In my own pain, never felt so cold

11.8K 652 1.4K
                                    

[N/A] Boo hoo, unholers! Como vão? Um pouco tarde, mas foi por um bom motivo. Eu realmente me dediquei nesse capítulo. Estou enrolando um pouco, mas amo um drama. Ainda tenho alguns dias de férias, e preciso resolver tudo antes de voltar a pegar pesado.
Como sempre, vou fazer aqui um discurssinho meloso de como eu amo vocês e de como leio todos os comentários com o maior carinho do mundo e surto com todos. Vocês são tão lindos! Sério, eu me emocionei. Vocês até criaram um ship para o Niall e a Grace! Que meiguice, Graciall virou meu novo amorzinho.
Eu fico tão emocionada quanto vocês me elogiam no twitter, ou quando comentam furiosamente a cada capítulo, se emocionando, se entregando a história. Isso significa muito para mim, de verdade. Eu leio as melhores fanfics, como YF, Nobody Sees, Boys Over Direction, das melhores escritoras do mundo, e sinto como se não estivesse satisfazendo vocês, entendem. Cada elogio significa muito para mim. Motiva-me a continuar. Então, só tenho que agradecer.
Enfim, vou parar com a melosidade. Antes de lerem, uma nota rápida: não sei se alguma boa alma já leu, mas a trilogia de Sylvain Reynard existe mesmo. É uma ótima saga, a minha preferida – Harry Potter e Fallen que me desculpem. O Inferno de Gabriel é fantasticamente perfeito, eu já li e reli muitas vezes. Nessa última vez, resolvi que seria uma boa analogia associá-lo com larry.
Btw, podem ler. Espero de todo o coração que gostem desse, aguardo surtos mais tarde. Tentem entender todos os lados da história, por favor. No futuro tudo vai ficar bem explicado, prometo. Acho que não esqueci de nada. Senão, me desculpem, acrescento depois, estou ansiosa para que leiam. Really love all u, guys [/N.A.]

3º. P.O.V.

Os raios solares atravessaram a grande janela de vidro da parede esquerda, despontando nos cobertores e iluminando o rosto de Louis, que bocejou alto e piscou, acostumando-se com a claridade. Sentou-se, ainda enrolado na grande coberta branca, sentou-se, recostando nos vários travesseiros amontoados sobre sua cabeça. Olhou em volta, constatando que estava sozinho, mais uma vez. Despencou em uma careta triste, mas tratou de ignorá-la. Já devia ter se acostumado.

Colocou os pés no chão, estremecendo, e foi até o banheiro, pegando sua escova dentro do armário embutido. Depois, tomou uma ducha quente puxando a toalha do suporte de metal, onde ficara secando. Louis seguia aquela mesma rotina há exatas duas semanas e um dia, ou 15 dias, que correspondiam a 900 minutos, 54.000 segundos, mais afoitamente dizendo, 54.000.000 de milésimos. Não era como se fosse desesperado ou algo do tipo. Apenas tinha mais números do que provavelmente gostaria de ter.

O tempo parecia não passar longe de Harry, e Louis surpreendeu-se quando marcou em seu calendário sempre posto na cabeceira o décimo quinto dia desde a partida do cacheado. Foram dias difíceis, absolutamente. Se recusara a voltar para a confeitaria, cuja qual trabalhava integralmente durante três dias da semana e meio período na sexta, depois das duas da tarde. Rosemare não parecia chateada por ele ter se mudado, apenas manifestou um leve sentimento de saudade. De qualquer maneira, Louis não via outra maneira de conseguir dormir sem que fosse embrulhado nos lençóis com o cheiro do Styles. Todos os dias, antes de se deitar, espirrava um pouco da colônia sob os travesseiros e o cobertor, inalando-os como uma droga. Talvez estivesse mesmo viciado, mas não se importava. Gastara o pouco de economia que tinha juntado naqueles dias – recusando-se terminantemente a tocar no dinheiro que Harry lhe dera sem que fosse estritamente necessário – para comprar outro vidro do perfume, que estava por acabar. O guardara no fundo de suas malas, já inteiras postas sob o guarda-roupa. Mudara-se temporariamente para o apartamento, já começando a procurar algumas opções plausíveis de apartamentos para comprar. Circulara alguns de bom preço, e outros mais caros, mas que realmente gostara. Deixaria aquilo para pensar quando Harry voltasse.

A abstinência do garoto era tanta que chegava a lhe assustar. Todos os dias, ao acordar, a primeira coisa que fazia era ligar o celular e ver se havia alguma mensagem, ligação, correio de voz. Qualquer coisa. Por vezes, deparou-se com uma ou duas mensagens, a sua maneira, dizendo que estava com saudades, nada mais. Em duas semanas (e um dia) separados, foram o total de três ligações, sete mensagens, e dois correios de voz, um de dez segundos e outro de um minuto e dois. Louis achava que já estava a beira da loucura eminente.

Seguindo fielmente sua rotina, saiu do banho, sentindo um ar gélido passar pelas frestas da cortina aberta. Mesmo que o sol já despontasse, algumas nuvens cobriam a maior parte do céu, e parecia ser um dia frio, mesmo ainda sendo maio. A mudança de estação de ano parecia ser instável naquele ano, ainda que já tivessem saído de abril.

Buscou em alguns cabides uma roupa confortável e que o esquentasse. Acabou por colocar sua velha e surrada e ainda assim inseparável e de estimável valor pessoal calça preta de linho, dobrada sob os tornozelos, exibindo sua tatuagem triangular preta. Arrependera-se dela alguns anos depois, mas, ainda assim, nunca a retirara. Quando a fizera, estava bêbado, com um amigo, e ele o convenceu que seria legal terem tatuagens iguais. O triângulo preto, particularmente nos EUA e em partes da Europa, representava o homossexualismo. Quando descobriu, ficou possesso, mas por alguma razão, a deixou, talvez por lembranças do passado, talvez por lhe faltar coragem.

De qualquer maneira, calçou uns VANS pretos jogados no canto, uma vez que seus amados TOMs estavam para lavar. Colocou uma camiseta também preta, básica, e pegou a jaqueta jeans dependurada na porta, a vestindo por cima. A descobrira por acaso nas roupas de Harry, e achou que não teria problema se a usasse. Era extremamente cheirosa, confortável e grande, o cobrindo por inteiro. A usava constantemente sempre que podia, inclusive quando saiu com Liam e Niall, naquele desastroso encontro de jovens da igreja.

Não se sentia muito bem, pois tinha acabado de passar o dia com a cinta, e sentia-se parcialmente fraco e sem disposição. Colocara a jaqueta de Harry, embora não fizesse muito frio, pois estava com saudades, mais que nos outros dias. Ainda assim, resolveu ir, para não decepcionar os amigos, e, ao chegarem, encontrou com Eleanor. Não sabia o porquê, não gostara muito da garota. Sentia como uma partícula negativa, uma vibração ruim. Aqueles olhos castanhos, para todos apenas gentis e bondosos, cobertos de maquiagem e um pouco grandes, tinham um brilho malicioso escondido. Louis tinha experiência, e sabia reconhecer. Não confiava nela. Mas Liam parecia gostar muito dela. Muito mesmo. Sorriu o tempo todo, tentando forçá-los a conversar, enquanto o garoto se esquivava e permanecia calado na maioria das vezes, principalmente depois de se expor demais, dizendo aquelas coisas sobre o amor. De qualquer maneira, precisava falar com o amigo. Explicar que, homem ou mulher, não importava. Louis escolhera Harry, ainda que inconscientemente, ainda que tivesse medo. Ele o queria, não Eleanor. Não qualquer outra garota. Ele precisaria superar aquilo, tal como Niall, confortavelmente indiferente sobre a opção sexual de Louis e feliz como um garoto em noite de Natal com Grace.

Louis arrumou a cama, ainda imerso em pensamentos, com o celular no bolso. Nenhuma notícia ainda, ou ligação, ou mensagem. Tentaria mais tarde, para não atrapalhá-lo, mesmo que não soubesse o fuso horário de onde o garoto se encontrara. Ao terminar, fechou o cortinado, mantendo o lugar fechado e limpo. Depois, foi até a cozinha, para preparar sua xícara de chá costumeira.

Já conseguia andar normalmente, mesmo usando o cilício diariamente. Descobriu na biblioteca municipal, em um dos dias que saiu para reconhecer mais Doncaster, alguns livros medievais que falavam muito sobre as torturas da Igreja Católica, explicando detalhadamente sobre o uso da cinta em hereges e nos próprios beatificados, como forma de mortificação e purificação. Nos primeiros dias, a dor fora excruciantemente insuportável, mas aprendeu a lidar com ela, e apenas incomodava um pouco depois de algum tempo. Usava por duas horas, sempre mordendo os lábios ou mexendo nos dedos sentado sobre a banheira, de maneira que seus lábios tinham marcas e os nós de seus dedos tinham algumas manchas arroxeadas. Sentia-se leve, puro. Era uma dor boa. Pensar em Harry já não lhe parecia mais tão errado, ainda mais quando encarava suas fotos no corredor, na estante, ou quando encontrava alguns pertences escondidos pela casa, como seu livro de assinaturas do último ano, com muitas – ressalte o muitas – mensagens de garotas. Aquilo incomodou a Louis um pouco, mas não tanto quanto uma em específico. Estava sem o nome, apenas com as iniciais N.G. no final, e circulada com um coração vermelho. O Tomlinson pensou em perguntar a Harry sobre aquilo, mas ficou com medo de brigarem, então preferiu ignorar, deixar quieto, como que acontecia com ele. Releve, ignore, dizia para si mesmo.

O bule apitou alto, chamando sua atenção, e ele correu para colocar um saco de Yorkshire Tea na água fervente. Depois, despejou tudo em uma caneca branca do armário de porcelanas e bebeu, soprando para não se queimar. A sensação era reconfortante, ao menos. Terminou e colocou tudo no lava-louças. Depois, voltou-se para a sala, sentindo-se um pouco atordoado. Não tinha nada para fazer as duas, quando iria para o trabalho. Com sorte, encontraria Fizzy, e poderiam conversar mais. A garota era o tipo de pessoa que ele gostaria de ter como amiga. Engraçada, divertida, simpática e sempre de bom humor. Seus olhos azuis eram muito parecidos com os de Louis, e por vezes ela brincava, dizendo que eram irmãos separados. O garoto nunca reparava, mas os olhos da mais nova brilhavam dolorosamente sempre que dizia aquelas palavras.

Resolveu ler um dos milhares de exemplares de livros aparentemente nunca sequer abertos da estante da sala. Louis sempre gostara de ler, viajar na imensidão das páginas, mesmo que tivesse aprendido apenas com sete anos, precariamente, em um muro pichado e com alguns pincéis e piche. Mark fora, no entanto, um perfeito professor.

O mais velho correu o dedo entre a fileira dos mais diversos livros, passando de exemplar em exemplar, até achar um título que o interessou. Puxou este, sentindo-o um pouco pesado, e acomodou-se no sofá, cruzando as pernas e abrindo, sentindo o tão maravilhoso e conhecido cheiro de livro novo. O Inferno de Gabriel tinha cerca de 510 páginas, e Louis tinha que admitir que se interessara pela capa antes mesmo de ler a sinopse, preto e laranja enroscando-se em uma explosão de cores. Olhou para o relógio dependurado na parede, e viu que ainda não passavam das nove. Recostou, confortável e começou a correr os olhos pelas letras miúdas. Para quem tinha um conjunto de números tão grandioso, alguns a mais ou alguns a menos eram insignificantes.

E, pela primeira vez em dias, o tempo correu depressa.

Louis se viu mergulhado na trama, virando as páginas tão rapidamente como se quase comesse as páginas. Sorria por vezes, fazia caretas e erguia a sobrancelha, imperceptivelmente, e só despertou de seu transe quando sentiu o telefone vibrar no bolso. Piscou repetidas vezes, assustando-se ao perceber que estava quase terminando o livro. Sentiu o estômago estremecer e a sua bexiga estava apertada. Seus olhos doíam com a claridade, e puxou o aparelho as cegas, com algumas esperanças, que morreram logo em seguida. Liam queria que o garoto fosse até o apartamento para que jantassem uma porcaria qualquer e depois assistissem algum filme. Grace também iria. Louis aceitou, agradeceu e desligou, olhou ao seu redor. Tudo parecia imaculadamente no lugar, como alguns segundos atrás, quando imersou no universo de OIdG. Menos o relógio, que exibia, rindo de escárnio para Louis, quase uma da tarde. O garoto se assustou, piscando repetidas vezes. Não vira o tempo passar, parecia como em um transe. Lembrava-se de suas viagens, quando tinha as noites livres e lia os manuscritos a fio, iluminados pelo luar, e amanhecia logo em seguida, aturdido por já estar amanhecendo. Esse era seu mal – ler tão imensamente que se esquecia que, a sua volta, a vida não parava.

Mas sentia-se feliz. Há anos que não lia nada tão extraordinariamente perfeito, e há dias que não via sua mente tão livre e leve, sem Harry a habitando. Não. O cacheado continuava ali, em seus mais sórdidos pensamentos, afinal, a história levara Louis e pensar tão longe que se via nos personagens, refletindo sobre ele e Harry e em como o universo conspirava contra ele, pondo em suas mãos um enredo tão absolutamente real. Sim, Harry ainda estava ali, com ele, zombando, mas, surpreendentemente, não acompanhava os pesadelos, os pensamentos ruins, a escuridão. Estava tudo tão claro e alegre.

Louis abaixou os olhos, embaralhando as letras por alguns segundos. Depois, retornou a leitura, sorrindo para si mesmo. Faltava pouco para acabar, de qualquer maneira.

Quando o fez, sentiu um vazio pesar sobre seu peito, e sua mente fora instantaneamente lotada de perguntas sem respostas e devaneios sem sentido. “Por que Harry teria comprado um livro daqueles?” era, possivelmente, a que mais o atormentava. Talvez não fosse dele, mas sim Zayn ou um outro alguém. Não conhecia o garoto bem o suficiente para saber seus gostos culturais, e isso doía, mas tratou de ignorar, ainda refletindo sobre o que acabara de ler. Mordeu os lábios sem perceber, e sorriu.

Tudo levava a Harry, de uma maneira ou outra. A maneira como Sylvain Reynard detalhava os sentimentos dos personagens era quase louvável. Louis se viu pego na trama de Gabriel e Julianne, inevitavelmente. A maneira como eles se amavam e estavam destinados a ficar juntos... não era algo que acontecia na vida real. Gabriel era, indiscutivelmente, Harry. Louis não pode segurar os próprios pensamentos diante daquilo, era mais forte que ele. Os olhos azuis intimidantes e a aparência jovial e sexy do professor foram automaticamente substituídas pelo verde faiscante e pela postura invejavelmente perfeita de Harry Styles. A personalidade de ambos, entretanto, era assustadoramente parecida. Segredos escondidos no passado, a dificuldade eminente para se entregar aos próprios sentimentos, aquela teimosia e perseverança quase infernais que não os fazia desistir de nada – ou ninguém. E, claro, o fato de serem completos idiotas com a capacidade incrível de magoar quem quer que fosse, principalmente os mais próximos deles. O garoto de cachos eram basicamente Gabriel em vida. E, tal como o personagem e todos seus defeitos, Harry tinha o poder de atrair e fazer-se apaixonar por qualquer um.

Em contrapartida, Louis dava uma Julia Mitchell perfeita, o que o deprimiu um pouco (não queria admitir que seria a mulher da relação, nem que fosse ficcionalmente). Inseguro, machucado por um passado doloroso, perturbado por fantasmas e que sofria da eminente situação financeira precária. Tímido, bondoso, sempre tentando achar o lado bom de todo mundo, sempre sendo o idiota da história. Era assustadora a semelhança, e foi impossível ler o romance ser imaginar-se vivendo na pele de Julianne – e se entregando aos amores de Gabriel, logicamente.

A semelhança entre os personagens o levou a pensar na semelhança entre as histórias. Não queria admitir que seu (acrescente aqui qualquer palavra que defina o que ele tinha com o Styles naquele momento) com Harry se assemelhava de qualquer maneira com o que Gabriel e Julia tinham. Eles se conheceram ainda muito jovens, e passaram uma noite de amor, que foi imediatamente esquecida por Gabriel. Mesmo que separados por mais de dez anos, o amor que eles tinham e o elo invisível que os unia era inegável. Mesmo se odiando, mesmo não se suportando, mesmo se humilhando e sofrendo, eles ficavam juntos no final, passando por cima de todos os segredos, todos os medos, toda a insegurança, todas as regras, porque o amor deles era maior que tudo.

Mas e ele e Harry? Parecia impossível qualquer tipo de vínculo existente entre eles. Parecia não, era. Ele era apenas um garoto perdido com um passado doloroso e religioso demais, que pecava e acreditava, entretanto, que a Igreja estava errada. Era praticamente uma calamidade ambulante, incapaz de fazer suas próprias decisões. Harry era... bem, Harry era Harry. Cheio de mistérios, explosões ciumentas e sorrisos estranhos. Como Emerson e Mitchell, parecia incapaz de haver um final feliz para eles.

Entretanto, não tinha tempo para divagar sobre sua vida. Quanto mais pensasse, mais doeria. E ele já estava farto da dor. Estava farto da dor, da solidão. Farto de dormir sozinho todas as noites, farto de sentir frio. Farto de sentir-se vazio. Farto de sentir faltar de Harry.

Se levantou, meio cambaleante, sentindo os pés formigarem e se jogou novamente no sofá, gemendo dolorosamente. Massageou os membros, sentindo tudo estralar. Tornou a se levantar, sentindo o sangue passar livremente por cada veia. Guardou o exemplar de volta na prateleira, anotando mentalmente para procurar a sequência mais tarde para ler. Seu estômago ronronou, e ele o apertou, com uma careta. Alongou-se por inteiro e decidiu comer algo na confeitaria. Pegou algumas notas do monte perto da mesa do canto, deixando ali escondido – apenas para alguma emergência. Puxou algumas moedas da bancada para o ônibus e saiu, trancando a porta e guardando tudo no bolso traseiro. Agarrou a jaqueta para mais perto e chamou o elevador.

O sol, da última vez que o Louis o vira, que despontava no leste, agora estava saindo de seu pico, brilhando com uma intensidade moderada para quase duas da tarde, o que Louis agradeceu, obviamente. Não queria ficar mais bronzeado do que já estava andando meia hora debaixo de sol quente sem protetor até o ponto de ônibus mais próximo. Enquanto andava, conectou os fones ao seu celular e colocou na playlist aleatória com algumas músicas que gostara dos CDs indies que encontrara no quarto de Harry. O cacheado realmente tinha bom gosto musical.

Caminhava tranquilamente, e, como sempre, alguma força superior celestial o fez chegar a tempo para pegar o circular. Sentou-se na janela e seguiu viagem, sentindo os bancos vibrarem ao passar por alguns buracos. Aquele horário era calmo, com algumas pessoas voltando do horário de almoço, o que lhe permitiu ficar sozinho com seus pensamentos, apertando o Iphone contra seus dedos, esperando algum tipo de milagre que fizesse Harry ao menos mandar uma mensagem dizendo que estava vivo.

Desceu alguns metros longe da confeitaria e seguiu andando, já avistando a loja com as mesas na calça, abaixo do grande toldo, e Fizzy atendendo um casal que acabara de se sentar e estavam escolhendo. Ao avistá-lo, abriu o maior dos sorrisos e acenou, animada e discretamente. Louis retribuiu, dando a volta e entrando pelos fundos. O movimento estava normal, e Rose estava no caixa.

Deixou suas coisas no pequeno armário de funcionários que agora compartilhava com a garota loira e pegou seu avental e o bloquinho. Sexta era dia de ajudar no atendimento, enquanto Rose cuidava de preparar os doces que eventualmente faltavam. Ao chegar, roubou dois bolinhos que estavam na bandeja sobre a bancada para serem postos a venda. Rose o encarou com os olhos cerrados, mas nada disse. Apontou para o salão e Louis pegou o bloquinho com caneta a postos, colocou um sorriso no rosto e foi atender o restante dos clientes que esperavam.

Aparentemente, não havia muito trabalho a ser feito, então logo sentaram Louis e Fizzy sob a bancada, curvando-se para conversarem, enquanto a senhora ocupava-se na cozinha. A garota soprou alguns fios loiros que lhe caiam pelos olhos azuis um pouco mais escuros que os do garoto, que agora o encaravam curiosamente e com um brilho cansado.

– Por que você trabalha aqui ainda? – Louis perguntou, brincando com um canudo, entortando-o com uma das mãos, enquanto, com a outra, segurava o celular que roubara no armário e deixava escondido sobre o bolso da frente. Ainda esperava algum tipo de contato que nunca viria.

– Não gosto de depender da ajuda financeira da minha mãe. Ela acabou de ter mais dois filhos e se casar com um cara. – desabafou, mexendo nos anéis da mão esquerda – Minha irmã mais velha, Lottie, saiu de casa pra fazer faculdade, o que torna a mais velha agora. Geralmente não tenho atenção em casa, e para comprar alguma coisa, preciso do dinheiro que ganho aqui. É agradável, o ambiente. Ultimamente, aquela casa está me levando a loucura. – gesticulou com as mãos e Louis assentiu, ouvindo atento. Gostaria de ter muitos irmãos e uma família conturbada, mesmo que gerasse dor de cabeça. Ter uma família parecia ser impossível para ele, no entanto.

– Não se preocupe, Fizs, as coisas vão melhorar pra você. – acariciou seu braço. O toque entre eles era familiar e tranquilizador. Fizzy sorriu, agradecendo silenciosamente. Rosemare ralhou com eles, mandando a garota ir atender os novos clientes que haviam chegando, deixando o Tomlinson sozinho com os seus pensamentos.

Ele admirava a garota, no final. Mais velha de muitos irmãos, sem o carinho da mãe e com um novo estranho para chamar de 'pai'. Ele não sabia se preferia ter uma mãe assim ou continuar sem mãe. As vezes, achava que Mark era mais do que ele podia ter desejado em seus sonhos mais sórdidos e intensos. Ainda sentia sua falta, apesar de já fazer quatro anos.

Subitamente sentiu o aparelho vibrar em seu estômago, e deu um salto. De súbito, pensou que seria algo sobre Harry. Doce engano. Era Niall, enviando uma mensagem confirmando a hora que se encontrariam, logo depois do expediente. Liam ainda estaria na academia, e eles ficariam matando o tempo com algo de inútil.

