Capítulo treze

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"O passado pode doer, mas você pode fugir ou aprender com ele."

— O Rei Leão.

      O carma é uma vadia

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      O carma é uma vadia.

      No momento que ouvi sua voz tudo de ruim sobre meu passado voltou, tudo que guardei no fundo do baú voltou a tona. Sem responder nada desligo o telefone e o jogo longe.

— Quem morreu? — Ian pergunta se levantando rindo.

      Sem responder apenas pego meu sobretudo preto e saio do quarto. Ele me segue de perto.

— Suzi? Espera. Suzana! — chama me segurando — O que aconteceu? 

      Meus olhos se enchem de lágrimas e sinto uma dor muito grande no peito.

— Meu pai — sussurro.

      Ian não pergunta mais nada. Segura minha mão e me leva para o carro dele. Eu afivelo o cinto de segurança, ele engata a primeira e me leva até a casa dá tia Cassie.

      Não sei o que eu esperava encontrar. Talvez o mesmo pai que foi presente em minha vida por dezesseis anos. Ou o mais presente que um cirurgião conseguia ser o que não era muito. Quem sabe eu esperasse que ele continuasse o mesmo homem alegre que visitava a filha a noite apenas para dizer que a ama.

      Mas o que eu queria mesmo saber era o que ele queria.

      O motivo de, depois de tantos anos, ele enfim decidir me procurar. Uma parte de mim sabia que ele precisava de alguma coisa de mim, e isso me deixava irritada. Mas, bem lá no fundo, eu esperava que ele só quisesse mesmo me ver. Conhecer novamente a filha, recuperar os anos longe.

      Que grande tola eu sou. O ser humano só pensa em si mesmo e nos próprios interesses. É uma constante dá humanidade. Poucas pessoas ficam fora desse grupo, e pelo meu passado, sabia que meu pai não era uma delas.

      Quando Ian estaciona o carro na frente dá casa da tia Cassie minha respiração acelera.

— Ei, calma — ele diz me abraçando — eu estou aqui, se quiser que eu dê um tiro nele é só pedir. Sou um possível serial killer lembra?

      Dou risada e o beijo. Estava nervosa com o reencontro. Não sabia qual seria minha reação ao ver meu pai novamente. Pretendia ficar séria e agir normalmente, mas eu sabia que não era muito boa em controlar minhas emoções. Seguro firme a mão do Ian e nos dirigimos a entrada.

      Antes de chegarmos a porta, Cassie sai dá casa e vem até nós.

— Suzi — ela me abraça — por favor, me escuta, você sabe que eu também não gosto nada do que ele fez a você e a minha irmã, mas ele precisa mesmo de você.

      Eu apenas a encaro séria, o calafrio em meu estômago aumentava cada vez mais.

— E por favor, tente ser simpática com elas — e então volta para dentro.

      Olho para Ian. Elas quem?

      Aperto a mão dele e me dirijo a passos firmes até a porta. Entro na grande sala e congelo. Tudo ao meu redor desaparece. Vejo apenas meu pai, parado a minha frente. Seus cabelos estão grisalhos, e seus olhos cansados. Ele continua com a mesma postura impecável, mas algo está diferente. Os anos cobraram seu preço e apesar de ainda ser um belo homem posso ver em sua expressão cansaço e também dor.

      Por cerca de cinco segundos eu permaneço calma apenas encarando ele, mas todo meu passado volta quando olho para seus olhos azuis.

      Rick e sua morte, minha mãe levando o tapa que a fez fugir e sua morte. A recusa dele em aparecer no enterro dela e seu sumiço. Antes que pudesse me conter, corro em sua direção já com lágrimas escorrendo. Soco seu peito com força.

— Seu desgraçado! Você matou minha mãe seu filho dá puta! — grito enquanto bato nele.

      Ninguém na sala reage, acho que todos estão tão surpresos quanto meu pai. Começo a chorar alto como uma criança. Toda a dor volta de uma vez só. A morte do meu irmão e dá minha mãe. Gritos escapam dos meus lábios acompanhando as muitas lágrimas.

      Ele não faz nada, apenas fecha os olhos e aguenta calado.

— Olhe para mim! — grito segurando seu rosto — olhe para a filha que você se recusou a ver por oito anos!

      Levanto minha mão para lhe desferir um tapa, mas alguém me segura e me afasta dele. Ian me envolve com os braços fortes e me carrega para longe. Eu me debato como uma criança tentando me livrar dele.

— Me solta Ian! Por que você resolveu aparecer agora?

      Ian me leva para o estúdio de fotografia dá tia Cassie e fecha a porta atrás de si.

— Me desculpe dizer isso — ele diz me soltando — mas ver você assim me deu a maior vontade de te agarrar.

      Eu olho para ele e começo a rir com lágrimas nos olhos. Ele me abraça forte.

— Sei como deve ter sido difícil. Nunca imaginei que você tinha um instinto violento desse. Muito obrigado por não revelar esse seu lado contra mim.

      Dou risada. Essa era uma das coisas que eu mais amava nele. Fazia o possível para me ver sorrir. Mas então a dor voltou. Ele me abraça forte quando volto a chorar como uma criancinha.

      Todo o choro que guardei em mim por quase cinco anos, desde a morte dá minha mãe. Devo ter chorado por alguns minutos, mas Ian não disse nada.

— Me desculpe pelo descontrole lá na sala — digo quando enfim me acalmei.

— Não se desculpe, gosto do seu lado selvagem. Me excita se quer saber — ele dá um sorriso malicioso.

      Eu me sento em uma das poltronas que há ali. Massageio as têmporas. Estou muito cansada. O evento foi cansativo, andar a tarde em Los Angeles também. Não dormi nada. A exaustão toma meu corpo.

— Me leve para casa Ian.

— Você não quer saber o motivo dele estar aqui? — ele pergunta se aproximando.

      Olho para ele com raiva.

— Quero ir para casa dormir. Não me interessa o que ele quer. Ele levou oito anos para querer algo de mim, pode me esperar por mais um dia.

      Ele levanta as mãos como se estivesse se rendendo.

— Calma fera, não me ataque. Vou levar você. Vamos.

      Saímos do estúdio e só então percebo duas mulheres que nunca vi antes. As duas estavam ao redor do meu pai que estava sentado no sofá. Ao me ver ele se levantou e veio até mim.

— Filha, por favor...

      Olho para ele com raiva e ele se cala.

— Não quero falar com você agora. Nem deveria ter vindo.

      E sem dizer mais nada saio dá casa e entro no carro. Ian entra logo depois de mim e me leva para casa. Só queria dormir e esquecer tudo. Gostaria de poder apagar tudo e começar aquele dia novamente.

Sob a Luz de Mil EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora