⌲ Taehyung - Especial

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"Eu tenho te amado por mil anos

Eu vou te amar por mais mil"

A Thousand Years - Christina Perri

   O garoto com a aparência de seus vinte e um anos vagava pelas matas do norte, acompanhando o passo a passo de sua próxima vítima. Sem fazer nenhum barulho, ele se aproximou, segurando a menina com os braços colados ao corpo, impossibilitando que a mesma fizesse qualquer movimento.

   Ele aproximou seus lábios finos e frios do pescoço quente da jovem - que sentiu um arrepio percorrer seu corpo dentro de suas veias -, primeiro sentindo o cheiro doce do sangue AB positivo, e depois, passando as pontas afiadas de suas presas sobre a pele fina. Sem ter pressa de desfrutar de seu alimento, Taehyung deixou que seus dentes entrassem aos poucos na derme da menina, o que fazia com que ela sentisse mais dor durante o processo, urrando de desespero, tentando inutilmente se soltar. 

    Assim que a combinação sanguínea chegou ao paladar do vampiro, seus instintos aguçaram-se, o fazendo desejar por mais, puxando mais uma dose do sangue alheio, sugando pouco a pouco a vida da menina, que ficava cada vez mais fraca em seus braços, se entregando à própria morte.

   Minsoo foi deixada no chão, entre as árvores, como se ela não passasse de mais um animal da floresta, que não merecia nem mesmo ser enterrada. Sem sentir remorso algum, ele a deixou lá, enquanto via seus fios de cabelo serem bagunçados pelo vento, chorando internamente por não poder mais sentir aquela brisa que antes era a melhor coisa para ele.

   Taehyung sentia tanta falta de sua humanidade, das coisas simples que vivia sem dar o devido valor, e que hoje se tornaram suas pérolas preciosas, que só existem em sua memória. E dela... como ele sentia falta dela.

   Ainda se lembrava de como se embriagava com o cheiro de cerejas que sempre estava em sua pele, graças aos perfumes que sua mãe fabricava.

Hoje ele via o quão estúpido foi,

hoje ele sabe que aquela foi sua pior escolha, 

hoje ele abriria mão da eternidade por apenas um dia 

um dia com ela.

   Com exatidão, o Kim ouviu os gritos daquela noite ecoando com os ventos nas folhas das árvores, se recordou de como queria parar e de como era incapaz de controlar qualquer um de seus novos instintos. Aquilo era tão massacrante para si, maldita ganância!

   Enquanto sentia aquela ira por ter sido egoísta no passado distante, Taehyung nem se deu por conta que estava socando a mais velhas das árvores, aquela que tinha a casca larga pelos mais de duzentos anos na terra, mas que diante de sua força parecia um graveto. Só percebeu quando sentiu um cheiro muito familiar próximo, se surpreendendo ao ver uma cópia de sua amada perto de si.

   Ela era como o espírito daquela que um dia ele teve por perto, o brilho nos olhos era tão parecido, os cabelos com o mesmo caimento, ela só estava em outras vestes, era como uma reencarnação. Sem pensar, ele se aproximou, segurando o rosto dela entre suas mãos, procurando qualquer um detalhe que fugisse aos dela, porém todos estavam ali, diante dos seus olhos.

— Voltaste para mim, meu bem— sussurrou, sentindo o calor das bochechas em seus dedos longos.— Os dias tem sido tão cinzas sem ti, tenho vivido uma consternação eterna enquanto esteve longe. Perdoe-me, eu imploro à ti, perdoe-me, fui tão cego, tão egocêntrico... Ah, amada minha, como sinto tua falta— confessou, encostando a testa sobre a dela, sentindo a respiração quente bater contra seu rosto.

   Depois do que viu, a menina sentia seu consciente implorando para que ela desse um jeito de fugir, aquela força, a temperatura corporal do ser em sua frente, não podia ser humano. Mas seu subconsciente a fazia permanecer ali, era como se ela o conhecesse, como se já o amasse desde o início dos tempos.

   Por mais que não soubesse ao certo, ela continuou ali, deixando que o outro confessasse seus pecados, seus traumas, seus medos, tudo o que ele tinha guardado por todos aqueles anos que não tinha ninguém para o ouvir. Agora, Taehyung sabia se controlar perto de criaturas com sangue quente, não atacava sempre que sentia vontade, e foi isso que permitiu que ele passe a madrugada inteira junto com o nascer do sol junto aquela que era seu maior sonho.

   Como tudo podia ser tão igual? Ela possuía tudo, exatamente tudo, desde as mechas mais claras no meio do cabelo, até a marca que lembrava uma flor perto do pé esquerdo, era tudo tão real. Quando os raios do sol começaram a ficar mais intensos, ele tinha que ir, logo sua pele queimaria como chamas.

   Ele a imploro para que voltasse na próxima noite, dessa vez mais cedo, no mesmo lugar, ele não conseguiu dizer tudo o que precisava. Ela concordou, prometeu que ia voltar, que iria ficar com aquele quantas noites fossem necessárias para que ele tivesse paz.

   Depois quatrocentas e cinco noites se encontrando, sob a luz da lua, trocando beijos depois da ducentésima segunda noite, ele tomou a decisão de descer um pouco mais as mangas do vestido branco da menina, para que a clavícula ficasse exposta. Quando viu as marcas de mordidas cicatrizadas por toda aquela parte, suas mãos tremeram, o coração que nem batia mais se desesperou, eram os mesmos lugares.

Os mesmos lugares que ele mordeu antes de a matar por completo.

— Há algum problema, meu bem? Estás ainda mais pálido.

— És realmente ela— ele sorriu, se sentindo vivo por ter lágrimas em seus olhos puxados.— Tu realmente voltaste para mim, depois de mais de cem anos — segurou o rosto delicado com uma das mãos.— Perdoe-me, por ter marcado tua pele de maneira tão cruel— passou as pontas dos dedos por todas as marcas aparentes.— Mesmo eu não merecendo, tu voltaste.

   Taehyung a abraçou com força, aproveitando o calor daquele corpo que atraia o seu.

— Amo-te mais do que a mim mesmo, e prometo-te, nunca mais vou lhe ferir, em todas as suas voltas vou atrás de ti, em todas elas vou pedir-lhe perdão por isso, e nunca mais tornarei a te marcar assim — ele a beijou, sentindo paz em seu interior. 

   Naquela vida ela permaneceu por mais sessenta e um anos, voltando para debaixo da terra quando seu corpo completou oitenta e dois anos. Com muita dor, Taehyung se despediu, mas alegrou-se com a possibilidade de que ela voltasse em um século, talvez um pouco mais, quem sabe um pouco menos.

   Ele esperou pacientemente todos aqueles anos, e quando ela apareceu novamente na metade do século dezesseis, ele se encheu de alegria de novo, já mais moderno lhe conquistou outra vez, era o destino, eles ficarem juntos.

   E assim, século após século, a história de amor se repete, ela volta dos mortos para viver vinte e dois mil, duzentos e setenta e oito dias com ele.

Vocabulário:

Consternação* - grande perturbação e 

quebra de ânimo, desalento;

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17/11/2018

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Me perdoem a demora, mas não se preocupem

nem que eu poste um capítulo por mês, vocês vão

ter esse especial.

Porções de Paixões ✧Where stories live. Discover now