O garoto murchou sua animação, quase desistindo. Harry estaria em algum lugar importante, fazendo coisas importantes demais para se lembrar dele, um pobre coitado que trabalhava meio período em uma confeitaria de uma velha 'psicótica', como ele mesmo gostava de dizer. Não deixou que aquilo o deprimisse, mas sua mente pesava como mil bigornas caindo sobre ele. As vozes, malditas vozes, ficavam repetindo e repetindo incansavelmente em sua cabeça. Era por aquele motivo, afinal, que ele acordava sozinho todas as manhãs.

Suspirou, cansado. O relógio, ao contrário de manhã, recusava-se a correr seus ponteiros. Ele parecia zombar de tudo e de todos, afinal, era ele quem comandava ali. Submisso até mesmo a um simples relógio, e falando com seus próprios pensamentos, Louis chegou a conclusão de que não podia ser mais patético que aquilo.

Serviu mais algumas pessoas, colocou um sorriso no rosto, ajudou a lavar as formas de bolo, limpou as mesas, viu Fizzy sair apressada para pegar o ônibus, acenando alegremente ao se despedir. Viu pessoas irem e virem, saírem e entrarem. Aquilo era deprimente. Por fim, chegou ao fim de seu expediente, e ajudou Rose a fechar todas as janelas, se despedindo logo depois. A velha senhora foi para os fundos, onde, outrora era o quarto de Louis, abandonando-o com as chaves extras, pra trancar a porta dos fundos ao sair. O céu ainda estava claro, e sobraram algumas moedas para a passagem até Palm Beach, mesmo que Niall insistisse para pagar. Sabia das boas vontades do amigo, e não deixaria que ele desperdiçasse dinheiro da sua soada poupança com coisas tão desnecessárias e estúpidas como ele. Não valia tanto assim.

Subiu no mesmo veículo velho e caindo aos pedaços de sempre. Pagou ao cobrador os últimos trocados que tinha e sentou mais atrás, colocando os fones e ouvindo a voz suave de uma melodia qualquer que o fazia lembrar de Harry. Talvez devesse baixar algumas músicas de Mozart, para relaxar. Sentia que estava ficando demasiado estressado sem o Styles, e aquilo o preocupava. Involuntariamente, coçou a coxa esquerda, sentindo os ferimentos ainda cicatrizando da última vez que usara a cinta. A dor era necessária. A dor era libertadora.

Chegou ao último ponto, se despedindo do motorista, e subiu a pequena ladeira até o prédio, cumprimentando também o porteiro. Subiu até o apartamento, respirando fundo e tocando a campainha. Um Niall alegre demais, usando o que pareciam ser calças muito caras e uma regata nova, o recebeu com um abraço forte. Louis sorriu em seu pescoço. Apesar de tudo, sentia falta dos amigos.

Entrou e viu Grace no sofá, rindo de alguma coisa que via no telefone de Niall, e acenou rapidamente, o rosto corado. Louis retribuiu um segundo tarde demais, e desviou os olhos para a bancada, onde o irlandês mordiscava alguns salgadinhos.

– Liam vai chegar daqui a pouco. – disse, limpando as migalhas e indo se sentar com a moça. Discretamente, eles entrelaçaram seus dedos, e Louis sorriu com a cena, mas logo depois murchou. Sentia falta de Harry. Mais do que conseguia suportar.

– Tudo bem. Vou comer um desses. – sentou-se a frente do casal, comendo depressivamente, pensando não estar gordo demais. Talvez se entrasse para a academia, resolveria aquilo. Harry com certeza não gostava de caras gordos demais, e Louis já era demasiado baixo para parecer com um botijão. Falaria com Liam, e talvez o garoto o arrumasse um horário decente e um preço moderado. Parou de comer os salgadinhos, sentindo-se estranhamente desconfortável e estufado.

Ficou observando Niall e Grace, rindo juntos, compartilhando de um vídeo no celular do garoto. Queria ter algo como eles. Uma ligação, uma coisa bonita. O garoto ficava mais sorridente ao lado da moça, que ria por nada e corava com facilidade. As vezes pensava que, se estivesse com alguma garota da cidade, bonita, delicada, tudo seria diferente. Poderiam sair na rua de mãos dadas e ririam para o vento, como o amigo. Compartilhariam de comidas no mesmo prato, e poderiam se mostrar para todos, na Igreja, nos encontros, na feira do domingo. Por que tinha que gostar de Harry? Por que tinha que amá-lo?

Assustou-se com o som da porta batendo, e um Liam muito feliz entrou, cumprimentando a todos cantarolando uma canção qualquer. Louis estranhou, mas, mesmo assim, abraçou o amigo. Grace acenou de longe, ainda não se sentindo a vontade entre eles.

– Viu passarinho verde? – Niall brincou, como o bom irlandês que era, ajudando o garoto com as compras.

– Melhor, amigo. – cantarolou, olhando de soslaio para Louis.

– Uau, o que deixou Liam Payne tão feliz assim? – o mais velho perguntou, sorrindo torto.

– Encontrei com Sophia e Eleanor saindo do trabalho. – começou, e Louis se mexeu na cadeira, desconfortável ao ouvir o nome da moça. Estremeceu, e seus pensamentos voaram para Harry, inconscientemente – Elas nos chamaram para sair algum dia desses. Eleanor parecia muito interessada em você, Lou. – comentou, como quem não queria nada, e recostou na parede, cruzando os braços.

– E o que você respondeu, Payno? – rebateu, engolindo em seco.

– Que sim, claro. – riu, bem-humorado, e Louis se levantou em um ímpeto. Não queria brigar naquele momento, mas a raiva falou mais alto. Niall se afastou, cauteloso, e Grace os fitou, intrigada e com medo.

– Você está maluco?! – sua voz saiu um pouco mais alta do que planejara, e Liam arquejou, confuso e ofendido.

– O que foi, Louis? Enlouqueceu?! – perguntou, na defensiva.

– Você sabe que estou com Harry! – ouviu um arquejo, e pensou que fosse Grace, provavelmente assustada com a declaração, mas não estava se importando. Praguejou baixo, sentindo a cruz de prata queimar em seu peito. Talvez o fogo do inferno, pela imensidão de palavras erradas que passaram por sua mente para dizer ao amigo, agora o encarando com a boca aberta. Ou talvez os pecados dentro de seu peito, pedindo para serem expurgos.

– Eu pensei que poderíamos sair como amigos! – se defendeu, mas sua voz falhou e todos ali sabiam que ele estava mentindo – Qual é, Louis! Harry está sabe-se Deus onde, nem ao menos ligar para você ele liga! – acusou, e foi a vez de Louis dar um passo em falso para trás, não acreditando nas palavras que saiam da boca de Liam, afiadas como facas, perigosas como veneno. Nunca o tinha visto daquela maneira, com tanto... ódio – Nós dois sabemos que isso é passageiro! Pensei que talvez, incentivando você a sair com Eleanor, você caísse na real! – apontou um dedo em sua cara, avançando. Niall o encarava completamente desacreditando, se preparando para interferir se necessário.

– Eu não preciso cair na real! – agora estava gritando, e algo em sua volta começou a rodar. Sua cabeça estava a ponto de explodir – Por Deus, Liam, eu não preciso da droga de incentivo nenhum! Eu sei me cuidar, eu sou dono da minha própria vida, das minhas decisões! Você me prometeu tentar! Você me prometeu aceitar! – acusou de volta, e agora estava cara a cara. Liam parecia furioso, e seu pomo de adão subia e descia rapidamente. O ambiente estava pesado como chumbo no ar.

– AI QUE TÁ, LOUIS! EU NÃO CONSIGO! – parou, respirando – Eu não consigo aceitar essa merda toda! Será que você não consegue ver o quão ridículo é? – sibilou, quase em um sussurro, mas para Louis, seria melhor que ele tivesse berrado com todo o seu pulmão. Sentiu o chão cair aos seus pés, e sua respiração se tornou falha – Eu não sou como Niall! – apontou para o loiro, que alternava o olhar entre eles, incapaz de dizer alguma coisa, quase como Louis. Grace, sentada, esquecida, estava a ponto de chorar – Não consigo fingir que essa palhaçada toda é normal! Você ai, como uma garotinha, suspirando por esse... cara! – cuspiu como se fosse veneno que queimasse em sua língua – Isso não é normal! Não é natural, pelo amor de Deus! Você se diz religioso, saiu pelo mundo peregrinando, você, mais que qualquer, deveria saber disso. – cada acusação era como um soco.

– O amor que eu sinto não tem nada a ver com a minha fé. – sua voz não passou de um sussurro, que foi imediatamente sobreposta pela gargalhada sarcástica de Liam.

– Amor! Faça-me o favor, Louis, isso não é amor! Isso é frescura, uma fase, uma insanidade! – repuxou o cabelo, irritado, socando a parede ao seu lado antes de se voltar novamente para ele – Homens são para ficar com mulheres! Não existe esse negócio de homossexual, são todos uns idiotas doentes que precisam se tratar! GAYS SÃO UMA DOENÇA! – berrou tão alto que o copo de vidro em cima da bancada vibrou. Louis piscou, atônito, sentindo os olhos esquentarem – Pare de tentar fazer com que seja normal. Seja racional uma única vez na sua vida! Acha que Mark estaria satisfeito ao ver o filho se tornar uma bichinha? – seus olhos brilhavam com pura maldade, e Louis se segurou para não cair para trás. Niall arquejou alto, incrédulo.

