Capítulo 3: Perversidades

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-Qual é o seu problema?

Fiquei indignada com a calma dele, mesmo eu estando uma pilha de nervos.

-Ah, vem cá, isso é fome, não é? Eu entendo. Olha, eu tentei fazer um jantar saboroso e italiano como você gosta, mas, eu acabei queimando a pasta. Eu juro, eu tentei. Então, como falhei miseravelmente e hoje é sexta, podemos quebrar o código da dieta, comer nossos doces preferidos, e também encher e cara com esse vinho que custou metade do meu salário.

Fiz cara feia e serrei os olhos, o encarando irritada. Ok, isso não durou por muito tempo, eu acabei sorrindo e abrindo os braços para um abraço.

-É impossível ficar brava com você, mas seria muito mais fácil ter apenas me chamado para jantar. Esqueceu? Sou sua melhor amiga, pode até me chamar para cometer um crime, como o que eu li hoje de manhã, eu irei sem questionar.

Dito isso, ele me abraçou. Depois me sentei e olhei a cidade de noite, enquanto partia para morder um pedaço da torta.

-Qual o motivo disso tudo? Quer dizer, você depositou um ano de poupança só nesse "jantar".

-Eu acho que hoje é um dia muito importante, para você e eu.

-Algum motivo especial?

-Bom, primeiro, quero dizer que ganhei minha promoção na revista, e agora sou editor chefe.

-Não acredito! Eu sabia, você é incrível. Devia ter me contado mais cedo, eu mesma faria um jantar para você.

-Isso é muito bom, mas não é o motivo desse jantar.

Ele estendeu a mão com uma taça de vinho, e se preparou para começar a falar.

-Eu, queria fazer algo especial para você, sabe? Faz oito anos que eu te conheço, e também faz cinco anos que nos tornamos melhores amigos. Quero dizer, eu e você somos muito próximos e conhecemos bem um ao outro. Você é muito especial para mim, e tudo isso é para que eu possa dizer que eu estou apaixonado por você, Lisa. Tudo em você me encanta, seu jeito, às vezes doido, às vezes calmo. Seu sorriso, sua boca, seus olhos, tudo. E eu acho que nem consigo dizer exatamente o tamanho do meu sentimento porque é algo que nem eu consigo explicar. Só queria perguntar uma coisa, Por acaso, assim, sabe...você quer namorar comigo?

A torta de limão parecia estar entalada na minha garganta. Tentei engolir mas ela não descia e nem subia. Ficou presa, ali. Comecei a tossir e beber vinho sem parar. Peguei a garrafa e virei para ver se ajudava e nada. Me levantei e tossi mais ainda.

Que situação maravilhosa. O meu melhor amigo acaba de fazer uma declaração e tudo que eu sou capaz de fazer é me entalar com um pedaço de torta.

Percebendo meu desespero, Junhoe tentou me ajudar, mas de uma forma muito engraçada. Não sabia se ria, se chorava ou se me fingia de morta, mas tudo bem, Junhoe já viu fases minhas muito piores do que essa.

O que muda agora é o fato de eu saber que ele tem uma certa paixão por mim.
Nada demais, não é?

Finalmente, a torta pareceu saltar da minha boca e cair lá em baixo, em algum capô de algum carro.

Respirei fundo, tentando recuperar o fôlego.
Olhei para Junhoe que estava sério, com uma mão na minha cintura e a outra no bolso da calça.
E agora? O que eu digo à ele?
Respiro fundo, e por um momento eu sinto algo diferente. Acho que a ficha realmente só caiu agora. Olhando assim, ele parece estar suplicando uma resposta.
Seus olhos sempre foram lindos assim?
Céus, Lisa, responda ele.
Me viro devagar e pego na sua mão.

-Fico feliz que tenha se disposto a fazer tudo isso para me contar sobre o que você sente por mim. Você é maravilhoso e a melhor pessoa que eu poderia ter conhecido. Obrigada por tudo o que fez por mim, e pelo que continua fazendo.

Mas, não era essa resposta que ele queria. Por mais que ele tenha dito tudo de uma forma tão calma, eu, ao contrário dele, pareço estar prestes a explodir.
Acho que eu deveria realmente ser sincera agora.

-Eu não sei o que está acontecendo comigo.

-Está tudo bem?

-Eu não consigo respirar direito, que frio na barriga.

Ele começou a rir. Sim, rir alto, como se eu acabasse de contar uma piada.

-Para de rir, idiota. Qual é a graça?

-Eu sabia, você está apaixonada por mim! Eu sabia!

-Por que está dizendo isso? Você nem bebeu vinho direito, não pode estar mais bêbado que eu.

Ele nem se deu ao trabalho de dizer mais nada, apenas segurou meu rosto e me beijou.

Céus, que lábios são esses?
Não levarei em conta o quanto é estranho estar o beijando, lembrando que ontem eu disse que o considerava um irmão mais velho e chato, e que agora eu estou praticamente derretida na sua boca.

Onde eu estive esse tempo todo?
Como percebi só agora?
Eu realmente estou ficando sem ar, meu coração parece não dar conta de tanto fogo.

Quando ele separou nossos lábios, eu, com toda a coragem que o álcool e o açúcar puderam me oferecer, o agarrei novamente. O puxei pela gola de sua camisa, (que, mais uma vez, não tinha notado o quão sexy estava nele), e cometi uma colisão de calor dos nossos corpos.

Melhores amigos fazem isso?
Foda-se, agora somos namorados!

Seria pecado dizer que de entalada desesperada eu parti para uma descontrolada libidinosa?

Parece que Junhoe apertou um botão desconhecido em mim, ato que deixou uma coisa profunda que estava escondida escapar de vez.

-Não acredito que perdi oito anos sem beijá-la antes.

-Ai, cala a boca. Não perda mais nenhum segundo.

Quem sou eu?
Possuída talvez.

-Acho melhor descermos.

Sua reação era uma obra saborosa de se observar. Eu estava me esbaldando nele.

Mal entramos no elevador, e lá estavam nossos lábios unidos mais uma vez.

Quanta malevolência num lugarzinho só.

Fomos esbarrando nas paredes dos corredores até chegarmos no apartamento dele. Foi então que levei um susto. Olhei para o relógio da parede e arregalei os olhos.

20:55pm.

Parei o beijo e corri até o telefone.
Disquei o número e esperei ele atender.

Junhoe, também possuído pela perversidade do momento, começou a distribuir beijos pelo meu pescoço, fazendo bom proveito das belas e grandes mãos que Deus lhe deu, apertando meu corpo contra o dele.

Por travessura diabólica, no mesmo tempo que o Senhor Koo atendeu o telefone, Junhoe desceu sua mão para o paraíso da meia noite.

-Alô? Junhoe?

-Oi, não, sou eu, Senhor Koo, Lisa. Eu, liguei, porque eu...

Estava impossível controlar. Mordi o lábio com tanta força que pensei que fosse estraçalhá-lo. Meus olhos se fecharam automaticamente e um arrepio delicioso percorreu todo meu corpo.

-Eu liguei pra dizer que eu aceito.

E foi só isso que eu consegui dizer. Joguei o telefone no gancho e soltei o gemido preso na alma.

-Puta merda!

Seus dedos pareciam ser surreais. Seu toque era tão preciso, tão estonteante.
Segurei na mesinha e o senti dar uma leve mordida na minha orelha.

E pensar que eu tinha esse homem comigo há oito anos e não aproveitei em nada.
Tudo bem, temos a noite inteira até eu ir para Atlanta amanhã.
O que eu não fiz nesses anos todos, farei hoje, em uma única noite.

Soul Criminal: Red- Vol. I [CONCLUÍDA]Where stories live. Discover now