Ecco la tua beatitudine, le voci nella tua testa

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[N.A.] Minhas costas estão doendo, porque eu cheguei da escola as duas, almocei, fiz trabalho e comecei a escrever as quatro, a tarde toda na mesma posição. Mas consegui cumprir meu prazo, ufa! Pelo amor, essa escola suga minha sanidade e energia vital.
Mas enfim.
Antes de tudo, queria agradecer os 45.6k de leituras, os 2.5k de votos e os 4.3k de comentários. Quem diria, hm? Eu comecei a fic esperando vinte, trinta comentários, poucos leitores, e agora aqui estou, com um grupo deles, quase no trigésimo capítulo da fanfic. Nunca, repito, NUNCA, que eu imaginaria que alcançaria tanto sucesso. Essa fic se tornou minha vida, eu passo a semana tendo ideias, anotando, tentando escrever o melhor para vocês, e ter esse retorno é fantástico. Ver os surtos nos comentários, no Pure!Unholers, no twitter, tudo, é absolutamente gratificante. Não há melhor, me faz querer melhorar mais e mais. Eu não sou a melhor, minha fic não chega nem aos pés das melhores e mais lidas, mas cada leitora é especial, e eu tento agradecer o quanto posso e corresponder vocês. Obrigada. De verdade. Por tudo. Cada parágrafo é escrito pensando em vocês. Unholy é pra vocês (a propósito, uma vez comentaram no grupo como eu dizia o nome da fic. Pra quem tem interesse em coisas inúteis, eu falo Anhôlei ou Anhôli).
Vamos pular a parte que eu choro vergonhosamente.
Todas sabem que eu amo dramas, né? Particularmente, estou afetada hoje, por ser um dia mais que especial. Meu homenzinho, meu batman, meu herói, meu padeiro, meu Mrs. Horan, completa 21 aninhos. Ele salvou minha vida com seus solos, seu carinho, ele me tirou do fundo do poço e me reergueu. Ele é meu tudo,  meu mundo. Não tenho palavras para agradecer o suficiente a Liam James Payne (nunca tenho palavras o suficiente, né?) (James P. já lembro de James Potter, adeus mundo).
Parei com a melação e o papo sem graça. Podem ler, eu deixo. Apenas, obrigada. Procurem-me no twitter: larryinocente.
Además, te amo, chicas.

P.S.: Alguém ai sabia que eu pretendo fazer especialização em Dante, em Toronto? Em um futuro distante, claro. Eu já li todo o Inferno, todos os 14.000 versos. Acho que deveriam saber. Quando Dante reencontra com Beatriz, ela diz: Eis aqui tua bem-aventurança. Só um detalhe mesmo. Essa minha obsessão suga minha alma e assume minhas mãos. Btw. [/N.A.]

3º. P.O.V.

Louis sentia-se, naquela manhã, como um saco de batatas. Pesado, imóvel e fedorento. Não saia da cama desde que Zayn sumira misteriosamente, há quase trinta e seis horas. Os dias passavam muito rápido para que notasse, mas, ainda assim, muito lento para que não notasse a falta descomunal que um certo garoto fazia para ele.

Estava acostumado com suas próprias narrações, no entanto. Niall o visitara na noite passada, com Chris, que parecia inquieto. O loiro falava mais que o normal – se possível – e comia muitos doces, muitos mesmo. Foram embora pouco tempo depois, deixando Louis sozinho com seus pensamentos irrequietos e que parecia muito empenhados em lhe enlouquecer completamente. Repassava cada hora mentalmente, sempre usando verbos passados. Um vazio brotara erroneamente, e crescia a cada maldito segundo do relógio.

Sabia, entretanto, que era sua culpa. Desde que conhecera Harry – a surpreendente cinco meses atrás – estava acostumado a nunca se sentir sozinho. Recebia mimos recentes, era o centro das atenções, tanto pelos amigos quanto pelo namorado. Tudo passara tão rápido. Era como um livro surpreendentemente grande e misterioso. Cada página o levava a desenrolar a próxima, para saber o que acontecia no final. Mas, como todo maldito – e extraordinário – livro, tinha uma pequena inclinação a tragédia. Particularmente, Louis pensava em si mesmo como um livro de suspense. Nunca sabia o que esperar. Quem era o culpado, quem era o mocinho. A cada parágrafo, ao mesmo tempo que roía até a alma de curiosidade, tinha medo de continuar. Aliás, medo era um sentimento muito frequente a ele naqueles últimos dias. Já não se importava mais, entretanto. Assumira a si mesmo como um medroso de marca maior. Depois de crescido, desenvolvera pânicos e temores de uma criancinha. O quão vergonhoso aquilo poderia ser?

Não via o tempo passar, mas parecia ter muito tempo livre naquilo que chamava de subconsciente. Sentia-se muito cansado pelas manhãs, mas não conseguia pregar os olhos a noite. Tinha medo dos monstros. Não dos que se escondiam debaixo da cama ou no armário baixo de madeira próximo a porta do banheiro. Os monstros de sua mente. Ele estava enlouquecendo. Mais ainda. As vozes – outrora esquecidas em um passado distante e opaco – voltaram com força total. Os olhos escurecidos assumiram uma forma humano, e era como se travassem uma batalha sem fim. Sem violência ou agressividade, apenas... diálogos contínuos. Louis não dissera nada a ninguém, e desenvolvera uma habilidade muito útil de teatro. O Dr. Phil fazia exames periódicos, e sua sanidade mental era impecavelmente perfeita. Sua perna apenas pinicava quando tomava banho, e sua coordenação motora melhorara consideravelmente. Mas, quando as luzes se apagavam, as vozes voltavam, e ele mergulhava na escuridão, conversando consigo mesmo.

Os assuntos eram os mais diversos, e, após a saída do loiro, começaram a discutir sobre comida. Era quase... irreal. O próprio Louis perguntava-se se era apenas mais um de seus sonhos que nunca findavam, ou se estava mesmo louco. Quaisquer uma das opções, não ligava. Estar louco significava – em uma possibilidade remota de um futuro não-desejável – ficar com Harry. Daria um rim apenas para vê-lo, por alguns segundos. Contemplar suas íris verdes brilhantes, seu sorriso torto com covinhas, sentir seus lábios avermelhados mais uma vez.

Cada pensamento era como uma faca de dois gumos. Enquanto a voz (ou vozes, quando decidia não agir como algo humanamente aceitável e dispersar-se pelo vácuo em centenas de minisseres irritantes) gritava pela razão, Louis era atingido pela realidade.

Há algum tempo – que passara tão rapidamente que nem parecia fazer parte da mesma realidade que vivia naquele momento – voltara para Doncaster, com uma bolsa e uma mala pequena, roupas velhas e gastas e algo em torno de duzentos euros no bolso. Era uma seminarista – continuava a ser, se parasse para pensar na teoria – que peregrinara ao redor do mundo durante anos. Voltara, com a perspectiva de seguir seu sonho: ajudar o próximo e dedicar-se inteiramente ao bem maior. Não sabia que bem era aquele, mas o Todo-Poderoso tinha planos desconhecidos para aquele simples universo insignificante.

Instalou-se na casa de uma senhora rígida, severa e estranhamente gentil. Altamente religiosa e um pouco misteriosa. Ela lhe dava cama, água quente e comida, além de um trabalho que ajudava em suas economias. E ele estava bem. Estava feliz. O bom filho a casa torna.

A abadia continuava como sempre se lembrou. As missas dominicais com Mark eram sempre sucedidas de tardes inesquecíveis em um parque abandonado qualquer. Seu pai nunca tinha dinheiro, mas sempre conseguiu sorvetes de massa ou gracejos para Louis e seus amigos. Seu sonho parecia mais próximo que nunca. Já podia sentir o sentimento lhe inundando como uma avalanche. Os sorrisos, as risadas, a bem-aventurança. “Ecco la tua beatitudine”. Aqui está sua bem-aventurança. Dante já dizia a alma do poeta.

Mas la tua beatitudine tinha cachos tão belos quantos o de Beatriz. Olhos tão belos quantos os dela, mas, tua beleza não se comparava nem em mil anos com as dele. Era ele. Sempre fora.

Louis sabia que Dante nunca fora santo. Quando morreu, Virgílio o guiou pelos nove círculos do Inferno, passando pelo purgatório e finalmente, chegando ao céu, onde sua Beatriz o esperava. Também sabia que não era tão digno quanto Dante, ou tão virtuoso quanto ele, ou tinha palavras tão belas para escrever a sua musa – ou muso.

De uma hora para a outra, sua vida pareceu virar de ponta cabeça. Como uma ampulheta. Alguém havia tombado os vidros, e a areia escorria novamente para o outro lado, mas, daquela vez, bem mais lento.

Passara por tanta coisa naquele meio tempo, que parecia quase impossível que conseguisse se recuperar. Mas, no entanto, passou muito tempo pensando em Harry como um peso negativo na balança, um obstáculo que o separava – em medidas quilométricas – de seus sonhos e suas virtudes. Ao mesmo tempo que amava, odiava. A si mesmo, aos seus sentimentos. Para com Harry, era impossível que tivesse qualquer tipo de emoção maléfica. Quando fitava seus olhos, sentia que era certo. Depois de sentir na pele e na carne o peso de suas decisões, foi quando caiu em si. Harry não era o peso negativo. Ele era o peso positivo. O lado bom que equilibrava seu interior. Todo mal está contido no bem. Todo Harry estava contido em Louis.

Tanta filosofia para que? Harry continuava enfurnado naquela sala, quarto, trancado como um animal acuado, prestes a ser afastado de Louis permanentemente. Mas isso não aconteceria. Ah, não, Louis não deixaria. Levaria mil tiros, passaria mil vezes pela dor que sentira antes de perder Harry mais uma vez.

Suspirou. Piscou e focalizou. Mais uma manhã, e tudo que queria fazer era dormir para sempre. Estava reclinado na cama de tal modo que via por trás da mesma janela aberta e das mesmas cortinas repuxadas para o canto. Há semanas que via a mesma paisagem sem graça. O sol viera e se fora, trazendo novamente o velho e entediante frio londrino.

Sentiu o estômago borbulhar, mas não sentia fome. Provavelmente a rotina. Logo, uma das enfermeiras trariam seu café da manhã. Nunca fora fã de comidas de hospital, mas as torradas e o café amargo cumpriam bem seu papel.

Dito e feito. Um carrinho passou pela porta, e Marie veio logo atrás, cantarolante. Louis quase pode sorrir. Pelo menos alguém feliz. A voz se calara há algumas horas, e estava apenas ele e seus pensamentos confusos presentes.

– Bom dia, menino Louis. – a velha senhora cumprimentou, depositando a bandeja sobre seu colo, puxando o guardanapo e arrumando com habilidade sobre o pescoço do garoto, que sorriu agradecido, começando a comer a geleia.

– Bom dia. – disse de boca cheia – Novidades? – perguntou sem hesitar.

– Ele ainda está lá, menino Louis. – suspirou, cansada. Louis a imitou. Não precisava dizer mais nada para a senhora. Não havia dito que Harry era seu namorado, mas sabia que a esperta senhora já sabia que havia entre eles mais que uma simples relação de amizade. Havia um vínculo forte e permanente. Inquebrável – Hoje um policial veio aqui com um doutor todo engomado, parecendo sério. - explicou a sua maneira. Louis parou uma colherada no ar, ouvindo atento – Parece que ia vê-lo hoje.

Engoliu em seco. Não sabia até quando adiaram a visita do psicólogo a Harry, e temia que aquele momento tivesse chegado. Não sabia se sobreviveria ao diagnóstico.

Antes que pudesse responder, Dr. Phil entrou pela porta, assoviando uma melodia qualquer, mexendo em seus papéis. Marie acenou discretamente, empurrando seu carrinho contra o corpo rechonchudo. Cumprimentou o médico e fechou a porta atrás de si. O doutor se aproximou do garoto, checando as poucas máquinas que ainda monitoravam seus batimentos e movimentos sensoriais. Anotou os resultados, riscando com sua letra pavorosa na prancheta.

– Como estamos hoje, Tomlinson?

– Estamos bem, obrigado. – era o diálogo costumeiro. Louis não entendia muitas coisas, mas jamais chegaria a compreender porque 1) Phil sempre falava de seu estado mental e de saúde na primeira pessoa do plural e 2) porque sempre o chamava pelo sobrenome.

– Pois bem. Ótimas notícias hoje. – comentou, e o silêncio de Louis perante foi o suficiente para que continuasse. Sorria de orelha a orelha – Você vai receber alta hoje.

Mil fogos de artifício explodiram naquele momento. Louis, que não sorria há dias, sentiu o rosto rasgar dolorosamente com o sorriso que se abriu, tanto que seus lábios racharam. Os olhos se fecharam em pequenas fendas. Sua mente se clareou com as palavras, e já podia se ver fora daquele lugar que lhe causava arrepios. Depois de tanto tempo, não se lembrava mais como era viver do lado de fora. Harry e Liam surgiram em algum canto obscuro, mas não deu muita atenção, sentindo o sabor da liberdade penetrar suas papilas, saboreando deliciosamente.

– Seu estado melhorou consideravelmente desde a última semana, e sua fisioterapeuta conversou comigo ontem, apresentando seu quadro. Provavelmente alguns exames, pomadas e analgésicos para dor, além de ter que usar muletas por alguns dias, para acostumar o movimento, mas fora isso, tudo bem. Seus amigos já foram avisados, e te buscaram na parte da tarde. – fechou as folhas, finalizando a enxurrada de informações, e o garoto apenas assentia, ouvindo parte das palavras, assimilando as frases por associação.

– Sim, doutor. – assentiu, terminando seu café em velocidade máxima.

– Bem, acho que era só. Seu psicológico parece estar impecável, considerando todos os... traumas que você sofreu nos últimos tempos, o que é uma evolução. – de costas, não viu a careta feita pelo moreno – Terá que continuar passando uma pomada cicatrizante, e terá que voltar em alguns meses para os exames finais. Poderá tomar um banho aqui mesmo e assinar os papéis na recepção. Tomlinson, foi um prazer. – estendeu sua mão ao terminar de desligar os aparelhos. Ouvir o silêncio sem o som ensurdecedor das máquinas apitando era como as trombetas dos anjos retumbando em sua mente.

– O prazer foi todo meu, Dr. Phil. Obrigado por ter cuidado de mim durante esse período de tempo. – disse, sinceramente.

– Deixe disso, Tomlinson. Bem, espero nos vermos daqui a muito tempo! – brincou, rindo com sua risada rouca e alta, e Louis o acompanhou, concordando. Marchou até a porta, acenando e abrindo. Quase trombou com Zayn, que entrava apressado, e riu novamente – Bem a tempo, rapazes. Até mais. – saiu para o corredor ao mesmo tempo que os meninos entravam.

– Até, doutor! – Niall replicou, puxando Chris pela mão. Zayn já soltava sorrisos tortos e praticamente correu até a cama de Louis, esmagando sua cabeça contra seu peito.

– Zee! – o moreno gritou como pode, meio rindo meio resmungando. Niall riu sua típica risada alta, sentando-se na poltrona, comendo algo contrabandeado da lanchonete.

– Louis, você tem que ir morar com a gente! – Zayn replicou, arrumando o cigarro no canto da boca, ainda apagado.

– Com vocês? – repetiu, erguendo uma sobrancelha em confusão.

– Sim, Niall e eu compramos um apartamento, ele é grande e muito espaçoso. – comentou, indo se acomodar perto de Chris, ainda quieto, com um sorriso brincando nos lábios. Louis, por outro lado, abriu a boca em um perfeito O, confuso e atônito. Falara tão simples e normal, como se comentasse o tempo lá fora, ou a roupa que usara.

– C-como? – gaguejou, por fim.

– É, um apartamento, Lou! Ele é enorme, grande, e meu quarto tem ar-condicionado. – Niall disse em seu jeito despojado e animado, e Louis tossia algumas vezes, se ajeitando na cama – Você pode ir morar conosco enquanto Harry não é liberado, com certeza ele vai querer que você more com ele.

Algo que Louis comeu ameaçou voltar com o excesso de informações. Piscou repetidas vezes, alternando o olhar entre o muçulmano e o falso loiro, ambos sorrindo cúmplices, como se fosse a coisa mais normal da face da terra. Processou por alguns segundos, optando por perguntar o mais importante e que mais lhe angustiava (e perturbava também).

– Como tem tanta certeza de que Harry será solto? – perguntou baixo, temendo a resposta.

– Ora, Louis, faça-me o favor. – Zayn bufou, subitamente irritado – Você ainda duvida? Harry não se deixará ser levado de novo, não duvide disso. Quando souber que você está tendo alta, sairá mais rápido ainda. – disse com convicção. Louis o admirava por isso. Não duvidava, nem por um segundo, das próprias palavras e ideias. Ao contrário do garoto, que discutia até mesmo com os próprios pensamentos.

– Tomara. – murmurou.

Um silêncio se instalou no local, enquanto Louis mordiscava o lábio inferior, perdido novamente com suas vozes. Harry tomava seus pensamentos, como em cada minuto, mas naquele momento, mais que das outras vezes. A simples hipótese – mesmo que por um instante – de tê-lo novamente, morar com ele, em seus braços, arrulhava seu estômago em uma sensação contagiante e reconfortante.

– Nós só viemos para buscar as suas coisas. – o loiro quebrou o silêncio – Depois o Chris vai vir te buscar no carro dele, que é maior, e mais confortável. – corou. Louis sem questionou o porquê, mas nada disse – Depois, nós buscamos o resto das suas coisas na confeitaria e no apartamento do Harry. – deu de ombros.

