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E se eu pudesse te abraçar,
Você me impediria de afundar.
(Bruises - Lewis Capaldi)

Dustin

Já fazem doze dias que estou com a Julia aqui. Há onze não consigo dormir direito, e sei que só dormi no primeiro porque ainda estava sendo sedado. Ela não teve uma única reação maior que os apertos na minha mão, que os médicos disseram ser espasmos. Chorei por uma hora quando ouvi isso. A essa altura do campeonato, mais choro que faço qualquer outra coisa.

Sentado na cafeteria, engulo pedaços de um salgado frio e um suco aguado. O sabor de ambos é horrível, mas não é pior que não receber respostas da Julia. As irmãs dela estão de volta às vidas nas suas casas, me ligando todos os dias para acabarem decepcionadas pela falta de notícias, e os sócios estão segurando as pontas para a minha mulher com os clientes novos e antigos, além de cuidarem do próprio trabalho, então estou sozinho com as minhas lágrimas.

Sei que meus olhos não ficam sem um monte de lágrimas. Sei que algumas escapam. Só que a dor é tamanha que não sei me importar por não conseguir manter minhas blusas secas.

— Dustin? — a mesma enfermeira de sempre chama. Ergo o olhar, esperando que arranque o meu coração do peito. — Há uma visita para a Julia que você precisa acompanhar.

— Já autorizei todo mundo, Anna.

— Sim, mas é um prisioneiro do estado do Nebraska. Ele tem autorização de um juiz, mas a medida de segurança do hospital pede que ela não esteja sozinha.

Um prisioneiro? Será que algum dos clientes dela veio visitar? Com medo, ando até mais devagar em direção ao corredor, então vejo. Terrance Mike Rutherford, sentenciado à cento e vinte anos de prisão por matar e esquartejar uma família inteira e deixar os corpos secando no Sol, roubar o dinheiro e as joias da família, tudo por causa de uma briga boba, e, para completar, sair dessa casa com outra criança no carro para fugir do estado.

— Você é o Dustin? — ele me pergunta curioso.

Porra, ele sabe meu nome. Respira. Está tudo bem. A Julia não conviveria com ele se fosse realmente perigoso.

— Acredito que você seja o Terry.

— Você sabe muito bem quem sou, garoto. Está na sua cara. Foi você quem casou com a minha garotinha?

Meu instinto é negar.

— Não.

— Não? Você é quem então?

— Eu... eu... sim, fui eu que casei com ela. Se sou o marido ou não, terei que esperar ela acordar pra ver se... hm... se ela ainda me quer.

— Eu sei que você fez merda com ela, garoto. Ela falou. Se está aqui, porém, é porque se arrependeu, e aquele sócio dela disse que você até passou mal com a notícia. Você está tremendo?

— Hm? Eu? Não.

— Eu não vou te machucar, e é melhor relaxar, porque eu não posso sair para procurar ajuda. A Julia ficaria triste se você ficasse mal. Então, cadê ela?

Ele mal passa pela porta, de tão grande que é. Como a Julia veio disso, eu não sei. Um policial entra com ele, e eu faço uma oração a São Ciríaco que me proteja antes de entrar também.

— Eu nunca vi minha menininha tão calma, e isso me dá as piores sensações.

— Diga-me mais sobre isso. — sento na minha poltrona, fingindo estar tranquilo, e só olhar para a minha mulher já me faz querer chorar.

Quando em VegasDär berättelser lever. Upptäck nu