If I hurt me, I can love you with no fault

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[N.A.] Hi, dears! Postei mais cedo hoje, porque, sinceramente, eu mal estava me aguentando de ansiedade. Eu tinha esse capítulo pronto desde segunda, e o próximo também está pronto, eu estou ficando muito animada com a fic! Mas você vão ter que sofrer, haha :)
Enfim, MEU ETERNO OBRIGADA A TODOS QUE COMENTARAM E VOTARAM E DIVULGARAM A FIC, eu amo vocês com toda a minha alma, sem vocês eu não sou nada <3
Sobre Endless, eu juro que vou postar ainda essa semana (preguiça mandou oi), estou quase terminando o capítulo, o começo de uma fanfic é sempre o pior, porque você quer que seja perfeito, e não quer decepcionar ninguém, entendem? Para aqueles que acompanham, eu juro que logo posto!
Fora isso, acho que é tudo. Sigam-me e comentem também pelo twitter @larryinocente, aceito qualquer tipo de assunto, críticas, sugestões, elogios, paçoca, qualquer coisa. Amo vocês, lindos. E para aqueles que estavam tão preocupados com o Louis, voilá! :D [/N.A.]

3º. P.O.V.

Deitado sobre o chão de porcelana frio, Louis sentia-se em paz como nunca antes. Um dos braços estava posto sobre os olhos, já inchados e secos das lágrimas que derramara. Estava nu, apenas com uma boxer escura, e, por mais que a noite tivesse caído com uma mudança significativa de clima, o garoto não sentia frio. Não sentia mais nada. Seus músculos estavam rígidos, e seu coração funcionava uma batida por vez, tão lenta e dolorosamente quanto sua própria respiração. O peito subia e descia com dificuldade, parecendo inalar doses extras de sofrimento a cada lufada. O ar já estava rarefeito, mesmo que o banheiro fosse grande o suficiente para uma festa de pequeno porte. Entretanto, tudo ali parecia ser a cara de Harry. A banheira bege lustrosa, o piso amarelado quadriculado, a bancada com perfumes e diversos tipos de gel, até mesmo o tapete antiderrapante branco felpudo, cuja qual Louis se encontrava deitado, e que também estava manchado de sangue.

A dor excruciante já havia passado, restara somente um certo incômodo ao andar. Sua pele estava esticada, e a cada mísero movimento, ela dilatava-se, causando algo como mil picadas de abelhas, mas era algo com que Louis podia se acostumar. Foram duas horas de pura agonia, apertando contra sua coxa a cinta de espinhos. O par estava polidamente bem cuidado, e o couro continuava firme tanto quanto cinquenta anos atrás. Agora, só restava o sangue seco grudado aos extremos, e os espinhos pinicavam seu músculo, fincados tão fundo que quase atingira o osso.

Sabia que o certo era deixar a cinta apenas por alguns minutos, ou então poderia causar algum dano permanente na carne, mas não se importava. Era preciso. Suportaria a dor e as consequências. Se a usasse frequentemente, então não precisaria se preocupar com os sentimentos ruins. E então poderia amar Harry livremente, porque Deus o perdoaria. Deus perdoa aqueles que se dispõe a dor para expurgar os pecados, e ama seus filhos que tem a alma pura e o coração limpo. E Louis poderia amar sem culpa.

Sua perna estava com um doentio tom arroxeado em volta das artérias, e os buracos fincados com o acessório estavam cobertos de vermelho-escuro. Estava deitado há algum tempo, quando sentiu os olhos escurecerem pela perda eminente de sangue. Viu estrelas encherem o céu, e sorriu, porque era lindo. Viu Harry em algum lugar, cantando para ele, e sorriu, porque era lindo. Achou que havia chegado sua hora, mas então acordou com a forte luz do banheiro acesa. Não se importou. Estava em paz, e o sono lhe arrebatou como um velho amigo. O embalou em seus braços, embebedando-o com sonhos coloridos. Tudo ficaria bem, e a dor diminuiu, até não se fazer mais presente.

Não conseguiria levantar até que sua circulação se normalizasse. Seus lábios continham feridas de tanto mordê-lo, enquanto apertava a cinta em torno do interior de sua coxa. A princípio foi mais doloroso, infinitamente mais. Era como queimar os membros, lentamente, e não pudesse sair do fogo. Ele o queimava cada vez mais, e a sensação excruciante acabou por desmaiá-lo por alguns segundos. Deitado no piso frio com o celular em mãos, chorava desesperadamente, murmurando orações e pedindo perdão a Deus. Por mais que valesse a pena, era difícil de suportar. Pensava em Harry, como sua luz pessoal. Ligou algumas vezes, mas ele não atendera, e chorou mais ainda.

Chorou muito. Nunca havia chorado tanto em sua vida, inundando suas pernas e fazendo os buracos recém-abertos queimarem mais ainda em contato com a água salobra. E chorou. Chorou toda sua alma, murmurando palavras desconexas que ecoavam pelas paredes e rebatiam nele.

Chorou por seu passado, cheio de manchas escuras, de pecados, de sofrimento. Chorou pela mãe que nunca conheceu, que o abandonou em uma caçamba de entulho qualquer, que nunca lhe deu afeto ou lhe acariciou os cabelos para dormir. Chorou pelo pai biológico que nunca conhecera, que sequer sabia que ele existia. Chorou por Mark, o pai que nunca teve, seu herói, o homem que deu a vida para criar a dele. O homem que o acolhera em seus braços, que o ensinara o certo e o errado, que, a sua maneira, fez de tudo para ver o garoto sorrir. O homem que merecia ser eterno. Chorou também pelos amigos, que apenas queriam seu bem, e não sabiam de tudo que estava acontecendo com ele. Chorou pela sua vida, tão torta e sinuosa, por seus caminhos traçados, pelos erros cometidos, pelas chances desperdiçadas. Chorou pela dor que o atingia, que o imobilizava, seus braços, pernas, cabeça. Chorou de tristeza. Chorou por Harry, em algum lugar do mundo, longe dele. Chorou por não poder amá-lo sem sentir culpa e desprezo, por não poder saborear seus beijos sem o julgamento, por querer tocá-lo e não poder. Chorou por estar apaixonado, tão perdidamente que o céu brilhara mais naquela noite. Chorou por seus sentimentos que não sabia controlar, pelos pensamentos que não podia calar e por suas atitudes que não eram o suficiente. Chorou por ser tão fraco e inútil. Chorou por tudo.

Chorou até dormir, e, quando acordou, os olhos inchados e o peito desfalecido, ficou encarando o teto, embriagado, pensando em tudo e nada ao mesmo tempo. Deus parecia olhá-lo pessoalmente naquele momento, e estava envolto por uma paz tão grande como se tivesse morrido. Em seu céu, Harry o esperava, sem culpa ou remorso, apenas eles e o amor que detinham. E sorriu, tolamente. A perna, já anestesiada, incomodava um pouco quando mexia. O piso de porcelana, manchado e sujo, era reconfortante e tinha cheiro de pinho. Era a cara de Harry. Tudo lembrava ele.

Saiu da Igreja meio tonto, e não sabia para onde ir. Queria ficar sozinho e punir-se sem que ninguém o impedisse. E então lembrou de Harry, e de suas palavras, e de sua necessidade de protegê-lo. Foi para a loja, cambaleante, mas Rose não percebeu nada. Apenas disse que havia um envelope para ele em cima da bancada. E lá estava, como prometido. Em uma caligrafia elegantemente casual, um endereço, dois números e uma assinatura torta. Dentro, uma chave solitária e maços grandes de dinheiro que nunca seria usado. Seu apartamento ficava do outro lado da cidade, e parecia ser um bom lugar para ficar. Louis pegou uma mochila com algumas roupas e disse para Rose que ficaria na casa de um amigo alguns dias, mas viria trabalhar. Ela concordou.

Saiu, então, para pegar um ônibus, e em meia hora apenas estava ali, na frente do prédio. Era grande e majestoso, requintado e peculiarmente familiar. O porteiro era um bom senhor, acompanhado de um rádio de pilha e um chapéu de marinheiro. Disse que ele podia subir, e que Harry parecia gostar muito dele. Aquilo o fez sorrir tremulamente, e quase desistiu. Quase.

Ao subir, no trigésimo andar, pegou a chave em seu bolso e abriu a porta, hesitante, no final do corredor. Era tudo muito grande, moderno e fino. O sofá era de couro, a cozinha era completamente mobiliada com aparelhos de inox, e havia uma pequena escadinha para um outro corredor. O quarto era o maior cômodo, com as paredes de madeira e algumas fotos. Uma cama no centro e um closet mais ao fundo. Uma cômoda, uma TV, um computador, tudo parecendo dolorosamente luxuoso. Se perguntou como Harry tinha dinheiro para tudo aquilo, e mesmo assim, parecer tão solitariamente triste e amargurado.

Deixou suas coisas sobre a cama e foi até o banheiro, trêmulo. Respirou algumas vezes e tomou duas taças de vinho que encontrou na geladeira para tomar coragem. Sentou-se no chão, despido, com as pernas para a frente e o tronco curvado. Os primeiros segundos foram os piores, enquanto o sangue pingava densamente em uma poça no chão. De tudo que poderia pensar no momento, a única coisa que vinha a sua mente era que estava sujando a casa de Harry. No final, o garoto de cabelos cacheados nunca sairia de sua mente.

Logo, suas mãos trabalhavam sozinhos. E então, quando já terminara, deitou no chão, arfando dolorosamente. Harry não atendera o telefone, e tudo estava calmo demais, silencioso demais. Tal como sua cabeça. Há muito que seus pensamentos não se calavam daquela maneira. As vozes ficavam ali, todo dia, toda noite, gritando, berrando, infindavelmente, eternamente. E naquele momento... nada. Apenas o silêncio ecoando em sua própria alma.

Os minutos se arrastaram devagar, e o garoto sabia que tinha que sair dali, uma hora ou outra, e limpar toda a bagunça que fizera. Precisava dormir um pouco, quem sabe forçar alguma proteína estômago abaixo, falar com Harry. Este último era como uma prioridade, essencial, insubstituível. Porém, não queria assustar o cacheado com sua provável voz repleta de rouquidão e aflita. Não sabia quantos dias ficariam separados, mas a última coisa que queria era preocupá-lo sem motivo. Estava bem. Estava em segurança. Estava em paz. E era isso que importava.

Tinha que tomar coragem e se levantar. Sabia que as pontadas se tornariam mais pronunciadas quando se movimentasse, mas era necessário. Por hora, retiraria a cinta e faria alguns curativos rápidos nos furos. Em dois ou três dias, estariam cicatrizados, e então, prontos para serem perfurados novamente. Se repetisse aquele ritual novamente, e novamente, se purificaria completamente, e Deus não o odiaria mais. E estaria livre. Respirou fundo, tocando na pequena cruz de prata dependurada sobre seu pescoço. Sentiu-o queimar contra seus dedos, e uma profunda sensação de nostalgia tomou conta de si. Piscou, acostumando as íris contra a luz. Tinha que fazer aquilo, e quanto mais adiasse, mais sofreria com a dor. Seria rápido, prometeu para si mesmo, como se aquele mantra conseguisse enganá-lo, por um mísero segundo.

Por fim, inspirou fortemente e forçou o tronco para cima, subindo. E, no instante seguinte, desejou não ter o feito. Sua perna latejou com tanta força que seus olhos escureceram por alguns segundos, e sentiu o corpo todo ser atravessado por uma dor alucinante. Era como se tivesse sido jogado em brasa quente, e por mais que tentasse sair, não conseguia se mover. Os ferimentos, ainda estacados, não voltaram a sangrar, mas pinicaram com uma força absurda, que quase o fizeram cair de costas contra o chão. Expirou firme, tentando controlar a tremedeira dos braços, fechando os punhos e calcando as unhas contra sua pele. Uma antiga técnica chinesa que lhe ensinaram. Uma dor sobrepõe a outra, não importa o quão forte ela seja.

Alguns segundos depois, porém, a dor começou a se extinguir mais uma vez. Sua visão se clareou, e suas pernas, estiradas para frente de forma torta e desposta, entraram em foco. Manchadas, sujas, parcialmente inchadas e roxas. A cinta marrom brilhante parecia hilariamente desfocada na cena, zombando silenciosamente. Tentou mover um dos braços, bagunçando o cabelo com a mão direita, e percebeu que movimentava-as normalmente. Esticou as costas, estralando-as, e se preparou psicologicamente para fazer a retirada dos espinhos de dentro da carne. Soltou o ar quente pela boca, e, tremulamente, levou os dedos até o fecho, posto no segundo buraco. Desfivelou, e, com uma coragem desconhecida, forçou-o para a frente e soltou, liberando e folgando agradecidamente. Sentiu parte do metal sair, e mordeu os lábios com tanta força que sentiu o sangue em contato com a língua. Começou a sangrar de novo, pingando e escorregando por entre seus dedos, mas Louis não se importou. Repetiu o processo na outra perna, quase louvando de alívio. Decidiu fazer tudo rapidamente, para não doer tanto. Puxou de uma vez a da perna esquerda, e em cerca de três segundos já estava fora, trazendo consigo um filete de sangue vermelho-escuro. Arfou, gemendo dolorosamente. Os buracos era assustadoramente grandes, e sua borda estava completamente arroxeada. Mas a dor... não fora como imaginou. Se assemelhava como quando você cai de bicicleta e rala o joelho, e depois vai tomar banho. Quando a ferida entra em contato com água quente, arde, dói. Mas gradativamente você se acostuma, e depois apenas passa a incomodar um pouco no local, nada mais. Louis sentia-se com sete anos, e sua ferida era um pouco maior. A água estava muito quente, e o sabonete antibacteriano ardia mais. Mas era igual.

Repetiu na outra perna. Não doeu tanto. Respirou fundo. Fitou. As duas cintas, sujas e apáticas, jaziam ao seu lado, vazias, manchando a porcelana. Suas pernas, vermelhas, roxas, sujas, inchadas, estavam, em todo, boas. E ele estava livre. E puro. E sem culpa. Sorriu.

Dobrou-a com um cuidado excessivo, para se levantar. Se apoiou na banheira, e viu que não era tão difícil agora. Doíam um pouco, mas era uma dor suportável. Logo, estava de pé. Sentia os músculos distenderem e seus pés formigavam, mas sorriu para a figura doentia do espelho dependurado acima da pia. Ela tinha o cabelo oleoso e bagunçado para todos os lados, grudando em sua nuca e na testa. Os olhos azuis estavam apagados e sem vida, e o corpo bronzeado, definido e coberto de tatuagens parecia fraco. Balançou a cabeça, e a figura refletida imitou. Não havia como escapar da realidade que aquele era ele. Talvez melhorasse depois de um bom banho.

Moveu-se com dificuldade, se arrastando, até a ducha. Queria poder relaxar em um bom banho de banheira, mas tinha que dormir e falar com Harry. Ligou o chuveiro, regulando a temperatura até uma aceitável, e molhou os pulsos. Depois, os pés, que relaxaram e alongaram não contidamente. Logo após, os braços. O pescoço. Por fim, as pernas. Chiaram dolorosamente, e ele soltou um longo e rouco gemido. Porém, a sensação era boa. Muito boa, tinha que admitir. As pequenas gotas de água morna caiam e escorriam pela pele, algumas entrando nos buracos e incomodando, levando consigo resquícios de sangue fresco.

Louis puxou uma bucha fofa do suporte, junto com um pequeno tubo de sabonete líquido com cheiro neutro. Despejou, fazendo espuma, e começou a passar por toda sua extensão, gemendo prazerosamente com a sensação de estar se limpando. Ao terminar o tronco, se livrando de cada partícula de sujeira que pudesse existir, passou para as pernas, esfregando mais delicadamente cada um dos buracos, os vendo como marcas de guerra. Eles eram a prova de sua fé, de seu professo, de seu perdão. Agora limpos, livres do sangue seco e do inchaço eminente, pareciam até mesmo simpáticos. Não era como se fosse masoquista, ou algo do tipo, mas os admirava, e se admirava por ter conseguido ir até o fim.

Lavou-se e enxaguou-se por inteiro, pegando do shampoo de Harry com um cheiro particularmente gostoso. Apossou-se de suas coisas como se já fosse de casa, mas achou que ele merecia, depois de tudo. Harry quem insistira para que ele fosse para lá, logo, não se irritaria com alguns mililitros de condicionador para cachos faltando em seu frasco.

Terminou, respirando aliviado, e saiu para o tapete, secando-se com uma toalha felpuda que encontrou no armário. O chão estava particularmente cabuloso, e assim que se trocasse, daria um jeito naquilo. Andar não doía mais, mas, por precaução, arrastou-se até o outro cômodo, pegando uma boxer limpa e uma calça de moletom confortável para dormir. Não eram nem seis da tarde ainda, mas seu organismo clamava por sono.

Vestiu e secou o cabelo rapidamente, jogando-o para o lado sem paciência. Em cima de uma penteadeira simpática, Louis roubou um dos perfumes de Harry, sorrindo ao passando por todo ele. Sentir seu cheiro fazia com que ele tivesse mais perto, e que a saudade diminuísse. E era muito bom. Talvez espirrasse perfume nos lençóis também, temendo não estar agindo como uma adolescente desesperada com a primeira separação.

Pendurou a toalha na lavanderia, jogando dentro da máquina suas roupas sujas, e depois de procurar um pouco, encontrou panos de chão, álcool e produtos de limpeza, em companhia de um balde. Pegou um dos rodos e voltou para o banheiro, despejando tudo dentro do objeto, molhando os panos. Com o rodo, esfregou-os sobre o piso, vendo, gradativamente, as manchas evaporarem. Sorriu satisfeito, deixando seu nariz encher-se com o cheiro agradável de pinho novamente. Quando toda a extensão estava limpa, pegou as cintas e jogou dentro da solução do balde, vendo a cor transparente assumir uma cor rosada. Limpou os resquícios da mesma e voltou para a lavanderia. Lavou o pano e pendurou a cinta próxima da janela, para não apodrecer. Lavou as mãos e voltou para a sala, vendo todo o trabalho concluído. Ter vivido nas ruas e aprendido a se virar sozinho tinha suas vantagens.

Se jogou no sofá, por fim, respirando aliviado. Sentia-se mais leve, e seu coração, mais inchado de amor. Sentiu saudades de Harry, e olhou em volta, vendo como ele vivia em cada parte daquele lugar, da decoração, e como tudo era absolutamente luxuoso. A sala era finamente decorada, os sofás de couro branco, poltronas, cortinas, uma mesa no centro e o chão felpudo. Uma grande TV era cercada de exemplares de livros e caixinhas de Blu-Ray. A cozinha era esplendidamente compacta, com uma bancada no lugar da mesa e cadeiras acolchoadas. Vasos e cestas de frutas complementavam o lugar, junto com armários vitorianos contrastando com a geladeira de duas portas puramente em aço. E, mesmo assim, não ocupava nem um terço da sala de estar. Parecia impressionante a capacidade de Harry para organizar tudo a sua maneira, e ainda assim, ser incrível e prático. Características de Harry Styles, aparentemente.

O banheiro não precisava de detalhes, com a banheira e a ducha de vidro cristalizado. Mas, de todos os cômodos do apartamento, o que Louis mais gostou foi, definitivamente, o quarto, não só pelas possibilidades do que poderia acontecer ali dentro, mas também pela sua simplicidade e luxuosidade, parecendo estar escrito Pertence a Harry Styles a cada pequeno detalhe. O chão de madeira polida, o tapete preto, os lençóis de pura seda escura, os espelhos, as cortinas, a estante coberta de suas histórias. Tudo ali levava diretamente à Harry Styles. Se era o verdadeiro, Louis não sabia. Só sabia que gostara daquele Harry. O Harry simples, o Harry que tinha quadros sobre as prateleiras, o Harry que colecionava carrinhos no fundo do armário (e não é como se Louis tivesse fuçado ou algo do tipo). Aquele era o Harry que Louis queria ao seu lado, que ele queria conhecer e amar mais ainda.

Sentado no sofá, Louis sorriu, e respirou fundo. A dor ainda incomodava sob o tecido macio da calça, mas era bem-vinda. Talvez, se não sangrasse, nem precisaria colocar ataduras. Passou uma pomada rapidamente e já não sentia mais os ferimentos. Não havia motivos para se preocupar. Talvez, até mesmo pudesse ficar com Harry.

Harry. Precisava falar com ele. Puxou o telefone do bolso, desbloqueando a tela e encarando a sua foto. O cacheado estava particularmente lindo naquele dia, quando foram ao parque de diversões. Estavam na roda-gigante, e ele olhava para a janela por um momento, distraidamente, enquanto uma de suas mãos acariciava a coxa de Louis. Seus cachos jogados para trás com a bandana brilhavam delicadamente, contrastando com a camiseta aberta e as tatuagens. Estava tão lindo que não parecia ser real. Era mais como uma miragem, um sonho capturado em um momento de ilusão, eternizado em toda sua beleza e esplendor. Aquela foto apenas aumentava mais a dor de seu peito, alucinante. Daria tudo para estar em seus braços, e enrolar seus dedos contra seus cachos e beijar seus lábios até não poder mais. E faria isso sem culpa, porque havia se livrado de seus pecados, porque Deus não o odiava mais.

Colocou na discagem rápido, e levou ao ouvido novamente, rezando para que eles atendesse, ao menos por alguns segundos. Provavelmente já tinha visto as sete chamadas anteriores, e precisava ouvir sua voz, tanto quanto precisava de ar. Tanto quanto precisava de água, de sol, de comida. Sua perna formigou dolorosamente quando ouviu, com o peito inflando de saudades e amor, a voz rouca e parcialmente chiada do outro lado da linha.

Lou? – Deus, como havia sentido falta daquela voz! Quase podia senti-lo ao seu lado, sussurrando contra seu pescoço. Estremeceu.

– Ei, Hazz... – pensara em muitas coisas para dizer, mas estupidamente, só saíra aquilo. Suspirou, extasiado, e ouviu uma risada baixa.

Tudo bem, doçura? – “não, não está. Estou com saudades, sozinho, confuso, e machucado. Quero me ferir e sentir dor, porque Deus me odeia e eu quero ser aceito. As pessoas olham para mim e apontam, rindo, e meus amigos ao menos sabem disso. Eu fico relembrando do passado, e as vozes malditas na minha cabeça não calam nunca. Elas ficam me acusando de coisas que eu não fiz, eu juro, mas essa culpa infla e toma conta de mim. Eu tenho pesadelos acordado, e tudo que eu mais queria estar você aqui comigo. Eu queria te amar sem restrições, e queria ter coragem para protegê-lo, para ao menos dizer isso a você. Eu tenho medo de dizer, medo de parecer estúpido, medo de ser inútil e vê-lo longe de mim, vê-lo me abandonar como minha mãe vez, como meu pai fez. Eu tenho medo, e isso dói”. Fora isso que Louis pensara, mas o que saiu por seus lábios, em forma de sussurro, fora apenas:

– Bem. – sorriu tristemente para o nada – E como você está? Demora para voltar?

Eu estou bem. Chegamos a umas quatro horas, e acho que em duas semanas, no máximo três, eu estou de volta. – Louis engoliu em seco, sentindo os cantos dos olhos umedecerem. Harry notou o silêncio do outro lado – Ei, ei, não fique assim, querido. Estarei ai antes que você dê falta. – “tarde demais, Styles” – Mas e você? Está no apartamento, como eu disse para você fazer?

– S-sim, estou. É muito bonito aqui, eu gostei! – riu sem humor, limpando as lágrimas que fugiam, e encolheu as pernas com dificuldade, abraçando-as com um dos braços.

Que bom que gostou. Pode ficar ai o tempo que quiser, usar o que precisar. E o dinheiro?

– Você sabe que eu nunca vou usar tudo aquilo. – Louis revirou os olhos, e Harry riu, sabendo que o garoto provavelmente teria feito aquilo – Mas obrigado. Eu guardei com as minhas coisas, fique tranquilo.

Ótimo, ótimo. – parecia satisfeito – Eu... hm... estou com saudades, Lou. – murmurou depois de algum tempo, e Louis riu internamente, derretendo-se por inteiro ao ouvir aquelas palavras. Harry não parecia ser do tipo que expressa os sentimentos com palavras, mas aquela declaração via telefone o surpreendeu, de uma maneira agradável.

– Também estou com saudades, amor. – graças a Deus, Harry não podia vê-lo corar, mas ouviu sua risada melodiosa, e sentiu seu sorriso.

Eu preciso ir. Nos vemos em breve, doce. – engoliu em seco, assentindo, mesmo que não pudesse ver – Fique em segurança, não faça nenhuma besteira, por favor. Tchau.

– Tchau. – sussurrou, um segundo atrasado, e segurou o aparelho por mais alguns segundos na orelha antes de soltá-lo lentamente.

Estava feliz por ter falado com Harry, mas triste por ter desligado. Triste por ele estar tão longe, em um lugar que ainda fugia do conhecimento de Louis, e, principalmente, triste por ele demorar tanto a voltar.

Devagar, levantou-se e se arrastou até o quarto. A única coisa que podia fazer naquele momento era dormir. Fechou todas as cortinas, e seguiu pelo corredor. Puxou as cobertas, se enfiando entre os travesseiros, abraçando alguns e afundando o rosto em outros. O cheiro de Harry era arduamente presente, e absolutamente maravilhoso. Inspirou profundamente, mergulhando sem demora em um sono sem sonhos. Não. Em um sono cercado pelo garoto de olhos verdes e cabelo cacheado.

Unholy (Larry Stylinson AU Religious!Louis)Where stories live. Discover now