CAPÍTULO 11-MARTA ATORMENTA JOÃO!

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— Quer dizer que eu vou ter que me lembrar de te chamar de João, de agora em diante? — perguntou Marta preparando o jantar.

— Eu não sei se ele ouviu o Eurides chamar o meu nome naquele dia. Seria suspeito demais eu ter o mesmo nome do policial que o atacou._esclareceu Maurício visivelmente constrangido diante da ex-esposa.

— Deveria ter dito a ele que o ajudará a realizar a vingança contra os agressores dele...isso sim seria bem cínico de sua parte, Maurício...quer dizer...João! 

Ele não falou nada...não havia nada que pudesse falar para minimizar a monstruosidade que fizera!

_Sabe o que não me sai da cabeça?_Marta voltou a falar, bem em frente a ele, olhar acusador._ A quantidade de julgamentos prematuros que as pessoas fazem e aí descarregam todo o seu ódio, muitas vezes, sobre um inocente! Muitos linchamentos acontecem assim! Nem esperam as investigações e escolhem um pra Cristo e aí detonam o infeliz sem dar a mínima chance de defesa! Lembro-me de um caso de uma mulher que voltava da igreja com uma Bíblia nas mãos e foi confundida com uma sequestradora. A população uniu-se para agredi-la! Quando o marido e as filhas pequenas conseguiram convencer os monstros de que havia um engano ali, ela já estava morta!

Ele poderia relatar a ela centenas de casos que os colegas relatavam e que, muitas vezes, nem vinham a público! 

_Talvez a capacidade dos seres humanos jogarem inocentes "na cruz" já estivesse  no DNA da humanidade quando você agiu desta mesma forma, mas eu nunca vou lhe perdoar por isso...nunca!_ela protestou raivosa.

Ele queria gritar que também nunca se perdoaria por tudo aquilo, mas sabia que ela não acreditaria...ela ainda não o via como João/mudado/transformado/arrependido/maltratado pelo remorso/apavorado de pensar ser o pai daquele rapaz/torturado por saber que não teria como ser perdoado por Daniel...nunca!

Marta, a obstetra que fora a sua esposa um dia, não estava disposta a parar antes de esgotar todo o seu "arsenal"!

_Talvez alguém venha pensar que o certo agora seria o próprio Daniel tomar para si a vingança contra você, mas nada me tira da cabeça que se fizer isso...te espancar e te deixar pra morrer num barraco fodido no meio do deserto...atacado por moscas, morrendo de fome, sede...desamparado...só o fará se tornar uma pessoa tão podre quanto você! João..._disse com escárnio, antes de virar-se para continuar o que fazia._ Coitado do meu sogro, deve estar se remexendo no túmulo ao ouvir que o filho o homenageou no meio de toda essa atrocidade e agora esconde-se atrás de seu nome!

— Acho que se chutar as minhas bolas te deixará mais satisfeita. — resmungou Maurício cansado.

— Sabe que eu não tinha pensado nisso? Talvez você tenha razão. — disse Marta ironicamente. — Ele teve febre novamente na minha ausência?

— Um pouco durante a noite e um pouco por volta de meio-dia...durando uma hora, mais ou menos...Acha que ele está piorando?

— Acho que ele está atormentado o suficiente para ter uma febre emocional, pois quero acreditar que a bomba de antibióticos que eu estou administrando possa dar conta do recado. O ombro parece melhor...pelo menos não cresceu mais nenhuma larva no local...acredito que uma infecção ali, sem os devidos cuidados, poderá inclusive levar à amputação do membro!

Ele achou que ela já estava exagerando quando àquele diagnóstico. Olhara a ferida...ela tinha uma boa aparência...tinha certeza de que o risco estava eliminado.

— Marta, dê um tempo...ainda não acredita que eu nunca vou me perdoar, que eu me arrependo, que eu já me martirizo cada vez mais quando olho pra ele ali, prostrado numa cama, agonizando a cada mínimo movimento, sem poder nem estar num hospital, tirar uma radiografia daquelas costelas, daquele pé...sem saber se ele vai sobreviver ou se eu vou ter mais uma morte nas minhas malditas costas? — berrou Maurício jogando um copo de vidro na parede e o espatifando.

VOCÊ ME PERDOA, AMOR?-Armando Scoth Lee-romance gayOnde histórias criam vida. Descubra agora