Capítulo 4: Adeus, Memphis

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Acordei ouvindo os barulhos na cozinha e me espreguicei.
Me sentei na cama e me vi no enorme espelho do quarto dele.

Que noite foi essa?!

Sorri boba, só de lembrar dos crimes perversos que cometemos nesse apartamento, e me levantei, indo até o banheiro.
Lavei o rosto, e enxaguei a boca. Arrumei meus cabelos e coloquei a camisa que ele estava usando ontem.
Fui até a cozinha e o vi tentando fazer o café da manhã.

-Bom dia, querido.

-Bom dia.

Seu tom de voz era sério e frio.

-Ei, o que houve?

Ele então parou de fazer o que estava fazendo e apoiou as mãos na bancada.

-Você vai para Atlanta?

Passei a língua nos lábios e o encarei.
Ele, por sua vez, parecia não acreditar na minha reação. Simplesmente negou com a cabeça e prosseguiu.

-Mesmo depois do que aconteceu entre nós?

-Junhoe, é só por um tempo, você sabe. Seu pai não me deu escolha, o senhor Koo é cabeça dura.

Ele mordeu o lábio e me deu as costas.

-Vai agir assim por causa de uma viagem?

-Não é uma viagem. Você vai ficar lá por um bom tempo, ocupada conversando com milhares de pessoas sobre porcarias de crimes que você não tinha que se meter. Que droga, qual é o problema do meu pai?

-Olha, a gente vai se falar todo dia. Não precisa ficar assim, eu não vou me mudar, vou à trabalho. Pensei que ficaria orgulhoso por achar que finalmente tenho capacidade pra agir fora da minha área de conforto. Eu fiquei feliz por sua promoção, não esqueça que antes de tudo, somos melhores amigos.

-É, fomos ótimos amigos ontem à noite.

-Você sabe o que eu quis dizer.

-Que seja.

E para ser sincera, eu não conseguia entender. Se essa viagem fosse acontecer antes de todo esse rolo, a reação dele seria diferente?
O que mudou?

-Que seja.

Me virei e fui até o quarto. Vesti minhas roupas e meu salto. Coloquei minha bolsa no ombro e andei até a porta.
Olhei para ele que apenas me observava partir.

Me apoiei na porta e sorri.

-Vai ficar tudo bem, Prince.

-Será?

-E por que não ficaria? Você me conhece mais do que eu mesma. Isso é importante para mim, quero que veja pelo lado positivo, agora nós dois estamos juntos, e podemos planejar coisas. Se eu ganhar minha promoção vou receber muito mais, e quem sabe não viajamos para Lisboa como você queria ano passado? Eu preciso ir pra casa, mas não quero ir embora e deixar um clima chato no ar, por isso te dou cinco segundos para vir até aqui, me beijar e abrir o melhor sorriso do mundo, caso contrário me sentirei muito culpada.

Ele olhou para o chão e depois levantou o olhar para mim. Começou a dar passos lentos, com a cara fechada, mas depois logo explodiu um sorriso lindo e acariciou meu rosto.

-Você vai fazer falta. Não acredito que vou maratonar séries sozinho em pleno fim de semana.

-Você não vai morrer.

-Como você sabe?

-Junhoe, você é a pessoa mais dramática que eu conheço, sabia?

-E vai dizer que você não gosta?

Sorrio e dou mais um beijo dele.
A vontade de ficar é grande, mas preciso arrumar minhas malas urgentemente.
Dirigi tranquila até chegar em casa e já corri para meu guarda-roupa.

Escolhi peças para muitas ocasiões, sempre fui paranóica com tudo então me prevenir é um ato diário.

Organizei a mala com alguns pares de sapatos, pertences e objetos pessoais. Por fim, dobrei as roupas e as encaixei perfeitamente.

O resto do dia foi planejar tudo bem em cima da hora. Junhoe ainda veio para cá me ver ficar nervosa com qualquer ligação do senhor Koo me dando informações sobre a viagem.

-Você devia se acalmar. Toma aqui esse chá.

-Eu estou surtando.

-Eu percebi. Toma aqui esse chá.

-Você tem noção? Eu precisava ir mais cedo, vou passar a noite dirigindo. São seis horas de carro, seu pai está me matando.

-Agora ele é seu sogro. Toma aqui esse chá.

-Se me pedir para tomar esse chá mais uma vez eu vou jogá-lo em você.

-Lalisa Manoban, olhe para mim, agora! Você é uma mulher incrível, talentosa e que esperou por esse momento desde que colocou os pés naquele escritório. Eu não permito que você não aproveite essa oportunidade da melhor forma. Portanto, tome aqui esse chá que fiz com toda a paciência do mundo, respire e aproveite a viagem.

Encostei minha testa no seu peitoral e respirei fundo.

-Eu te amo.

E ele passou sua mão nos meus cabelos para depois me esmagar num abraço longo.

-Te amo mais, Lili.

Agora eu estava mais calma.
Ele me distraiu falando coisas bobas e finalmente meu maldito chefe me deu as informações exatas de onde eu ficaria, quem seria meu colega de trabalho lá em Atlanta e que eu poderia ir sem dor de cabeça porque ele já tinha organizado as coisas.

Com um "boa sorte, e se cuida" meio entristecido, Junhoe desceu comigo até o estacionamento e depois foi embora.

Eu estava animada demais para sentir uma gota de cansaço.
Já estava escurecendo e eu só estava começando a dirigir.

Se eu não pegar trânsito algum, talvez chegue por volta das três da manhã, e talvez até lá eu fique som sono.
Fui tomando goles de café e ouvindo música o trajeto todo até perceber que três horas haviam de passado.

Por mais que eu ainda estivesse ansiosa, tudo só piorava com milhões de pensamentos passando à 100km/h na minha cabeça.

Como será que as coisas estão por lá?
Vida de jornalista é complicada. Você se arrisca para conseguir boas notícias, escrever sobre pontos interessantes e no fim pode perder tudo se mexer com alguém que não deveria.

Duas e quarenta e cinco da manhã eu cheguei no hotel. Me ajudaram com as malas e me deram as chaves do quarto. Como eu estava me hospedando lá pela primeira vez, eles me perguntaram qual bebida eu gostaria de tomar que seria por conta da equipe do hotel.
Eu apenas recusei e disse que talvez pela manhã gostaria de beber um suco, mas que agora só iria me deitar e dormir.

E sim, foi isso que eu fiz.
Dirigir por longas horas me deixou cansada e dolorida.
As últimas coisas que fiz antes de apagar, foi o despertador e trancar a porta. Me joguei na cama e dormi como se não houvesse amanhã.

Soul Criminal: Red- Vol. I [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora