com o (provável) amor da sua vida ou ficar com suas filhas pra sempre que me deixa confusa. Me deixa paranoica. O que Mike poderia fazer com elas me deixava preocupada. Me deixava com medo de que ele poderia mata-las. Ou sei lá, maltratasse elas. Meu coração clamava em saber se estavam bem, se estavam em um lugar seguro, se estavam em um lugar suficientemente protegido do mal que o mundo tem. Poderiam ficar com Guto, poderiam ficar com Felipe, poderiam ficar com tanta gente, menos com ele. De Mike eu não duvidava nada. Ele era capaz de fazer tudo. Ele era capaz de sair do país com as duas e eu não saber nunca. E eu tinha medo que ele fizesse isso. Por impulso, por raiva, por ódio do fruto do nosso relacionamento.

Enquanto pensava, Vitória se foi. Ela tinha uma aula pra dar.

Ela deixou um beijo na minha cabeça e foi embora, sem o compromisso de voltar.

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Oi, desculpa pelo sumiço. Demorei um tempo pra raciocinar como que ia continuar depois dos dois terem acabado. É isto. Fiquem bem. Podem cobrar mais capítulos quando quiserem, palpitar, darem ideias, opiniões, é isso aí. Chama no twitter (@dengocaetano). É nozes.

💪

a arte entre nósTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang