O Outro [TRADUÇÃO PT-BR]

0. Um ano atrás...

Suas mãos estavam tremendo.

Ou melhor, todo o seu corpo estava tremendo: usava apenas uma camiseta ensopada com o próprio sangue, cheio de sujeira, tinta e barro. Isso, e a maior faca que suas mãos puderam discernir.

A casa estava na penumbra, com a chuva ferozmente castigando as janelas, como se um furacão esperasse ali fora para arrancar o teto com um golpe só. Os raios azuis apareciam a cada instante através das janelas, iluminando seu caminho até as escadas. As fotografias de família na parede estavam em pedaços, assim como o carpete. Contudo, ele não notou o restante, a escuridão permanente em seus olhos não poderia adverti-lo sobre o estado da casa, sobre os quadros ou a sua própria aparência, assim como não notaram anteriormente.

Sua sanidade havia virado fumaça assim como o carvão. Suas memórias eram uma mancha escura, espessa e nebulosa. E durante um tempo, ele não soube se eram reais, pois se olhasse para alguns meses atrás, lembraria de si mesmo sorrindo, trabalhando e sendo feliz.

Quando uma de suas mãos encontrou o corrimão da escada, começou a subir. Ainda temeroso, empunhou fortemente a faca para fincá-la na parede em busca de equilíbrio.

Então começou a contar.

Um, pensou que Yixing estaria no quarto...

Dois, certamente dormindo...

Três, sem saber de nada...

Quatro, mas não tinha certeza...

Cinco, mesmo que ele falasse, não tinha como saber...

Seis, pensou cuidadosamente: "Quem é Yixing?"

Sete, sorriu, tropeçando no degrau oito.

Parou ali, apoiando as costas na parede. Sua respiração estava agitada só de pensar no que ia fazer, e quando suas costas tocaram a parede, uma dor aguda o fez piscar, doía, mesmo que não tivesse certeza do quanto. O mesmo pânico estava lhe servindo como anestésico, inclusive o frio começou a entorpecer as suas extremidades, já que de uma forma inexplicável, ele também estava molhado.

Tomou uma grande quantidade de ar, voltando a andar. Está assustado. Desesperado, e a única coisa que pode pensar, é em uma solução. Não há outra maneira. Temia tanto isso como ficar sem fazer nada, mas quando pensa em se arrepender, ele simplesmente diz:

Eu preciso fazer isso. Por nós dois.

E continua subindo.

Outro raio irrompe pela casa, iluminando Yifan subindo as escadas. E do mesmo jeito, também ilumina o homem que está atrás dele, seguindo os seus passos.