★ Capítulo 4

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De vez em quando me recordo que eu sou a que escapou.
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Existe um filósofo defensor da idéia que a imortalidade é um bom conceito para demonstrar quem nós somos. Ele diz que o ser humano é tão egoísta que não ligaria de ver todos seus conhecidos morrendo só para ter o prazer de se considerar o único a sobrar. Se somos tão egoístas, qual é o motivo para a generosidade?

Eu nesse instante estou voltando para minha casa com meu amigo, como sempre, como nossa quase inquebrável rotina. Por que quase? Ah, ela também está aqui.

Se grudou em nós na saída e James me impediu de a mandar embora. Eu não sei se não insistir na questão por generosidade ou por simples preguiça de debater sobre algo que vou perder.

- Tchau Fire - ouço a voz de James e acordo do transe, nem havia percebido que já tínhamos andado tanto - Zayn, te ligo mas tarde.

- Claro - minha voz sai baixa e vejo o loiro ir correndo para sua casa demasiadamente grande, eu sempre me perdia por entre os corredores.

- Bom, somos só nós dois - sua voz sai irônica e não resisto em revirar os olhos.

- Por favor - acabo por deixar um suspiro escapar de meus lábios - Sem jogos, estou cansado - digo enquanto puxo a alça da minha mochila.

- Tanto faz - seus dedos vão para seu celular e selecionam uma música qualquer que a faz batucar as mãos pelas grades da rua e imagino que som deve estar inundando seus ouvidos protegidos pelo fone.

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Eu já havia gravado todo o caminho nesses quase três anos. A escola, o posto do Habermas, a floricultura da senhoria de cabelos brancos, o centro da pequena cidade, o parquinho das crianças, mas duas esquinas e minha casa.

Eu já estava no centro e sabia que faltava pouco, nada poderia atrapalhar isso.

- Caralho - sua voz ecoou alta e me virei surpreso - Tem como trocarmos o caminho? - sua voz sai baixa.

- Não, é o único - disse confuso.

- Droga, droga, droga - seus olhos se mexiam freneticamente.

- O que tá acontecendo? - tentei parecer o mais calmo possível.

- Eu não posso estar em qualquer lugar em que ele esteja - ela olha para frente e vejo um rapaz alto comprando sorvete para uma menina ruiva.

- Ele fez algo com você? - infelizmente eu sabia que isso poderia acontecer, vivemos em uma sociedade machista e repressora onde por muitas vezes nem me orgulho de ser considerado homem.

- Não do jeito que está pensando - seus olhos estavam vulneráveis pela primeira vez e depositei minhas mãos uma de cada lado dos seus ombros - Só me….

- Fire - uma voz rouca grita seu nome e vejo seu corpo se encolher e voltar ao normal em um longo suspiro.

- Oi Noah - sua voz sai baixa junto de um sorriso forçado - sua amiga? - ela ri e leva a mão até a da ruiva.

- Namorada - a ruiva disse calma e apertou a mão de Fire.

- Felicitações ao casal - ela diz sorridente e segura em minhas mãos, entrelaçando nossos dedos.

- E ele é ? - o rapaz pergunta com o maxilar um pouco endurecido.

- Meu namorado - as palavras saem tão suaves de sua boca ao contrário do engasgo que tive, que me levou a tossir sem parar - Está tudo bem amor? - suas mãos vão ao meu rosto e meu olhar se encontra ao seu pegando fogo.

- Que merda é essa que tá acontecendo aqui? - sussurro em seu ouvido como se estivesse me recuperando.

- Por favor, eu durmo na rua hoje se você quiser - sua voz sai mais baixa que a minha - só não me desmente.

- Desculpa, tenho alergia a poeira - digo sorridente consertando minha postura - Então de onde conhece minha menina? - coloca uma das mãos por cima do ombro de Fire.

- Nós terminamos nosso namoro faz 4 meses - ele diz rindo e sua namorada sorri.

- Acho que essa parte não havia me contado, bebê? - Olho para a pequena que se encontrava vermelha.

- Eu não queria parar nossas fodas para contar sobre meu ex - ela diz tão convicta que por instantes até eu acreditei.

- Podíamos jantar, os quatro. O que acha, Fire? - A voz do moreno ecoou pela calçada, enquanto seus dedos faziam carinho no ombro de sua ruiva.

- Já tenha compromisso - eu poderia concordar com ela, mas isso seria tão fácil. Lembra do filósofo e da sua crença do egoísmo humano, nesse instante eu tive certeza. Apreciar essa fatalidade me parecia bem melhor que fazer as lições de matemática.

- Podemos desmarcar - digo sorridente para Noah - Nós vamos.

- Será ótimo - ele sorri - No restaurante chinês às 20h - sua voz sai abafada pelos passos a se afastar de nós.

- Que porra de merda você tem no caralho dessa cabeça? - suas mãos vão ao meu peito depositando um tapa.

- Eu achei que seria divertido para ti conversar com ele - minto.

- Claro seu egoísta de merda - ela começa a andar e tive que correr para conseguir acompanhá-la- - Ele fode com o psicológico de todas que passaram por ele e eu saí ilesa sabia?

- Não parece tão ilesa se está toda nervosa para ir jantar com ele - pela primeira vez poderia a tirar de seu trono.

- Eu o traí com o seu melhor amigo - ela passa as mãos pelo cabelo - Eu me arrependi, terminei com ele e nenhum dos dois o contou. E agora você vai me fazer estar com ele.

- Podemos não ir - digo calmo tentando fazer a culpa não me invadir.

- Para - seu tom de voz sai mais alto - Encara as consequências de seus atos - sua voz sai convicta - Nós vamos a esse jantar e você vai ter que ser o melhor dos namorados se não eu acabo com sua vida.

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