– Você espera mais um pouco? Tenho um compromisso... inadiável. – sorriu amarelo, e Louis assentiu depressa. Não seria um peso para o moreno, nunca.

– Não se preocupe, eu aguento ficar mais algumas horas. – sorriu forçado, mas eles pareceram não perceber. Os amigos sorriram de volta, buscando as sacolas e o restante dos pertences. Foram para a porta, acenando.

– Nos vemos depois, Louis. – Chris acenou com dois dedos, uma das mãos sobreposta na cintura do loiro, e o Tomlinson assentiu, entusiasmado.

Por fim, se foram, e Louis voltou a sua solidão habitual. Naquele momento, porém, tinha uma centelha de esperança em que se agarrar. Sair daquela cama e respirar um novo ar que não fosse infectado de analgésicos e dor e desesperança. Hospitais lhe deprimiam mais que ficar ser Harry. Estar em um hospital, sabendo que tinha e não tinha Harry, era centenas de vezes pior. Como se o destino fosse uma flecha afiada, e Louis, o alvo pintado de vermelho.

Voltou para as vozes, suas eternas companheiras. Elas zombavam dele, dizendo que era tolo de ter esperanças. Eram como monstros, lhe sugando a felicidade. Memórias passavam como slides, e ele encarava a parede. Reparou na velha cruz de madeira, entortada para a direita. Finalmente dormiria sob um lugar onde não era vigiado pelas sombras.

Distraído, não percebeu a presença que entrara no cômodo. Só foi vê-la quando sentiu uma mão sobre seu ombro, e virou-se em um pulo, assustado. Deu de cara com a última pessoa que esperaria ver, ainda assim, o esperava, inconscientemente. Continuava igual, vestindo a tradicional camiseta preta de gola branca e as calças sociais. Seu cabelo, armado para cima, e um sorriso despontado no rosto. Por algum motivo, Louis estremeceu em vez de se sentir aliviado.

– O-o que faz aqui? – perguntou, sorrindo como um coringa. Sua mão continuava pousada sobre o ombro do menor, apertando-o levemente.

– Isso são modos de receber um velho amigo? – fez uma cara falsamente ofendida, não deixando de sorrir. Louis engoliu em seco, as vozes gritando em sua mente, mas dessa vez, a seu favor. Gritavam para se afastar, para gritar por ajuda, para fugir. Sombras o engoliam inconscientemente.

– Por que está aqui, Stanley? – tornou a questionar, estremecendo a espinha. Não sentia frio, mas um ar gélido correu por suas costas.

– Bem, eu soube do seu acidente, e vim te ver. Como você estava desacordado, e logo depois, aturdido, decidi voltar depois. – deu de ombros. Louis fixou os olhos em seu peito, onde o crucifixo de madeira reluzia contra a luz que entrava pelo vidro. Por que raios teve que se segurar para não tornar os olhos para a parede? A semelhança era assustadoramente atípica.

– B-bem, não precisava. – tentou escapar, contorcendo-se para o lado, tentando escapar do toque intimidador do outro.

– Que isso. Senti sua falta na paróquia. Todos sentimentos. – sorriu afetado, grande demais para algo normal.

– Isso me agrada, o-obrigado pela preocupação. – apressou-se em dizer. Stanley sorriu mais ainda (se possível) e apertou seus dedos, afundando-os contra a curva do ombro de Louis.

Stanley se sentou na borda, fitando os olhos azuis com intensidade. Louis não sabia dizer o porquê, mas quis desesperadamente que Harry estivesse ali. Fez uma prece silenciosa a um Deus que sabia que o ajudaria naquele momento.

– Sabe, Lou... – começou, ainda o fitando. Aproximou-se lentamente. Louis sentiu o coração palpitar, mas não palpitando da maneira boa. Palpitava da maneira estranhamente dolorosa. O medo havia voltado. Aliás, nunca havia saído, apenas se escondido em um canto qualquer, escuro e úmido – Eu realmente senti sua falta. Muito. – havia fogo em seus olhos.

– E e-eu já agradeci. – respondeu inocentemente. Era impressão sua, ou o rosto arredondado aproximava-se cada vez mais?

– Eu sei. – sua língua passou perigosamente ao redor de seus lábios, umedecendo-os – Você é tão inocente, Louis. Isso... me excita. – murmurou entre dentes, sorrindo ameaçadoramente. Aproximou-se mais, pronunciadamente, e Louis congelou.

O inevitável aconteceu. Sentiu os lábios de Stanley colando contra os seus, sem nenhum movimento, apenas o toque. Seus olhos estavam arregalados, e pareciam focalizar dez vezes mais que o normal. Via cada mísero detalhe, desde seus olhos fechados, com os cílios cerrados, até os pequenos fios de barba por nascerem em sua pele lisa. Um gosto ruim subiu por sua garganta, como um ácido, queimando, e não conseguia se afastar. A mão do homem por seu ombro o apertava contra si com uma força descomunal. A cada segundo que passava com seus lábios colados a força contra os dele, mais se sentia culpado. Apenas conseguia lembrar-se dos lábios de Harry, macios, adocicados, tão diferentes do de Stanley. Não que sua intenção fosse comparar, até porque nada e ninguém se comparava a Harry.

Muito tempo depois – pareceu algo como séculos – Louis respirou arfando, vendo-se livre do contato do outro, que sorria macabramente, ainda o segurando pelos ombros. O Tomlinson não conseguia respirar, sentindo-se sujo, imundo, com vontade de expelir todo e qualquer líquido boca afora. Não conseguia raciocinar direito. As vozes em sua mente berravam palavrões tão sujos que fariam qualquer outro parecer cantiga de ninar.

– O-o que, c-como você... você... c-como... – gaguejou, inexpressivo, levando os dedos aos lábios, tocando onde outrora estavam os lábios de Stanley. O garoto apenas riu. Naquele momento, Louis sentiu que poderia sair correndo de medo.

– Ora, Louis. Não faça essa cara. – levou a outra mão até o rosto do moreno, acariciando sua maçã saliente, agora tão sem cor quanto papel. Passou os dedos levemente por seus traços, deliciando-se com o tremelicar do outro sobre seus dedos.

– Você não podia ter feito isso, Stanley. – Louis disse em um fôlego só, em um sussurro tão baixo que mal pode ser ouvido.

– Um dia você vai aprender, Louis, que eu faço o que eu quiser, quando eu quiser. – sorriu com os dentes, brincando com o crucifixo pelos dedos para acentuar a frase ameaçadora.

– Mas... m-mas... – sussurrou confuso, olhando-o desesperadamente – Isso é errado.

– Não tanto quanto o que você tem com o delinquente. – acusou, sorrindo inocentemente, o que não fazia jus as palavras expelidas, como veneno de cobra, que atingiram Louis como bolas de um canhão, um soco no estômago. Sentiu os olhos lacrimejarem. Como ele sabia? Não interessava. Aquilo era horrível. Mas não tão horrível quanto o que acabara de acontecer. Como Stanley podia sequer pensar em beijá-lo? Quebrar seus votos? Seu compromisso? Se Harry descobrisse, o mataria com certeza!

– Louis, Louis, meu querido... – tornou a acariciar seu pescoço. Louis lembrou-se do toque quente de Harry naquele mesmo lugar. Sentiu-se enjoado. Stanley se aproximou devagar, saboreando cada movimento. Colou seus lábios no ouvido do menor, sentindo-o tremer. Sorriu satisfeito – Eu sou sua bem-aventurança. – deu uma pequena lambida no local, se fastando, olhando-o nos olhos. Estava a ponto de chorar, vermelho e choramingando palavras desconexas – Para o seu bem, é melhor que você não diga nada a ninguém. Acreditariam em quem: em mim, ou em um gay suicida herege? – acariciou sua bochecha a medida que pronunciava as palavras, limpando as primeiras lágrimas que desciam – Pense nisso, querido. Nos vemos depois. – depositou um beijo em sua testa e saiu, ainda sorrindo angelicalmente. Como um demônio na pele de um anjo. Como Harry? Não. Nem em um milhão de anos.

Louis queria gritar, mas ficou ali, imóvel, ainda sentindo o toque áspero de Stanley, se perguntando que pecado cometera para que Deus fosse tão cruel consigo. Era tão errado assim? Ele só queria Harry, mais que tudo. Mais que todos. As vozes gritavam, agitadas, estupefatas. Não via nada enquanto as lágrimas desciam, silenciosas por seu rosto. Não havia nenhum som, mas dentro de si, os pequenos pedaços que juntara com esforço, haviam se quebrado. E o som lento dos cacos era ensurdecedor, tanto que doía.

Unholy (Larry Stylinson AU Religious!Louis)Where stories live. Discover now