This feels like we're falling in love

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[N.A.] Como prometido, Gabby, de noite!
Desculpem, eu tive um bloqueio rápido, e não fazia ideia de como fazer esse capítulo. Acho que gostei do resultado, principalmente do final. Espero que gostem tanto quanto eu.
Finalmente, os agradecimentos. Acho que sou uma pessoa ocupada (preguiçosa) demais para terminar aquele maldito trailer a tempo. Peço perdão.
O capítulo anterior foi incrível para mim! Milhares de pessoas vieram me elogiar, no whatsapp, twitter e por comentários. Só tenho a agradecer. Sei que pareço uma idiota, todo capítulo enchendo vocês com essas notas toscas e falando sem parar, mas é incontrolável. Sinto que não agradeço o suficiente pelo quanto vocês me deixam feliz e realizada. É simplesmente incrível escrever cada atualização, e ver as pessoas se identificando e elogiando seu trabalho. É simplesmente inacreditável, eu só tenho a agradecer.
Hoje, especialmente, as lindas (ou lindos, não sei) do twitter: calumorbido, larrygosmenta (eu sempre rio muito com você!), louisppkao (melhor user ever além de linda e fofa), lukeolx (não vou dizer que chorei com seus tweets pra não pagar de idiota), stylinsoncracia, especialmente a louisfascinante, que me deixou absolutamente comovida, larrybrisa (só users fodas aqui), e, óbvio, sem nunca esquecer ao melhor grupo ever, unholers. Garotas, eu não seria nada sem vocês!
Enfim, deixa de enrolação. Espero que gostem realmente dessa att, muita gente esperou e surtou, e eu tenho medo de desapontar ou não corresponder as expectativas. Por favor, me falem sobre QUALQUER crítica, como a confessionaio fez. Absolutamente agradecida, querida, muito obrigada mesmo. Espero ter explicado da melhor maneira possível os meus exageros.
Amo todas vocês, muito! (nada de inglês hoje). Obrigada por tudo.
P.S.: Alguém ai é sheerio como eu? Kiss me é tipo a melhor música do mundo todo. Meu rei ruivo. Altos feels hoje. [/N.A.]

3º. P.O.V.

2 months ago

A recepção do hospital estava parcialmente vazia para aquela hora da madrugada. A noite já caíra fria e impassível, trazendo consigo uma brisa gélida e um céu escuro sem estrelas. Os bancos duros de plástico permaneciam intactos, a não ser por um, onde um Niall com frio e choroso se encolhia completamente, na falha tentativa de se aquecer.

Bebia um café frio, e seus dentes batiam. Estava com as pernas cruzadas, e sobre elas, um fino e pequeno demais cobertor. Sua jaqueta estava fechada até o topo, e deu graças por estar de boné. Ao menos não sentia a cabeça congelada, como o resto de seu corpo.

Já havia cansado de chorar, mas, ainda assim, por vezes sentia as lágrimas saltarem dos cantos antes que pudesse impedi-las. Louis ainda não havia acordado, sequer demonstrado sinal de vida. O tratamento aplicado era mais demorado que os médicos haviam previsto, e tratavam todos os dias a base de morfina. Não aguentava ver o amigo naquele estado. Por estar na UTI, a recuperação do sangue perdido antes e durante a cirurgia era recuperado lentamente, em uma demora absurdamente grande. Seus músculos, tecidos e carne, completamente tripudiados, se regeneravam lentamente. Nas oito semanas que estava ali, cerca de apenas 76% foi recuperado e reconstituído. Aparentemente, não havia muito o que fazer, e Niall odiava os números.

Continuou seu ritual, irritado, perdido, confuso e sozinho. Liam – maldito seja – não se dera o trabalho de aparecer mais. Niall voltara no apartamento para pegar o restante das suas coisas quando o garoto estava no trabalho, e fez questão de deixar um bilhete, dizendo sobre Louis. Não que um ser daqueles tivesse um pingo de bondade no coração, já que ele fora o culpado de tudo.

Além de raiva, ódio, decepção que Niall sentia pelo amigo, o que mais doía era a sensação de vazio em seu peito. Brigara com Grace, e sentia pior do que já estava. Ele realmente gostava da garota, mas tivera que escolher entre ela e o que era certo.

Grace ficara do lado de Liam – surpreendentemente. Não que a garota concordasse com o que o Payne fizera a ele e ao melhor amigo, mas fez um discurso estúpido defendendo-o. Disse que todos tinham seus motivos, e que ele não deveria julgá-lo, e ser tão extremo daquela maneira. O loiro ficou tão atônito e com raiva que saiu dali sem ao menos dizer uma palavra. Ela tentou ligar algumas vezes, mas ele não atendeu. Sentia-se traído por ela. O cara que fez seu amigo quase se matar, e que estava no hospital. E nem sequer tivera a decência de ir visitá-lo ou tentar se desculpar (não que Niall fosse aceitar suas desculpas fajutas, mas valeria a tentativa). Estava com raiva, e com medo. Medo do que poderia acontecer.

Avistou o médico o chamando. Suspirou e levantou, levando consigo a coberta e o copo, jogando-o pela metade. Não tinha tempo para viajar. Tinha que estar ao lado do amigo quando ele acordasse.

O silêncio no local parecia muito mais incômodo. O ar estava pesado, e cada um mantinha suas próprias expectativas, esperando pelo que viria a seguir. O ar assoviava pela janela, fazendo com que o irritante barulho da tranca se chocando contra o vidro fosse o único a ser ouvido no local.

Louis ainda podia sentir, ouvir, ver. Mas não conseguia associar as ações e emoções em seu sistema nervoso. Era como se suas funções neurais estivessem em perfeito funcionamento, mas sua percepção não. Ele se sentia em uma bolha espessa, que o separava dolorosamente da realidade e de seus próprios pensamentos.

Se não fosse pela dor quase insuportável que sentia, realmente se perguntaria se estava acordado. Se estava vivo. Aquilo tudo era como um grande sonho, colorido e doloroso. Era como se pudesse acordar a qualquer momento.

Mas não o fez.

Continuou ali, naquela mesma cama, naquela mesma posição. Respirando pesadamente, sentindo o peito inflar e descer dolorosamente a medida que respirava cada vez mais forte. Cada palavra dita ainda soava em sua mente, em um canto distante, mas nada superava aquele timbre, seu próprio nome soando no eco vazio. Escorrendo suavemente por aquela boca. Amaciado e doce naquela voz. Deus, com havia sentido falta daquela voz! Nem ao menos sabia distinguir o que era real ou não. Parecia bom demais para ser mais que sua simples imaginação, lhe pregando peças e mais peças, o enganando, o iludindo. Tinha medo de abrir a boca e acabar com o encanto. Não queria acordar. Queria que tudo fosse real.

Encarava o vazio com um misto de incredulidade e felicidade, que brotavam como uma fonte ligada  subitamente. Não queria sentir aquilo. Sabia que, no final, se tudo desse errado, era ele quem teria um coração partido. Não que se importasse com uma dor a mais ou a menos.

– Ha-harry? – gaguejou estupidamente, engolindo em seco, sentindo tudo rodar. Era como se seu coração batesse por dez. Dizer seu nome em voz alta tornava tudo mais surreal e incrível ao mesmo tempo. Era inacreditável. Louis não queria criar esperanças naquele momento, mas era impossível. Prendeu a respiração. Foi quando ele começou a se virar, lentamente, como num filme. E tal como em um, Louis sentia a mesma ansiedade correndo pelas suas veias, no lugar do sangue.

E foi quando seus olhos se encontravam.

Inconscientemente, seus olhos memorizaram cada mínimo detalhe, como se fosse a primeira vez que os visse, e a última. Queria memorizá-los perfeitamente em sua memória. A pele continuava branca, parcialmente bronzeada, naquele momento, e lisa como pêssego, entretanto. Seus lábios, ah, tão lindos, continuavam avermelhados naturalmente, como se por eles tivessem passado o mais suave e brilhante gloss labial. Seu nariz, retilíneo e simétrico, era perfeito demais para ser real. Nem mesmo Michelangelo conseguiria reproduzir o mais perfeito nariz em Davi. Suas maçãs, tão belas e rechonchudas, pareciam estranhamente pálidas, não como o natural. Mas ainda assim tão perfeito quanto ele reproduzia a cada noite. Seus cachos, quase completamente cobertos pela touca, saltavam para todos os lados, bagunçados. E finalmente, chegou aos olhos. Aquelas esmeraldas tão brilhantes. Redondas, misteriosas, sombrias. Mas sorriam, entretanto. Fechavam-se ligeiramente em pequenas fendas, com rugas do lado. Ele o fitava diretamente, como se lesse sua alma, o que o fez corar um pouco. Sentira tanta falta daqueles olhos que chegava a doer. E ali estavam eles, em sua frente. Na cama ao lado. Aquele pensamento fez Louis despertar um pouco, mas, ainda assim, estava atônito, sonhando.

– Você acordou. – sua voz rouca de sono fez com que o garoto estremesse. Ele não era real. Não podia ser – Você me assustou, Louis. Muito. – seu tom desaprovador tornou a culpa do menor ainda mais intensa. Ele baixou os olhos, com muita luta. Encarou seus próprios dedos, sorrindo de canto. Era Harry ali, definitivamente. Não entendia o porquê de ser tão difícil de acreditar ainda. Era como um sonho muito bom. Coisas boas não costumavam acontecer com ele, não daquela maneira.

– Desculpe. – sussurrou pela primeira vez. Tinha tantas coisas que queria dizer, tantas vezes que imaginara aquela cena, e ali estava, em uma situação completamente diferente. Não sabia o que dizer, como reagir. Como Harry sugasse toda sua capacidade de pensar, toda sua sanidade. Se Louis era um lírio, Harry era o beija-flor.

– Eu realmente gostaria de deixar vocês sozinhos, mas Harry precisa de um banho e Louis, de explicações. – Zayn interrompeu, levando um olhar atravessado do cacheado, e o Tomlinson suspirou, assentindo. Suas mãos coçavam para tocá-lo. Sua boca implorava por um beijo, um toque, qualquer coisa.

Niall se pôs de pé, levando o tal Christian consigo. O garoto pegou a sacola que Zayn trouxera e tirou uma muda de roupas e toalhas limpas. O Malik foi até a cama do amigo, tampando a visão lateral de Louis, que fez um bico emburrado. Zayn o sentou e levantou pelo ombro, apoiando em si e levando aos tropeços até uma porta no canto, que parecia ser o banheiro.

Louis teve a visão traseira de Harry. Se esquecera do quanto ele era alto, entretanto. Não parecia muito bem, tão debilitado quanto ele mesmo. Suas pernas tremiam, e haviam ataduras cercando seu abdômen. Ele não se virou, nem ao menos uma vez. Sumiram dentro da porta, com Niall em seu encalço. Chris ficou, apoiado contra a parede, o observando sem pudor. Cruzou os braços na altura do peito e Louis corou.

– Qual sua relação com o meu amigo? – perguntou, por fim, encarando-o de volta. Seus olhos eram tranquilos, mas pareciam guardar muitas histórias. Por um momento, ele se lembrou de Harry, no outro cômodo.

– Nós... nos conhecemos recentemente. Eu tenho um carinho muito especial, pelo Niall. – respondeu, evasivo. Louis decidiu não insistir, por hora.

Tinha muito em que pensar, mas apenas conseguiu se concentrar em Harry. Era deplorável. Sua mente parecia programada para só devanear sobre ele, repassando cada mísero detalhe, como uma tortura. O garoto não via a hora de se aconchegar em seus braços, saber tudo que acontecera, e mesmo assim, com a certeza de que seu Harry estava ali, são e salvo.

Seu Harry. Era uma frase engraçada. E soava perfeitamente bem para o garoto.

O silêncio reinou novamente. Seu cérebro estava derretendo lentamente, e seu coração era uma mistura descompassada de sentimentos e pensamentos. Não sabia o que pensar, como agir, o que dizer. Sentia-se atordoado, e a dor ainda era pronunciadamente forte em suas pernas – o que o impedia de surtar e sair correndo em direção aos braços tão másculos e fortes dos quais tanto sentiu falta nos últimos dias (ou meses).

Ainda parecia surreal. Sabe quando as coisas finalmente começam a dar certo? Parece que se alguém o beliscar, tudo some como em um borrão. Louis evitava sequer respirar. O homem a sua frente, com um cigarro entre os lábios (parecia que todos os homens sexys fumavam) e distraído era como uma miragem. E Harry estar a apenas algumas paredes de distância, era inacreditável.

Tantas noites maldormidas, tantos sonhos, pesadelos. Tantas vezes que visualizou aqueles olhos verdes e não podia os ter. Quantas vezes não sentiu o ferro frio penetrar sua pele, e tudo que pensava era em Harry. Ele tomava seus pensamentos, a todo instante. Tomava seu coração a cada batida. Tomava sua alma, a cada embalo. Harry tomava todo o seu ser, irremediavelmente. Não tinha mais volta.

Aquilo era amor? Ele estava apaixonado?

Não sabia. Nunca havia sentido aquilo antes. Já saíra com algumas mulheres antes. Garotas. Já as beijara, mas não sentia nada que os livros e filmes descreviam. Seu estômago não saia do lugar, suas pernas não bambeavam, não sentia a excitação. Apenas um certo incômodo ao sentir as línguas se tocando, e – sinceramente – odiava quando pegavam em sua bunda, estupidamente grande demais para um homem. Mas com o Styles não. Ele parecia ser diferente de tudo que já vira ou provara. Apenas sua presença o fazia querer desmaiar de tanto nervosismo.

Quando falava, sua voz soava e ressoava como um coral de anjos cantando em seu ouvido. Quando o beijava, via estrelas e o céu parecia cair. O chão se abriu, borboletas voavam e suas mãos soavam como nunca. Sua mente derretia. Ele se esquecia de tudo, de quem era, como se chamava. Apenas queria mais e mais daquilo. Nada mais importava. Parecia quase certo. E quando ele o olhava... não haviam palavras certas para descrever. Era mágico. Ele lia cada pedaço de sua alma. Harry era único. O único. O único que roubara seu coração, de forma cruel. Arrancou-o de seu peito, e Louis se via sangrar quando ele o levava embora no final do dia. Doía, mas era uma ferida passageira. Porque, ao ver seu sorriso torto e irônico mais uma vez, tudo se reconstruía novamente, e ficava bem. Harry era, ao mesmo tempo, sua droga, seu vício e sua cura.

Uma movimentação se fez e o garoto virou os olhos, ansioso. E lá vinham eles, em uma espécie de pompa real, com Harry no centro. Zayn e Niall o apoiavam. O garoto parecia quase com o que era antes, usando uma calça de rasgos e uma camiseta preta. Uma bandana prendia seus cachos molhados para trás. Ainda assim, parecia com falta de ar, mesmo que o sorriso não abandonasse seu rosto. Estava pálido, e pela transparência do tecido, Louis via novas ataduras circundando a área de sua costela.

Eles o sentaram em sua cama, sem tirar seus olhos de Louis, que o queimavam por inteiro. Niall saiu de perto e foi ao lado de Chris, recostando sua cabeça nele. Zayn voltou a se sentar na poltrona incômoda. E todos ficaram em silêncio.

2 months and 2 weeks ago

Niall voltou do último andar, cansado. Louis não tivera nenhuma melhora significativa, e Grace o procurara no quarto de hotel. O garoto estava se sentindo exausto, e pedira licença em seu trabalho. Seu chefe era compreensivo, e estava ganhando por férias forçadas.

Voltou a recepção. Já a conhecia como a palma de sua mão, e estava particularmente enjoado do amarelo doente que descascava sobre a parede. Caminhou até a máquina de refrigerante, depositando algumas moedas e pegando uma lata. Precisava de cafeína, ou então cairia ali mesmo e dormiria.

Foi até a cantina, apenas com algumas pessoas, e sentou-se na mesa do canto, observando pela janela. Perdido em pensamentos, não via quando outra pessoa se sentou a sua frente.

Voltou o olhar, surpreso, ao sentir um forte e doce perfume. Deparou-se, então, com o que poderia ser o homem mais bonito que já vira. E aquele pensamento não era típico de si.Engoliu em seco, encarando seus olhos surpreendentemente claros.

– Olá. – sua voz era suave e firme. Sua mão estava envolta por um gesso.

– Oi. – Niall balbuciou, atônito. Balançou a cabeça levemente, bebendo um gole para disfarçar.

– Como você se chama? – ele parecia ser muito direto. O loiro mordeu o lábio, avaliando-o discretamente, ao contrário do outro. Sorriu, por fim.

– Niall Horan.

– Prazer. – ele estendeu a mão boa. Quando Niall a pegou, sentiu um leve choque. Seu aperto era firme, e, pela primeira vez em meses, sentiu tranquilidade – Christian Burton.

A procissão se calou por alguns minutos, um encarando o outro. Por fim, foi Zayn quem começou.

– Acho que tenho algumas coisas para explicar ainda, parece que ninguém aqui sabe falar. – seu tom era divertido e acusatório. Niall corou, mas Harry não expressou nenhuma reação, se recusando a tirar os olhos de Louis. Sentia como se o fizesse, ele desaparecesse. Infelizmente, nenhum dos dois sabiam que os mesmos pensamentos corriam em suas mentes – Quando chegamos, Harry estava inconsciente. – Louis estremeceu a simples menção, e o Styles, imperceptivelmente, também o fez – Eu não sabia que você também estava aqui. Encontrei com Niall por acidente, no corredor. Ele me explicou tudo. Eu sabia que Harry enlouqueceria quando soubesse. – suspirou.

– Você tinha razão. – o Styles murmurou irritado, e Louis baixou os olhos, sentindo-se queimar. Zayn ignorou o comentário.

– Enfim. Harry foi para a cirurgia. A bala, por dois milímetros, não destroça suas costelas. Foi uma operação de risco, e ele teve que receber uma transfusão de sangue. Parecia que tinha sofrido um trauma psicológico muito grande, e isso afetou sua melhora. – Louis lembrou-se vagamente da mensagem de celular que gravou, desesperadamente, e se perguntou se tinha alguma parcela de culpa naquilo. Não que esta já não tivesse tomando cada célula do seu corpo naquele momento – De qualquer maneira, durou apenas um mês e meio, toda sua recuperação. Mais algumas fisioterapias, foram cerca de dois meses.

Louis franziu o cenho pela primeira vez. Segundo Niall, ele ficara em coma por 4 meses. Pelas suas contas – e ele realmente achava que ainda não estava ruim em matemática – sobravam dois meses de compensação. O de olhos azuis virou-se para Harry, encarando suas íris esverdeadas, esperando por alguma explicação. Mas ele apenas sorriu. Mesmo não sendo o que ele esperava, ficou encarando-o por alguns segundos, perdido no mar de seu rosto, sentindo o coração iniciar uma sinfonia de tambores. Desviou, por fim, envergonhado. Zayn apenas o fitava divertidamente, esperando para continuar.

– O problema é que Harry não presta.

Niall prendeu o riso, enquanto Chris e o próprio Harry riram abertamente. Louis fez uma cara confusa, alternando o olhar entre todos dali. Não se sentia bem sendo o único excluído das piadas internas.

– Ele já podia receber alta em maio. Mas não quis. Ele insistiu para ficar aqui, até que você saísse, para não sair de perto. Desembolsou uma grana preta para subornar cada médico, enfermeiro e guarda-noturno. Nunca o vi fazer isso com ninguém. – comentou, olhando o amigo de rabo de olho, que apenas se fechou em uma carranca, sem dizer nada.

Louis teve que parar por um segundo para assimilar a enxurrada de informações. Contudo, era impossível não se sentir lisonjeado com a atitude. Aparentemente, tudo que envolvia Harry era como que relacionado a realeza. Os atos, as palavras, as riquezas, os modos. Um verdadeiro príncipe. O que, aparentemente, tornava o Tomlinson o sapo da relação.

Mas ele não se importava. Nem um pouco.

– Ele ficou aqui dia e noite, sem sair sequer um dia. Pediu, ou melhor, implorou para que ficasse com a bala. Para, é como um troféu ou algo do tipo. Não faço questão de saber. – Zayn rolou os olhos, enquanto Niall ria e Louis fechava-se em uma carranca triste. Não suportava sequer olhar para o objeto que quase matara Harry. Seria melhor que ele se matasse antes de ver aquilo acontecer.

Novamente silêncio.

Zayn parecia ter dito tudo que queria, recostado confortavelmente e olhando a todos. Louis sentia um incômodo na perna, mas a dor que o assolava internamente era maior ainda. Não conseguia, sobretudo, fitar os olhos de Harry, que o queimavam intensamente. Sabia o que estava por vir. Tinha tantas perguntas a fazer, mas nenhuma delas parecia ter uma resposta.

– Hm... eu acho que é hora de deixarmos eles sozinhos. Zet. – Niall replicou no canto, e Zayn assentiu. Louis anotou mentalmente (enquanto ainda lhe restava alguma sanidade temporal) para perguntar a Niall, preencher as lacunas vazias de alguma maneira.

– Vamos sair daqui. Estaremos no corredor. Acho que Louis consegue sobreviver mais algumas horas antes de avisarmos o médico que ele acordou. – ergueu uma sobrancelha sugestivamente, e Louis assentiu, quase desmaiando de gratidão.

Todos os três saíram em fila indiana, e o Malik piscou atrevidamente antes de sair. A porta se fechou com um baque, e tudo parecia angustiadamente calmo demais. A janela aberta já não passava mais uma brisa, fazendo com que todo o ambiente esquentasse. Louis, porém, suava frio. Não se sentia – de longe – preparado para aquilo.

Harry se levantou com alguma dificuldade depois de certo tempo. A operação ainda incomodava, em alguns pontos, mas se recusava a admitir a alguém. Conseguia se virar sozinho, e já andava mais de dez metros sem despencar no chão. Sentou-se próximo a cama de Louis, suspirando ao encarar seus olhos tão azuis de perto. Sentira falta daqueles olhos. Sentira falta de tudo, mas, principalmente, dos olhos.

Suspirou pesadamente. Ainda se lembrava com clareza do que sentira quando finalmente acordou daquele sono sem sonhos, escuro, e foi recepcionado por Zayn, em um quarto estranho e solitário. O castanho não era conhecido por sua delicadeza, mas dizer sem beira nem eiras que Louis estava internado porque estava se autoflagelando com um cilício foi um pouco demais para que o Styles suportasse.

Primeiro veio a incompreensão. Depois, a estupefação. Depois, o surto. E por fim, a raiva. Foram necessários dois enfermeiros e uma médica com calmante para fazer com que Harry se deitasse novamente. Sabe-se Deus como ele conseguiu sequer levantar, quanto mais derrubar duas mesas cirúrgicas e arremessar uma vasilha contra a parede. Zayn já esperava por aquilo, de qualquer maneira. Só não pensava que seria tão... intenso. Por pouco que não é atingido por um dos piores acessos de fúria de Harry Styles que já presenciara na vida.

Harry passou três dias em puro ódio. Ódio de Zayn, do mundo, do hospital, do filho da puta que o atingira, de Louis, mas, sobretudo, de si mesmo. Sabia, de uma maneira ou outra, que era sua culpa, mas esperaria o garoto acordar para tirar as satisfações necessárias.

Mas os dias passavam e ele não acordava.

Quando completou um mês, Harry só faltava se enforcar com as fronhas. Estava inquieto, estressado e irritadiço por demais. Por fim, exigiu estar no mesmo quarto de Louis. Fingiu algumas vezes dores terríveis, quando na verdade eram mais como picadas incômodas. Mas, conseguiu. Sentia muito sono por conta do soro, entretanto, dormir fitando a imagem de Louis – mesmo que horrendamente pálida e desacordada em uma cama de hospital – era o melhor tranquilizante que ele poderia ter.

Poderia ser forte, poderia se fazer de forte. Poderia aguentar a dor. Mas, sem Louis, não era nada.

Eles ficaram minutos se encarando, verde no azul. Safiras nas esmeraldas. Ambas as imensidões cobertas de sentimento reprimido, as almas dançando nas sombras de suas íris. Tinham muito a dizer, mas as palavras não eram o suficiente.

Por fim, Harry suspirou e pegou a mão de Louis. Quando elas se tocaram, parecia como a primeira vez, mais uma vez. As do Tomlinson eram pequenas e frias demais, mas se encaixavam com perfeição das de Harry, que as apertavam como se necessitasse daquilo para viver. Duas peças do quebra-cabeça. Feitos um para o outro.

– Por quê? – o cacheado soltou, por fim, apertando os dedos miúdos contra sua palma, acariciando levemente. Cada toque era como um choque eletromagnético. Louis não suportou, sentindo as lágrimas brotaram nos cantos. Sua garganta raspava, e seu peito doía. Muito.

– E-eu não sei. – gaguejou como murmuro – Quando você se foi, eu voltei para a abadia. Eu estava me sentindo culpado por te... por todos os sentimentos. – mordeu a língua. Não estragaria tudo, não mais uma vez – Eu só queria ser amado. Ser perdoado. Porque Deus odeia gays como eu. – olhou para sua mão livre, envergonhado. Harry sentiu a garganta se fechando. Ver Louis se martirizando era pior que todos os círculos do mais tenebroso inferno. E Harry enfrentaria todos eles quantas vezes fossem necessárias, apenas para não ver o que via, não ouvir o que ouvia. Era simplesmente agonizante.

– Loueh, pequeno. – sussurrou dolorosamente, se aproximando com certa dificuldade. Inspirou fundo, sentindo falta do perfume natural que exalava de seu Louis. – Não importa o que dizem. Amar não é errado. E Deus ama você do jeito que você é. – Harry não acreditava que aquelas palavras estavam saltando por sua boca, mas antes de conseguir refrear, se viu dizendo: – Assim como eu amo.

Louis paralisou. Sua respiração, outrora entrecortada, parou completamente. Tudo havia parado. O universo havia estatizado naquele momento. Harry o fitou, com os olhos suplicantes, as mãos apertando as do garoto com urgência.

E então, tudo fez sentido.

Cada palavra, cada toque, cada beijo. Cada sonho colorido, cada pesadelo, cada noite que passara em claro. Louis simplesmente entendeu tudo. Como se tivesse tido uma revelação. Não era a culpa, não era a vergonha. Porque, no final, sentia que era tudo parte do todo. Sim, ele se sentia culpado, e sim, se sentia envergonhado. A cada perfurar do espinho, um novo alívio invadia sua alma, e ele sabia que poderia dormir mais tranquilo aquela noite. Mas dizer aquilo era apenas enganar quem não engana a si mesmo. Louis sentia medo. Medo de não ser correspondido. Medo de estar se entregando e ser machucado. Medo de cair, e não conseguir recolher os pedaços. Medo de estar amando Harry.

Mas já era tarde demais. Quando os pássaros pareceram mais melodiosos, quando o céu pareceu mais estrelado, quanto as estrelas pareceram mais brilhantes, ele soube. Por Deus, no âmago de sua alma, ele soube. E então seu coração se encheu de amor.

E ao mesmo tempo que amava, tinha medo. E era o medo que o impulsionava a culpa, a vergonha, e que o fazia ser tão estúpido. Quando se punia, quando via o sangue escorrer, via seu medo ser levado embora, porque sabia que era fraco, e que não tinha saída. O amor cura, mas também destrói, machuca, sangra. Louis se viu sangrar, porque Harry levara seu coração com ele. E, lentamente, sangrou junto. Morreu junto. Aos poucos, seu amor foi se espalhando, e, com ele, levando cada milésima parte da agonia.

Ali estava, no entanto. Seu coração que sangrava agora reunia os próprios pedaços, e o sentimento tornava a lhe incendiar. Era um fogo bom. Era um fogo acolhedor, que esquentava. Ali estava Harry, imperfeitamente perfeito, dizendo aquelas palavras. Tudo parecia como um sonho. Bom demais para ser real, e doloroso demais para ser apenas um sonho.

Louis sorriu. Lentamente. Harry o fitou confuso. E o garoto soube que era ele. Sempre fora ele. Não tivera, nem ao menos, a possibilidade de ser outra pessoa. Em todos aqueles anos, todas as vezes que se deitava para dormir e se abraçava, tentando manter todos seus pedaços juntos, tentava suprir a sua outra metade perdida. Ele esperava apenas pelo momento certo. Harry, o seu anjo de olhos azuis, a sua perdição. A sua tentação, a sua punição, a sua absolvição. Harry, o demônio com asas. Harry, com os olhos verdes mais intensos que já vira. Harry, com a boca mais esplendidamente desenhada e doce que já provara. Harry, com seus braços quentes e protetores. Harry, com seu jeito possessivamente carinhoso. Harry, com suas palavras deslocadas, mas, de uma maneira estranha, que eram sempre as que ele precisava ouvir naquele momento. Era Harry, apenas. Harry, com todas suas qualidades, todos os seus defeitos. Harry. Para sempre.

Inclinou-se, incapaz de responder a altura. Palavras não bastariam. Puxou o rosto do encaracolado com a mão livre, colando seus lábios com leveza. Quando os seus tocaram os dele, cada caluna se preencheu irrevogavelmente. Não precisava de respostas, afinal. Apenas precisavam um do outro.

Era um beijo simplório, calmo. Sem línguas, apenas o toque. Era diferente, no entanto. Era repleto de paixão, de desejo, de cumplicidade. No momento em que se tocaram, eles souberam que haviam se perdoado. Nunca houve um segundo sequer em que já não tivessem se perdoado.

Harry entrelaçou sua mão com força em seu pescoço, puxando-o para perto, sentindo-o por inteiro. Imaginara aquele momento milhões de vezes em sua mente, mas nem em seus maiores e melhores devaneios chegariam a um milésimo daquele toque.

Se separaram levemente, colando as testas. Verde no azul. Se encararam, sem dizer nada, mas, ironicamente, dizendo tudo que precisavam. Uma das mãos de Harry pousou levemente sobre a coberto, acima das coxas de Louis, e acariciou o local ternamente. O menor nunca o vira daquela maneira. Seus olhos tinham um brilho diferente e completamente novo.

– Esse sentimento... – Harry soou rouco, com um leve sorriso. Sua covinha furou do lado direito, e seu rosto iluminou-se angelicalmente. E Louis soube que tudo havia valido a pena.

– É. Eu me apaixonei. – sussurrou. Estavam em seu mundo. Seu universo, sua realidade. Seu Harry.

– Nós nos apaixonamos. – corrigiu. Colou novamente seus lábios em um selinho casto – Por favor, Louis, não faça isso comigo novamente. Eu não aguentaria te perder. – suplicou.

– Eu não vou. – era uma promessa, selada no interior de dois corações, que agora batiam como um só.

Unholy (Larry Stylinson AU Religious!Louis)Where stories live. Discover now