Capítulo 2: Torta de limão

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Eu estou nervosa, e isso deve estar estampado na minha cara. É bem provável que ele já tenha notado meu desconforto causado pelo silêncio de sete minutos que estava esmagando meu ar.

-Chegou sua vez de viajar.

É, ele suspirou e contou de uma vez. Achei que nunca estaria preparada.

-Jura? Vou para onde? Macon? Anthes?

-Atlanta.

E foi aí que meu sorriso se desfez por inteiro. Jamais pensei que voltaria para Atlanta, pelo menos não sem Taeyang comigo. Depois da morte dele eu me recusei a ir para Atlanta, o lugar onde eu nasci e onde aconteceram tantas coisas ruins com ele, coisas das quais eu não sei, mas que foram realmente ruins.

-Atlanta? Fala sério?! São seis horas de carro, isso sem trânsito algum.

-Acho interessante uma pessoa que nasceu em Atlanta cobrir as investigações da cidade. Isso é importante para nosso jornal e você é uma das minhas melhores, não posso perder esse gancho, e essa oportunidade é perfeita para você. Taeyang ficaria feliz.

-Taeyang me disse para nunca por os pés lá!

Ele me olhou por cima dos óculos e cruzou os braços.

-Eu não estou pedindo, você sabe.

-Não pode me mandar para outro lugar?

-Qual é, Lalisa. Todos do escritório sabem que você tem uma queda por investigações, e dependendo de como se sair nesse projeto pode ganhar uma boa promoção.

Senhor Koo sempre foi bom em persuadir alguém com suas palavras e jogos psicológicos. Ele sabe bem que eu busco pelo cargo de editora chefe faz muitos meses. Porém, não nego, estou com o pé atrás em relação à isso. Não posso fingir total alegria com algo que me deixa insegura.
Se Taeyang me disse para não ir lá, que farei eu em Atlanta?

-Você quem sabe, só se lembre que a porta da rua é serventia da casa.

-Vai me botar no olho da rua se eu não for?

-Sabe o que aconteceu com os outros que resolveram por suas angústias acima do trabalho? Você, assim como eles, ainda tem muita coisa para aprender. Use essa viagem para crescer, não perda essa chance.

-Senhor Koo...

-Está me chamando de Senhor Koo, já sei a resposta. Bom, pegue suas e procure outro jornal com necessidades menores.

-Mas eu...

Me ignorando por completo ele voltou toda sua atenção para redações e contratos que estavam em sua mesa, fingindo não estar a minha presença.

-Pode me dar um tempo para pensar?

-Você tem até às nove da noite.

Sorri fraco e me levantei.

-Ah, espere, avalie isso para mim.

-Mas hoje é sexta, não seria só a reunião?

-A donzela tem um compromisso importante hoje? Sabe, você precisa levar tudo isso mais a sério, isso não é como brincar de boneca. Seu pai não está mais aqui para te carregar na asa dele. Você deve se esforçar se quiser se manter aqui dentro. Sabe, tem muitas pessoas estudiosas e focadas querendo seu cargo, ou você corre a frente delas ou saia do caminho.

O que deu nele? Todos sabem que ele é sério e grosseiro às vezes, mas hoje ele está praticamente impossível.

-Tudo bem, me dê.

Peguei a pasta e fui para minha mesa.
Eunbi me trouxe um café e depois saiu devagar para que ele não a ouvisse.

Comecei a ler as redações e os rascunhos de artigos da semana inteira. Não estava pensando que o dia seria assim, normalmente tudo fica programado e organizado. As funções sempre são bem separadas, então situações como essa não são comuns.

Depois de meia hora, senhor Koo abriu a porta da sua sala e olhou ao redor.

-Junhoe chegou?

Neguei com a cabeça e voltei a ler.

-Me avise se ele aparecer.

Na maioria das vezes Junhoe avisa para Deus e o mundo cada passo que ele vai dar por aí, mas hoje nem para mim ele mandou alguma mensagem.
De qualquer forma, voltei a prestar atenção nos rascunhos para terminar logo.

Acabei saindo do escritório às sete, com mais e mais trabalho que meu amado chefe fez questão de me dar.

Exausta, sonolenta e faminta.
Sim, essa sou eu, caminhando lentamente até meu carro.
Meu celular começa a tocar fazendo um barulho alto no meio do estacionamento vazio.

-Alô?

-Vem pra cá.

-Junhoe, você está bem?

-Acho que estou morrendo.

-O que? Espera, o que está acontecendo? Já estou chegando aí.

Fui tentar abrir a porta do carro às pressas e minhas coisas caíram no chão. Cena linda, absorvente, batom, chaves, moedas e todos os objetos que estavam na bolsa agora estão espalhados no chão. Pego somente o que é importante e entro no carro, arrancando imediatamente.

No trajeto eu quase atropelei um casal que parecia estar se arrastando para atravessar a rua, buzinei tantas vezes que foi aí que me arrependi de não ter comprado aquela sirene roubada no camelô da quinta avenida.

-ANDA LOGO, OU EU PASSO POR CIMA!

Eu estava desesperada. O dia todo sem dar notícias, sem dar a cara. Agora, me liga com aquela voz trêmula.
Junhoe, isso não se faz, não mesmo.

Procurei lugar para estacionar e por fim, entrei no prédio onde ele morava. Chutei até o elevador, impaciente com a demora para chegar.
Mais uma vez, meu celular parecia estar gritando para que eu atendesse.

-Ei, estou chegando. O que você está sentindo?

-Estou no terraço. Sobe aqui.

-Junhoe, mas o que você está fazendo no terraço?

-Vem.

Fiquei bons segundos encarando a tela do aparelho tentando entender a situação.

Quando as portas se abriram eu corri e subi as pequenas escadas para chegar ao terraço. Abri a porta com todo o medo do mundo e quando vi, ele estava sentado, ao lado de uma mesa cheia de doces e meu vinho favorito.

-Surpresa!

-Seu grande filho da...

Ele abriu um enorme sorriso e fez um gesto para que eu me sentasse na outra cadeira.

-Junhoe, eu não acredito, você me fez correr até aqui, você tem noção? Eu quase atropelei quatro pessoas, quase quebrei um hidrante, me descabelei toda e você nem sequer está morrendo.

-Tem torta de limão, quer?

Soul Criminal: Red- Vol. I [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora