Capítulo dezoito

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"A base de qualquer relacionamento é a confiança. Não se pode amar pela metade, dá mesma maneira que não se pode confiar pela metade."

— Prometida, Carina Rissi.

— Prometida, Carina Rissi

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      Três meses. Era o tempo que Ian estava em Washington comandando sua equipe de pesquisa. Nos últimos meses eu venho me sentindo exausta e irritadiça. Ou as vezes, muito emotiva. Com os hormônios á flor dá pele. Lydia dizia que era falta de sexo.

      Andava um pouco estressada por estar cuidando dos projetos do observatório praticamente sozinha, mas essa noite seria diferente. Ian estava vindo de Washington para passar o fim de semana comigo. Ou eu esperava que viesse.

      Nas últimas semanas ele havia cancelado várias vezes, dizendo estar atolado de coisas para resolver. Eu nunca reclamei, afinal, havia sido minha ideia ele ir. Isso não quer dizer que eu não ficava furiosa, mas procurava não demonstrar.

      Tomo um banho quente e desço para preparar a mesa. No meio dá escada meu telefone toca. Volto correndo para o quarto, quando olho no visor sei exatamente o que vai acontecer. Era o Ian.

      Ele normalmente só liga na sexta a noite quando não vai vir. Suspirando atendo.

— Oi meu amor — ouço sua voz.

— Oi — digo cabisbaixa.

— Não fique triste — ele diz — Me desculpe mesmo, mas não deu para sair daqui hoje. Nos vemos na semana que vem?

      Uma lágrima escorre por meu rosto.

— Tudo bem — digo — Amo você.

      E desligo.

      Jogo o celular em cima dá cama e decido pedir comida chinesa. Quando minha janta chega me sento a mesa para comer.

      Depois de já ter comido metade dá minha porção de yakisoba sinto meu estômago se revirar. Corro para o banheiro e quase não chego a tempo. Quando já pus para fora tudo que havia comido escovo os dentes e decido ir dormir.

      Ian cancelou a vinda mais três vezes depois desse dia. Já não ligava mais todos os dias e quando ligava parecia distante. Até que em uma sexta ele apareceu. Eu já havia desistido de esperar e por isso já tinha jantado quando ouço a campainha.

      Era quase onze horas dá noite. Olho pela pequena janela que há na porta. É Ian. Pulo em seus braços quase que imediatamente.

— Que saudades! — digo com a voz abafada.

— Eu também estava — ele diz.

      Ele janta o que restou dá minha macarronada e pega suas coisas para tomar banho.

      Quando chego no quarto, Ian está apenas de roupa íntima. Meu corpo se ascende na mesma hora. Tanto tempo sem seus toque me deixou afoita.

— Você está me devendo uma coisa muito importante — digo.

— O que? — ele pergunta malicioso.

      Me aproximo, passo meus braços por seu pescoço e o beijo devagar.

      Sinto sua excitação e o beijo se intensifica cada vez mais. Até que acabamos sem roupa e suados. Ao final de tudo Ian entra no banho.

      Permaneço deitada até ouvir o telefone dele tocar. Me levanto e visto a primeira peça de roupa que encontro, uma camiseta sua. Antes que pudesse atender, a ligação cai. 

      Vejo que há várias mensagens de alguém chamada Regina.

"Ei bebê", diz a primeira.

"Precisamos conversar sobre o que aconteceu."

"Eu sei que não devia ter feito aquilo, mas você nunca teria coragem de fazê-lo."

"Não pode fugir para sempre."

      Encaro o celular atônita. Novamente o celular toca. Atendo com as mãos tremendo.

— Até que enfim me atendeu docinho! — diz a voz de Regina.

      Sem conseguir responder apenas fico quieta.

— Alo? Ian? — ela chama.

      Depois de mais um minuto de silêncio, ela percebe que não é Ian que está ao telefone.

— Quem é? — pergunta.

— O que você quer? — digo com a voz fraca.

      Ela desliga assim que escuta minha voz. Encaro o celular sem acreditar no que acabei de ver e ouvir. Minha cabeça gira e então a ficha cai. Tudo faz sentido agora. As semanas a fio que ele ficava no trabalho enquanto eu ficava sozinha em casa.

      O motivo de ele estar tão estranho comigo, de agir sempre distante, como se sempre tivesse algo mais importante para se preocupar. 

      Ouço o barulho do chuveiro e rápido procuro papel e caneta pelo quarto. Pego uma folha e escrevo com uma caneta preta as palavras que mudariam minha vida.

"Agora eu entendi tudo, o motivo de você quase sempre ter trabalho e não vir nos finais de semana. O seu motivo tem nome, e se chama Regina."

      Lágrimas escorrem por meu rosto e molham o papel. O deixo em cima do computador, pego minha bolsa, as chaves e saio correndo. Desço rápido as escadas e entro no carro. Respiro fundo e vou embora dali o mais rápido possível. Há gelo na estrada e ele é liso, um perigo e um prato cheio para acidentes.

      Minha visão se borra por conta das lágrimas quando paro em um sinal vermelho á caminho do apartamento de Ronnie. Precisava dela, conversar com ela. Ligo o rádio na tentativa de me acalmar. Uma de minhas músicas favoritas começa a tocar. A melodia animada me deixa um pouco melhor, por apenas um segundo, e então lágrimas voltam a cair.

      O sinal abre e eu avanço.

      Já notou que basta apenas um segundo para toda sua vida mudar?

     Apenas um segundo é o que basta. Um segundo para perder seu irmão e sua mãe. Um segundo para devolver o sorriso do garoto bonito sentado ao fundo dá cafeteria e para dizer sim a esse garoto no altar. E um segundo para ser traída.

     Um segundo. É só o que a vida precisa para rir de você e te dar uma rasteira.

      Um segundo para que um bêbado venha em sua direção em alta velocidade sem que você possa fazer nada e um segundo para que o monitor cardíaco pare de registrar batimentos.

      Esse foi o tempo que levou para eu perceber o que ia acontecer e por impulso acabar jogando meu carro para fora dá pista na tentativa de me salvar. Minha mente ficou vazia e então a dor chegou. A única coisa que me lembro depois disso foi várias sirenes, muita dor e do Ian.

      Se eu tivesse previsto o que iria acontecer naquela noite talvez não tivesse saído. Ou talvez sim. Porque apesar das coisas ruins que aconteceram naquela noite, também teve uma coisa boa. 

      Aconteceu a melhor e a pior coisa dá minha vida. Uma seguida dá outra.

Sob a Luz de Mil EstrelasWhere stories live. Discover now