CAPÍTULO 5-MAURÍCIO VOLTA AO CATIVEIRO

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Maurício  encostou-se na porta do velório, que ficava dentro do cemitério municipal e retirou um cigarro do bolso.

_Não acredito que você vai fumar aqui, Maurício!_protestou a ex-esposa.

Ela era médica obstetra, 45 anos, bonita, alta, morena, cabelos escuros nos ombros e olhar autoritário. 

_Por quê? Medo de matar os donos da casa de câncer de pulmão? Isso é um cemitério e não a sua maternidade!_ironizou amargo.

— Você não precisará de um tiro pra arrebentar a sua vida. O cigarro ou a bebida farão o serviço._bufou achando a atitude dele desrespeitosa para o momento.

— Marta, dá um tempo! Deixe o sermão para outra hora, porque o meu  chefe está na sua frente e olhando diretamente pra nós dois!

Marta e ele ficaram casados por doze anos, até que notaram que a relação dos dois já se tornara uma amizade entre irmãos e que não havia mais por que dividirem a mesma cama. Agora a médica vivia em seu próprio apartamento, mas não perdera a mania de cuidar do ex-marido como se ele ainda fosse um jovem sem juízo.

— Eurides me contou a enrascada em que você se meteu deixando o seu alvo fugir, não avisando a central, indo para um boteco e enchendo a cara..._ela metralhou sem tomar fôlego.

— Ok, pode adiantar o serviço e me matar, antes que o meu chefe o faça! Talvez eu realmente mereça!_disse antes de tragar a metade do cigarro de uma só vez!

— Foi por causa dela, não foi, Maurício? Ela era a mulher da sua vida mesmo quando você estava comigo, fingindo ser um homem de família. Realmente só algo como a morte de sua amante para você ter esse vacilo de deixar a presa fugir e não informar a ninguém!

— Vai à merda, Marta! 

Afastou-se  dela nervoso. O corpo de Elias já descera à cova. Estavam liberados.

Marta o acompanhou  arrependendo-se de pegar tão pesado com ele naquele momento tão delicado.

Ele abriu a porta e entrou no carro. Ela entrou ao lado dele. Talvez devesse ter ido no próprio carro, mas ele a chamara para acompanhá-lo ao enterro do colega que também fora padrinho de casamento dos dois.

Maurício escorou a cabeça com a mão, enquanto dirigia o carro. Os dois seguiam em silêncio pelo centro da cidade, quando ele se lembrou de algo que o fez se endireitar no banco e acelerar um pouco.

— Se importa se a gente fizer um desvio rapidinho? Só preciso passar num lugar e depois a gente pode ir almoçar. —avisou Maurício muito sério.

Desde a manhã procurava o distintivo e não o encontrara em lugar algum. Finalmente teve que admitir que só podia tê-lo deixado cair no barraco onde deixara o rapaz, quando jogara ele de um lado a outro pelo quarto e chegara quase a tombar ele próprio no chão nos movimentos violentos que fazia.

Imaginar os colegas saindo em perseguição, encontrando o lugar, achando o seu distintivo e imaginando o que tinha acontecido naquele lugar tão suspeito poderia deixar Maurício em maus lençóis, reconheceu.

Preferira não contar a ninguém o que acontecera na véspera, nem ao parceiro.

Se complicaria mais ainda se dissesse que, num primeiro momento, prendera o assassino naquele casebre para terminar o serviço depois.

Como diria que o deixara em condições de fugir e matar Elias, policial e pai de família exemplar, deixando Vanda viúva e seus filhos órfãos?

VOCÊ ME PERDOA, AMOR?-Armando Scoth Lee-romance gayWhere stories live. Discover now