– Liam! Como ousa?! – berrou, se intrometendo no meio.

– Sai, Horan! – o empurrou para o lado – Me deixa terminar! Ele precisa ouvir algumas verdades! Isso não é normal, isso é doentio. Ele e Harry nunca dariam certo. Harry é um assassino em série que matou o próprio namorado! A PORRA DE UM ASSASSINO, LOUIS! Nem que fosse o papa seria um relacionamento normal, agora um louco ex-presidiário, você se superou. – aplaudiu ironicamente, e o som de suas palmas foi o único som ouvido no cômodo – Caia em si, Louis. Isso nunca dará certo. Eu nunca vou aceitar essa presepada toda. Gays são nojentos. Você é nojento.

Aquilo foi o auge. A gota d'água. Cego por suas lágrimas, não conseguindo respirar direito, Louis saiu as pressas, abrindo a porta e nem se incomodando em fechá-la, apenas se concentrando em correr o mais rápido que conseguia, descendo pelas escadas. Ouviu alguém gritar seu nome, mas não virou.

Ao sair na rua, viu que já escurecia, e a noite caiu fria e seca. Suas lágrimas jorravam, pingando na calçada, e seu peito arquejava por ar, queimando até a garganta. A imagem de Liam furioso, suas palavras, tudo ecoava em sua mente, misturando-se em uma cena dolorosa de se ver. Suas pernas tremiam enquanto andava depressa, sem rumo. Não sabia para onde ia. Não sabia o que faria. Queria Harry desesperadamente, dizendo que tudo ficaria bem, que Liam era um filho da puta escroto. Mas não. Estava sozinho. Completamente sozinho. Sem Harry, sem amor, sem nada. Nojento. Doente. Sozinho.

Soluçou alto, desviando dos objetos e pessoas que passavam o fitando, mas ele não estava ligando. Sentia como se pudesse morrer a qualquer segundo, e seu peito doía. Doía muito, por Deus, como doía! Todas aquelas palavras, o ódio. Liam estava certo, afinal? Ele era doente? Nojento? Por amar Harry? Ele seria assim, tão deplorável?

Queria morrer, afinal. Queria os espinhos furando a carne, tão fundo quanto podia. Queria ver o sangue pingando contra sua pele, queria a dor. Porque assim saberia que estava sendo perdoado. Que nada estava errado, que ele ainda era amado. Queria que a inconsciência o acolhesse em seus braços, o embalasse. Queria que Harry o convencesse que Liam quem estava errado. Que estava tudo bem. Queria Harry.

Puxou o celular do bolso, apertando a discagem rápida. Não sabia o que estava fazendo, a dor o cegava como nunca antes. Seus passos se tornaram mais rápidos e frenéticos, e só queria chegar em casa. Sabia que o cilício o estava esperando, no final, como sua única amiga. Ela o salvaria. Ela o livraria dos pensamentos, da imagem de Liam, do ódio. E então, finalmente estaria em paz.

Ouviu cair na caixa de mensagens, novamente. Arfou.

– Harry... – arquejou – Harry, eu estou te implorando... por favor... Harry, eu não sei o que fazer... eu estou com medo, Harry, eu preciso de você... – choramingou, piscando através do choro para enxergar. Não sabia como, mas estava em frente ao prédio. Subiu as escadas de dois em dois, com o telefone colado na orelha. Não sentia suas pernas – Harry, eu estou prestes a fazer uma besteira... Harry, por favor, por favor... – soluçou, antes de ouvir o som de tempo terminado. Abriu a porta as cegas, tateando, em busca de seu perdão.

A encontrou, solitária, convidativa. Arrancou as roupas, ficando completamente nu, chorando cada vez mais alto, até que tudo que conseguia ouvir eram seus soluços e seu desespero. Segurou entre os dedos os espinhos afiados, ainda manchados da última vez. Sua pele estava coçando, implorando para ser ferida. A janela aberta deixou uma brisa entrar, e a luz da lua refletia no rosto manchado e ferido de Louis. O garoto estava machucado, tanto física quanto emocionalmente. Mas as cicatrizes que se formavam não eram visíveis de fora. Tudo que precisava era de um abraço, mas estava sozinho. Aquele apartamento nunca pareceu tão frio.

Unholy (Larry Stylinson AU Religious!Louis)Where stories live. Discover now