CAPÍTULO 9-DANIEL JURA VINGANÇA!

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O policial achou que aquela noite nunca mais fosse terminar, pois o pesadelo era insuportável e real! Imaginou que se realmente houvesse um purgatório, aquele era o dele!

— Tenho sede...água, por favor...tenho sede...

Num dado momento, ele já não sabia mais se estava ouvindo coisas, ou se Daniel realmente falava com ele!

O tempo se arrasta quando a pessoa sofre, concluiu. Parecia estar naquela situação há dias!

Mais tarde, a voz de Daniel sobressaltou o policial que cochilara exausto  na cadeira da varanda.

O dia resplandecia e ofuscava suas vistas quando ele abriu os olhos assustado. Dirigiu-se com urgência para o quarto.

Quantas horas seriam? Ele não sabia, pois perdera a noção de tempo e espaço! Podia jurar que não saíra do quarto e viera para a varanda!

Droga! Sabia que estava exausto, exaurido de tanto sofrer, se martirizar pelo arrependimento e pela culpa, mas não podia ter dormido! E se ele tivesse se agitado um pouco mais e tivesse caído no chão?...repreendeu-se!

— Beba devagar... — advertiu levantando a cabeça de Daniel com cuidado. — Beba pequenos goles ou poderá se engasgar.

Tocou a testa de Daniel. A febre havia baixado. O relógio marcava nove e quinze e o remédio das oito e trinta estava atrasado. Administrou a droga devagar.

— Tome...é um pouco de leite...você precisa tentar se alimentar... — aconselhou oferecendo o copo ao rapaz.

A operação era lenta e dolorosa, pois os lábios estavam muito machucados.

— Obrigado. — disse Daniel devagar antes de se deitar com o que pareceu uma careta de dor.

O silêncio incômodo invadiu o quarto.

— Você me encontrou naquele lugar?

— Na verdade, eu, João,  e minha ex-esposa Marta o encontramos. Ela é médica e cuidou de você. Disse que você vai ficar bom logo...é só ter paciência.

Novamente um longo silêncio. Havia pensado em como falar e do que falar para não levantar suspeitas sobre a sua verdadeira identidade.

— Você teve sorte de ter sido encontrado. O local é afastado e talvez levasse um longo tempo até que alguém passasse por lá. Felizmente, nós dois tínhamos saído caminhando e aí...a nossa curiosidade nos fez nos aproximarmos...ouvimos você lá dentro...arrombamos a porta...o trouxemos pra cá... —João parou, pois não sabia se ele ouvia. — Daniel? Você ainda está acordado?

— Não...é o que eu mais queria fazer, meu amigo. Acordar. No momento, me sinto dentro de um pesadelo monstruoso...não tem ideia do que eu passei...não tem ideia...talvez fosse melhor que não tivessem me encontrado, porque não me sinto vivo, mesmo agora, não me sinto inteiro. Me sinto...me sinto num inferno interminável...Deus...Deus...

Novamente o silêncio tomou conta do quarto e João se sentia cada vez mais oprimido pela dor do arrependimento. Não sabia mais o que dizer...por que Marta não estava ali, droga? Ela tinha mais jeito para essas coisas!

— Não quer me contar como foi parar ali? — disse o policial sem saber mais o que dizer e imaginando que era o lógico para fingir ser um estranho.

Não foi preciso insistir, pois o rapaz parecia querer desabafar.

— Minha mãe costumava receber aqueles caras em  casa. Primeiro dizia que era para me criar, me dar comida, pagar  médicos, os estudos...mas depois eu notei que era por prazer mesmo...mas eu tentava não  criticá-la, pois  eu a amava. Confesso que, nos últimos anos,  ela se limitava a receber apenas dois caras que ela nunca deixava que eu visse e confesso que eu não me esforçava para me encontrar com eles. A gente não quer encarar os homens que transam com a nossa mãe e depois vão embora e a deixam ali, com algum dinheiro e nenhuma dignidade. Ela me aceitava junto com o meu parceiro...o Cléber...camarada de três anos de relacionamento...o meu Cléber...o meu...

VOCÊ ME PERDOA, AMOR?-Armando Scoth Lee-romance gayOnde histórias criam vida. Descubra agora