Prólogo

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Eu comecei uma piada,
Que fez o mundo inteiro chorar.
(I Started a Joke - Bee Gees)
Julia

Ser advogada criminal é uma profissão que me faz viajar para todos os lugares onde haja um cliente precisando de mim. Isso faz, por exemplo, que eu saia do frio de congelar a bunda de Anchorage para o calor infernal de Las Vegas. Do tribunal para um hotel famoso da cidade, simplesmente porque o cliente ofereceu que eu ficasse nessa propriedade enquanto eu estivesse aqui para acusar o pai dele. O sorriso no meu rosto não é só pelo fato de ter ar condicionado no quarto, mas também por eu ter uma noite livre em Vegas.

Não lembro da última vez que tive uma noite livre. Mentira, lembro sim, e acabou comigo chorando no ombro do meu colega, agora sócio, francês e limpando nariz no ombro do meu outro colega e também sócio. Por falar neles...

— Oi Julia. — os dois me cumprimentam na chamada de vídeo. — Oh, uau. Foi esse quarto que reservei para você?

— Oi francês. Não, o que você me reservou já estava ocupado, então, quando viram que eu podia processa-los, fui colocada na única suite disponível. Vocês sabiam que a suíte presidencial tem uma banheira do tamanho de uma cama king?

O Oliver, o outro colega, balança a cabeça.

— Você e a sua sorte eterna. Vê se não abusa dela e acaba sendo perseguida por outro agiota, certo?

— Ei, não foi minha culpa. Eu só ganhei tanto que alguém precisou dele para me pagar, e ele foi direto pra quem estava com o dinheiro. E eu consegui colocá-lo na prisão, vocês lembram disso? Foi quando eu fiquei famosa.

O Pierre revira os olhos.

— Sim, chérie, nós lembramos. Só tome cuidado. Você é uma coisinha pequena e especial, nós te amamos e só queremos você bem.

O pior pesadelo de algumas pessoas é trabalhar com o ex. Considerando alguns dos meus, de fato é, mas não com o Pierre e o Oliver. Terminar relacionamentos só nos juntou mais, e o Oliver gostou disso tanto que trabalha com isso, apesar de ser muito bem casado com a minha melhor amiga. O Pierre e a noiva brincam comigo o tempo todo sobre coisas do nosso relacionamento, e eu... digamos que eu não tenho a sorte deles com relacionamentos.

Pensar nisso me deixa triste por três segundos. Aí eu lembro que tem bebida de graça pra mim no bar lá embaixo, e pulo da cama. Não trabalho até o meio da tarde amanhã, que é quando volto pra Atlanta, por isso aproveito. Dançando como se o mundo fosse acabar, impulsionada pela força da bebida, nem percebo que algumas pessoas me olham. Quando vejo, saio tropeçando para o bar, envergonhada. E quando digo tropeçando, quero dizer realmente. Tropeço na ponta do salto de uma menina que esticou o pé no corredor, e caio de quatro no chão.

Levanto depois de uma curta crise de riso, cortada por um cara que pisa na minha mão. Me levanto, a mão doendo um tanto, e resmungo um xingamento. O cara vira pra trás e franze a testa. Aí ele abaixa o rosto e me encontra.

— Foi em você que pisei?

— Na minha mão. — flexiono ela, tentando espantar a dor.

— Eu sinto muito. Me permita te pagar uma bebida como pedido de desculpas.

Aceito. Se eu já não estivesse bêbada, odiaria o gosto do que ele pede, mas estou fora de mim o suficiente para não me importar, e ele está como eu.

— Qual é o seu nome? — ele grita sobre a música, mais alto que faria sóbrio.

— Julia. Julia Rutherford.

— Dustin McReynolds, sou cantor.

Dou risada. Com certeza ele não é o Dustin McReynolds, o cara no cartaz da Las Vegas Boulevard. Deve ser só um cover.

Quando em VegasWhere stories live. Discover now